quarta-feira, 5 de setembro de 2012

" Quem tem ouvidos para ouvir..."




As duas senhoras estavam sentadas ao meu lado a conversar sem qualquer preocupação que as ouvissem.
Conversaram de coisas muito variadas, como é natural, mas acabaram por centrar a conversa na família e preocupações de momento.
Mesmo que quisesse, não podia deixar de ouvir os seus lamentos e troca de impressões àcerca das sobrinhas, tão bem educadas pelos pais e tão desatentas aos seus conselhos.
Às tantas, a mais nova, levantou-se num ímpeto e disse: "Olha, sabes que mais? Quem tem ouvidos que oiça!"... e saiu sem mais comentários.
A outra ficou, bebendo o seu chá e eu fiquei também, com o meu livro aberto mas sem ler.
Aquela frase não era original. Já a ouvira e lera muitas vezes no Evangelho...Mas achei graça ao ouvi-la ali tão fora de contexto e tão a despropósito. Ou talvez não!...
Realmente não há maior surdo do que aquele que não quer ouvir. Surdo, quando não se aceita um conselho que nos dá um amigo, quando se ignora a advertência de alguem que nos quer bem, quando não ligamos a um pedido que nos é feito, quando não atendemos à experiência dos que viveram mais do que nós.
Porque seria que aquelas jovens não ouviam os conselhos que as tias consideravam tão oportunos e necessários?
Culpa das jovens, "surdas" aos conselhos e opiniões ou culpa das tias que não estavam atentas às inquietações actuais daquelas jovens bem como às suas necessidades e linguagem? 
No Evangelho, Jesus está a referir-se àqueles que não querem entender a mensagem que lhes dirige, mas esses somos nós. Tantas vezes temos o coração fechado, a mente incapaz de traduzir em sentimentos as palavras que ouvimos, os textos que lemos.
A mensagem de vida nova que Jesus nos dirige, não é directa, talvez!
É preciso então estar disponível, estar atento, para ver além do imediato, entender o sentido que se esconde por detrás de palavras que parecem simples e directas.
É que a mensagem de Jesus é-nos dirigida ao coração e não à mente; é orientada para o nosso ser  e não para o nosso fazer. É preciso olhar para além do que vemos e entender o que o Pai nos segreda, se estivermos vazios de intenções e apenas atentos à inspiração de momento.
Será que aquelas tias tinham o modo certo e a palavra adequada para abrir o coração das sobrinhas de maneira a que elas descobrissem a Verdade que as palavras encobriam?
                                            Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 
 
 
 

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