sexta-feira, 29 de maio de 2015

Branco e negro

Tenho um hábito branco coberto com uma capa preta, símbolo da Ordem a que pertenço e testemunho do compromisso que, há anos, fiz com o Pai.
Não o tiro senão quando no Verão vou para a praia. E andei sem ele um dia, no Abril de 74. Eu ia a uma reunião de professores a Lisboa e as madres tiveram medo. A "revolução dos cravos" tinha apenas alguns dias...
É com gosto e respeito que, cada manhã, envergo a túnica branca, coloco o cinto e o rosário, associo o escapulário e completo com o véu preto. A capa fica para sair, no tempo frio, e para algumas cerimónias.
Sinto-me apóstola e "pregadora". Reconheço a grandeza duma Ordem que vem  do  sec. XIII; verifico o quanto importante foi e é a expansão da Verdade pelo mundo e apercebo-me do peso do testemunho que é preciso dar.
Os Dominicanos são homens e mulheres como os outros, com as suas aspirações e os seus sonhos; as suas dificuldades e fraquezas; a sua tradição e as condições actuais... Mas fizeram um compromisso e assumiram uma responsabilidade.  Como filhos de S. Domingos têm que ser fiéis ao Evangelho e testemunhar a Verdade que é o lema que o fundador lhes deixou.
" O hábito não faz o monge" é verdade! Mas é o testemunho duma realidade assumida, duma vida vivida e partilhada, duma pregação que se faz mesmo em silêncio.
Tenho um hábito branco... o mesmo que toda a Ordem usa e é um legado dos primórdios da Fundação. Branco, símbolo da pureza do nosso coração; negro, porque a penitência faz parte das nossas vidas.
Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

"responder é o que importa..."

Impressionante o fado que ouvi enquanto vinha de Lisboa, pensando nos "amores e desamores" da vida, nas inquietações e dificuldades que nos esperam, nas alegrias e perspectivas que nos acompanham sempre. 
Parei de repente para ouvir bem o fado cuja letra era mais ou menos esta:
Jesus Cristo anda na rua
cansado de mendigar 
a bater de porta em porta.
Bateu na minha e na tua.
Responder é o que importa.
Cuidado não vá chegar
e tu não estares à porta
p´ra Ele poder entrar.
Fiquei sem poder pensar mais nada sem ser nesta letra de fado que bem podia ser tema duma reflexão.
Jesus, de porta em porta, a mendigar o nosso acolhimento. O Senhor que chega e não nos encontra disponíveis para lhe abrir a porta do nosso coração... Mas afinal "responder é o que importa..."
Que mais era preciso para uma meditação séria do que esta canção que é um apelo, uma chamada de atenção, como que um murro dado para acordar mentes adormecidas?
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Dominicanismo

Ser Dominicana é pertencer a uma Ordem de Pregadores. Uma Ordem que tem 800 anos e que se espalhou pelo mundo a ensinar a Verdade do Evangelho, à imagem do seu fundador S. Domingos de Gusmão.
Não podemos deixar que fique esquecida a mensagem que, durante 70 anos, foi a nossa e fez parte da educação que dávamos aos alunos do Colégio e suas famílias.
Por isso, embarcámos este ano numa experiência que denominámos, pomposamente, Dominicanismo.
É importante não deixar morrer o espírito dominicano nas nossas Instituições mesmo quando já não somos nós que as dirigimos.Por isso, aqui no Ramalhão, duas vezes por trimestre, todos os alunos ouvem falar de Domingos, da sua Ordem, das Irmãs Dominicanas, do seu trabalho, etc.. Falaram as pessoas da casa mas também outros colaboradores.
Assim, a Madre Geral veio falar da Madre Fundadora aos alunos mais velhos e a Ir. Angélica Araújo e eu aos mais novos.  A Doutora Helena Ribeiro de Castro e a drª Rute Sousa trataram da questão Educação em Teresa de Saldanha. Depois, era necessário enquadrar tudo isto no contexto Colégio e coube-me falar da História do Ramalhão: casal agrícola, palácio e colégio.
O Frei José Carlos Lopes Almeida trouxe-nos um S. Domingos e uns Dominicanos cheios de actualidade e o Frei José Manuel Fernandes integrou a Ordem Dominicana no contexto da História de Portugal.
Tudo temas mais ou menos generalista que nos deram uma visão global de Dominicanos e Dominicanas, da Ordem e do seu Fundador, dos seus objectivos e das suas realizações.
Mas muito mais há a dizer. Por isso, pensamos continuar para o ano, com novos temas e novos "pregadores". Há muitos outros assuntos que interessa explorar como a Família Dominicana, o Voluntariado Teresa de Saldanha, os Dominicanos e a cultura, o trabalho nas Universidades, a expansão da nossa Congregação, etc.,etc..
Contamos com ideias , projectos e colaboração.
Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Os" ramos "e os pregões de Lisboa...

Olha o raminho da espiga!
Ó freguesa! compre um raminho, que hoje é quinta- feira da espiga...
Ó menina! Olhe que o ramo da espiga dá felicidade...
Eram assim os pregões pelas ruas de Lisboa, no meu tempo de menina.
A pouco e pouco, com maior ou menor insistência, lá iam desaparecendo, dos cestos, os ramos com as espigas de trigo, as papoilas, as hastes de oliveira e os malmequeres floridos.
A quinta feira da Ascensão, no meu tempo de jovem, era até dia santo de guarda. Não era feriado e por isso lá tínhamos que arranjar uma hora para ir à Missa, hora essa que fosse compatível com o resto das obrigações. Enquanto estive no Pedro Nunes, era a Missa da manhã na Estrela; depois, a opção caía na Missa da tarde ou em S. Mamede ou noutra qualquer igreja próxima.
Mas, voltando aos ramos que se apregoavam pelas ruas... o seu simbolismo é de felicidade: as espigas, que são símbolo de pão e de fartura; as papoilas que traduzem alegria; a oliveira que profetiza a paz; os malmequeres, amarelos e brancos, que nos falam do bem e da riqueza.
Acho que actualmente não há estes pregões, pelo menos nas cidades. Talvez até porque a festa da Ascensão do Senhor se comemora agora no domingo seguinte.
Lá fica facilitada a questão da Missa...
Mas na mesma, o simbolismo da alegria. Muito embora os apóstolos, ainda incrédulos e desconcertados tivessem " ficado a olhar para o céu" e Jesus os tivesse repreendido " Homens de pouca Fé...", o facto é que ficou patente a promessa do envio do Espírito Santo.
A missão de Jesus na terra tinha terminado. Aos apóstolos competia agora difundir e proclamar a Sua verdade. Tal e qual como nos compete a nós.
Jesus precisa de nós, de cada um de nós, para continuar a Sua missão. Por isso, nos deu o Espírito Santo no Baptismo, nos renovou os seus dons no sacramento do Crisma e, cada ano se nos apresenta no Domingo de Pentecostes. Não podemos desiludir Jesus.


terça-feira, 12 de maio de 2015

Maio, Maria e o Rosário

Depois duma primeira semana de Maio cheia de comemorações e acontecimentos, no Ramalhão e fora dele, como a festa de S. José operário, o Dia da Mãe, o encontro de Antigas Alunas, o fim da 2ª Guerra Mundial, a adesão de Portugal à U.E., a festa dos Apóstolos André e Tiago,a 1ª Comunhão dum grupo de alunos do Colégio ou a visita de Nossa Senhora do Cabo ao Ramalhão, iniciamos a 2ª semana, com um domingo cujos textos são um incentivo ao amor de Deus.
E para o tempo estar em sintonia com a alegria Pascal, parece que, finalmente, chegou o bom tempo, o sol, a luz, as flores.
Mas, com bom ou mau tempo, Maio é sempre um mês especial.
Há sempre o movimento das peregrinações a Fátima, as centenas de homens e mulheres que se deslocam a pé, para cumprirem promessas ou por simples devoção, as crianças que fazem a sua Primeira Comunhão, os adolescentes que renovam as promessas do Baptismo na Profissão de Fé, os jovens que recebem o Espírito Santo no Sacramento do Crisma...
Mesmo sem querer, todos intensificam a sua oração do Rosário. E eu, como Dominicana, lembro com frequência aquela lenda que apresenta Maria dando o Rosário a S. Domingos, o Rosário tal e qual como o conhecemos hoje, imagine-se... Claro que foram os séculos e a devoção que criaram as imagens.
Mas lenda ou não lenda, a verdade é que desde o sec. XIII os Dominicanos espalharam pelo mundo esta devoção e, nas nossas casa podemos admirar um quadro em que esta lenda é recordada.
E, verdade também, é que desde sempre os pregadores tinham o costume de se fazerem acompanhar, nas suas pregações, por irmãos que ficavam rezando os Pai-nossos e as Avé- Marias, enquanto eles falavam aos que os ouviam.
Estamos em Maio. Com o Rosário ou apenas com algumas Avé -Marias, manifestemos o nosso Amor a Maria nossa mãe.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Maria, Mãe da Igreja e Mãe nossa

Ontem,. dia 7 de Maio, foi o aniversário do meu Baptismo. E é como Baptizada que festejo a Ressurreição de Jesus e a minha Consagração religiosa.
Alias o Baptismo, em que se recebe o Espírito Santo com os seus dons, insere-se nesta quadra que estamos a viver, o Tempo Pascal e em que, pouco a pouco, nos aproximamos da festa do Pentecostes.
Não sei se os meus pais e os meus padrinhos escolheram intencionalmente o mês de Maio para fazer cristã essa menina que era a primeira filha e o elevo de todos. Mas o facto é que aconteceu neste mês consagrado a Nossa Senhora e ela tem, de alguma maneira marcado a minha vida. Até escolhi uma Congregação Religiosa em que Maria e o Rosário têm um lugar privilegiado...
E a propósito, no próximo domingo, vamos ter connosco , durante a Missa, a imagem de Nossa Senhora do Cabo Espichel que anda em peregrinação por Sintra e se tem encontrado na Igreja de S.Pedro.
Esta é mais uma razão para termos presente Essa a quem Jesus, do alto da cruz nos entregou: "Mulher, tens aí o teu filho!".
Jesus referia-se a S. João mas nele englobava todos os Homens que assim se podem dirigir a Maria chamando-lhe Mãe.
Não sei porquê, lembrei-me duns versos de Paul Claudel, dirigidos a Nossa Senhora:
    "Não tenho nada para dar...
     Nada a pedir...
     Venho simplesmente, Mãe para te olhar.
     ... Sabendo apenas isto
      que eu sou teu filho,
      Mãe de Jesus Cristo..."

Ajoelho-me para cumprimentar Maria. De olhos postos nela e os dedos fazendo escoar contas do Rosário, vou murmurando:
                                          Avé Maria, cheia de graça...
                                          Santa Maria... rogai por nós...
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.






quarta-feira, 6 de maio de 2015

Trânsito

Ontem foi o Dia Nacional do trânsito.

Enquanto me deslocava até Lisboa, ao sabor do pára - arranca do IC19, não pude deixar de pensar que, realmente há "dias nacionais" com grande originalidade. Este é um deles.
O que se pretende celebrar afinal? É o muito trânsito, a falta dele ou um processo civilizado de deslocação?
Se é o muito trânsito, o IC19 ou a ponte 25 de Abril, em "horas de ponta" ganham a medalha de ouro.
Se, pelo contrário, é a ausência de trânsito, então é porque, certamente, se procura chamar a atenção para algum acidente ou ameaça de bomba, como aconteceu ontem.
E isto porque, celebrar uma condução tranquila e civilizada , só por brincadeira.
Claro que se compararmos com o que eu vi em Roma há uns anos, em que "valia tudo" em termos de condução, podemo-nos considerar óptimos. Mas, a verdade, é que as estatísticas de acidentes de viação continuam a ser aterradoras e dão-nos razão para perguntar qual a consciência dos nossos automobilistas . E pior, qual o amor à vida, deles e dos outros.
Aqui há anos, lembro-me... em Sintra celebrou-se o Dia Nacional sem carros. Durante 24 horas nenhum veículo, excepto em situações de emergência, se podia deslocar na vila.
E foi uma euforia e um divertimento. Tudo a pé, passeando, fazendo peddy-papers, visitando locais onde nunca se tinha ido. Nós também participámos com as alunas do Colégio.
Acho que foi uma aprendizagem mas... "sol de pouca dura".
Não teve consequências práticas e mesmo já quase ninguém se lembra desse "grande"dia.
Que pena! É assim a memória dos homens...
 Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

terça-feira, 5 de maio de 2015

"Amai-vos..."

Continuamos a viver o Tempo Pascal. Por toda a parte  continuam a soar os alleluias pascais. Mas eles não nos impedem de recordar  a advertência do Senhor:
"Amai-vos uns aos outros como eu vos amei." 
E Ele amou-nos até à morte!
Claro que aqui, os cépticos, são logo levados a perguntar: Mas, o que é o amor?  Assim um pouco à semelhança de Pilatos que também se questionou:..." E o que é a Verdade?"
A Pilatos, Jesus nem respondeu directamente... A Sua vida testemunhava que Ele era a Verdade mas também o Caminho e a Vida.
Aos cépticos, talvez possamos aconselhar a leitura do livro da Bíblia - o Cântico dos cânticos. Ele é um autêntico hino de exaltação ao Amor.
Ao amor humano dirão...
Talvez! mas certamente com toda a incidência e o reflexo do Amor divino na busca, na procura daquele que se ama. E esse que temos que procurar é Jesus, Ele que é o Amor por excelência. E temos que O procurar sem dúvidas, sem desânimos, à luz do dia e no silêncio da noite, tal como a esposa do Cântico dos cânticos procura o seu amado.
É uma procura que é uma dádiva, um compromisso e que nos leva a seguir um caminho com um único sentido, o que nos conduz ao encontro do Pai.
"Pôr a mão no arado e olhar para trás..." É incompatível com a dádiva, o compromisso, o Amor.
Ir. maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.



segunda-feira, 4 de maio de 2015