sábado, 28 de fevereiro de 2015

A caminho


Não pròpriamente da "terra prometida" mas da grande alegria da Ressurreição.
Faltam cinco semanas, porque chegámos ao fim da primeira semana da Quaresma. Esta começou no Domingo passado mas a sua preparação próxima é uns dias anterior. Iniciou-se na 4ª feira de cinzas com a cerimónia da imposição das cinzas, uma cerimónia sempre impressionante pelo seu grande simbolismo.
" Lembra-te ó homem que és pó !..."
Pó, na sua primeira realidade, quando Deus o criou do " pó da terra"; Pó... quando deixar a sua habitação terrestre para ir ao encontro do Pai.
Mas todo o simbolismo do pó tem uma dimensão muito mais alargada do que a realidade imediata da terra que pisamos ou da areia que o mar toca na praia.
Todo este simbolismo pretende centrar a nossa atenção na fragilidade do nosso ser, nas nossas deficiências, na nossa miséria humana.
Por mais perfeito que fôssemos ... e não somos!... havia sempre  algo a  corrigir, algo a  modificar, algo  a melhorar. Porque ainda temos uma caminhada a fazer para a perfeição, serão os nossos erros, as nossas faltas, os nossos conflitos internos que vão ser a matéria para o nosso trabalho quaresmal, a nossa preparação próxima para a Ressurreição. São eles o pó que 4ª feira de cinzas nos tornou presente. O pó que é triste, desprezível, sujo mas que é possível de ser levado pelo vento e deixar branco e limpo o nosso coração. É "o rasgar do nosso coração mais do que das nossas vestes" como sublinha o Papa Francisco, a mudança da nossa vida, a reestruturação dos nossos objectivos ,que constituirão o nosso jejum e a nossa mortificação quaresmais.
Preparemos assim a alegria da manhã de Páscoa.
                      Ir, Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Variações

É engraçado como a disposição das pessoas segue o paradigma do tempo: tão depressa está sol como se apresenta nublado; de repente chove "a cântaros" e a seguir um dia soalheiro; num instante a brisa suave se transforma numa ventania impetuosa.
Também nós, com a mesma facilidade com que sorrimos de felicidade, mostramos no momento seguinte um semblante carregado e tristonho.
E por quê? podemo-nos perguntar...
Qual a razão de não ser sempre a mesma a nossa disposição , dia-a-dia, momento a momento?
Talvez porque nos deixamos influenciar demasiado por tudo o que nos rodeia: as pessoas, as coisas, as opiniões, as circunstâncias...
Talvez porque temos dificuldade em entrar dentro de nós mesmos. Temos medo!? Medo de deparar com uma realidade que nos transcende e nos interpela. Medo de sermos humilhados face aos nossos desejos de grandeza e perfeição.
Talvez mudemos de disposição porque o nosso "centro de gravidade" não está conectado com o Pai que é sempre igual a si mesmo, sempre pai, porque sempre aberto às nossas dificuldades e necessidades.
Não é fácil cada dia , face a cada situação, ter sempre o mesmo sorriso e o mesmo sentimento de acção de graças  Mas, quem  alguma vez disse  que era fácil? O que sempre se disse é que "um santo triste é um triste santo" e o convite à santidade é para todos e para cada um de nós.
Não queres tentar?
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

" Recordar é viver "


Ontem foi dia de festa em Lisboa.

Lá fomos todas aos Jerónimos à apresentação de cumprimentos ao sr. Cardeal Patriarca.
Igreja cheia! Eram os Bispos, os cónegos, os padres, os religiosos e os leigos...
Toda a família diocesana que se reuniu para cantar Vésperas e o Te Deum em acção de graças.
Porque fomos muito cedo (com a ameaça de que podia não haver lugar, foi um despacho...) houve tempo para pensar, rezar e recordar. Os Jerónimos - mosteiro de N. Srª de Belém - é demasiado grandioso para não trazer ao pensamento milhares de histórias da História E não só!... Lembranças de acontecimentos e vivências...
E, não sei porquê... ou sei!  recordei uma outra celebração  que, há quase 50 anos, ali também ocorreu. Também havia Padres, religiosas das nossas casas e não só, alunas, professores, amigos... 
Foi a Missa dos 25 anos do Colégio do Ramalhão.
Celebrou o sr. P. Victor Feytor Pinto e com ele concelebraram Frades Dominicanos, entre eles o sr. P. Domingos, O:P: nosso capelão.
E como "recordar é viver", vivi momentos intensos, com o sr. Cardeal e revivi situações inesquecíveis passadas lá e aqui no Colégio.
Lembrei igualmente a celebração comemorativa dos 5 séculos de Evangelização e encontro de culturas. Também foi lá nos Jerónimos e precedida duma marcha que devia ser apoteótica mas que decorreu debaixo de chuva intensa. Outros tempos.
Ir. Maria teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Festividades

Hoje, o calendário dominicano comemorava Fra Angélico, o pintor dominicano cujas obras todo o mundo conhece.Sobretudo a Anunciação a Maria, qualquer que seja a versão apresentada, tem a marca deste grande pintor e Frade Dominicano Mas, a liturgia romana comemora quarta-feira de cinzas e esta celebração sobrepõe-se a qualquer outra memória. É que esta quarta-feira é a "porta de entrada" para o tempo da Quaresma, a preparação para a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.Muito embora tendo presente o apelo que a Igreja faz aos cristãos, para que vivam este tempo em unidade com o espírito que lhes propõe, não podemos esquecer aqueles que se notabilizaram pela sua vida e a sua obra. Quase podíamos parafrasear Camões : " ... aqueles que por suas obras valorosas se vão da lei da morte libertando."
                               Ir. M. teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

Presenças



Foram pedidas e aqui vão, com todo o carinho e saudades novas e velhas...
É uma aula de culinária ou a celebração de uns anos?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Silêncio de ouro

Andava à procura de inspiração, de qualquer coisa que me ajudasse a encontrar a Verdade dentro de mim, quando deparei com um texto duma pessoa amiga sobre o silêncio e a distracção. 
O comentário já não é novo, tem mesmo alguns anos mas pareceu-me tão actual como se tivesse sido escrito hoje. E até achei que me podia ser dirigido... Mas não só a mim... A todos aqueles que procuram encontrar Deus  no fundo do seu coração.
Baseava-se num texto dos Padres do Deserto  em que se dizia que " a distracção é o princípio de todos os males"
E, realmente, é tão fácil distrairmo-nos mesmo quando parece que temos todas as condições para que o silêncio nos rodeie e nos permita ouvir Deus!... É que o importante não é tanto o silêncio exterior , embora um ambiente de recolhimento ajude . O indispensável é o silêncio interior, a tranquilidade de espírito, a libertação de tudo o que nos preocupa e inquieta. E isso, não é fácil. Nada fácil...
Não é fácil fazer silêncio na nossa vida, abstraindo do nosso trabalho, das solicitações de toda a espécie, das inquietações, com ou sem motivo, e até do aborrecimento da desocupação.
Não é fácil " não nos deixarmos invadir pelas distracções que nos cercam por todo o lado e nos impedem o encontro silencioso e profundo com Deus".
E, no entanto, precisamos absolutamente desse encontro, dessa abertura da alma à presença de Deus.
Mas para isso , "necessitamos de disciplina, de ordem, duma alma sóbria, o que não se alcança sem a graça de Deus e sem o exercício quotidiano deste mesmo silêncio"
Que o Senhor, com a Sua presença nos ajude a fomentar, cada vez mais, este nosso desejo e necessidade.
                  Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Alterações

Este ano têm sido espantosas as alterações climáticas mesmo aqui no nosso país.
Até as estações meteorológicas se sentem um pouco impotentes para definir o que se está a passar... Uns dias faz sol, logo a seguir chove; de manhã umas temperaturas mais ou menos amenas, ao anoitecer um frio intenso; em certas alturas uma brisa suave, noutras uma ventania de empurrar tudo e todos. 
É espantoso como o tempo muda  e bem de repente, sem "pedir licença" às estações do ano cientificamente instituídas.
"Mudam-se os tempos e mudam-se as vontades" como diz o poeta...
Mas podemos dizê-lo nós também que não somos poetas nem temos a sensibilidade deles. Mas, olhamos a Vida e constatamos o que nela acontece cada dia e, quase cada hora.
"Ontem"  parecia que vivíamos num clima de paz e tranquilidade; "hoje" tudo mudou e o medo invade países e gela o coração de muita gente. "Ontem" parecia que tudo corria bem  e havia abundância e bem estar; "hoje" é o flagelo da fome e do frio que assola certos meios e certas vidas.
E, com a mudança dos tempos, mudam-se as vontades, as opiniões, as certezas. Perdem-se valores, desmoronam-se convicções, diminuem a nossa Fé e a nossa Esperança.
" O mundo é feito de mudanças"  e é bom que assim seja, desde que nos mantenhamos fiéis aos princípios que orientaram a nossa vida.
Aceitemos as mudanças que o mundo nos apresenta, que fazem parte do desafio que nos propõe, mas não deixemos que o Ser que existe em nós se desmorone como a arei da praia.
Não olhemos como naturais os conflitos que o não são nem permitamos que o Mal seja visto como Bem, nem as injustiças como consequências sem importância.
Procuremos que o "amanhã" seja a mudança que Deus espera.
Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Santos Dominicanos

Ontem, a Liturgia Dominicana celebrou mais um santo da Ordem - o Beato Jordão de Saxónia. A Ordem dos Pregadores festeja-o porque é santo, dominicano mas também não se esquece que foi o 2º Mestre Geral da Ordem . Depois da morte de S. Domingos, foi eleito para dirigir os Irmãos Pregadores e f ê-lo, com sabedoria e santidade, durante quinze anos.
Era alemão mas fez os seus estudos de teologia em Paris . Foi lá que conheceu o bem-aventurado Reginaldo de Orleães. Talvez fosse o testemunho deste frade  que o incentivou a fazer-se dominicano... E foi este religioso que lhe impôs o hábito.
Tinha uma imensa devoção a Nossa Senhora. Por isso, ordenou que, a seguir à oração de Completas se rezasse a antífona da Salve Rainha, costume que ainda                                            hoje permanece nos conventos dominicanos.

Mas para a semana temos outra comemoração dominicana - o beato João de Fièsole, mais conhecido por fra Angélico.
Nasceu na Toscana ,nos princípios do sec. XV e a sua formação durante a adolescência foi dedicada à pintura. Mas Deus mudou o seu caminho. Ou, pelo menos, preencheu-o doutra maneira. Atraído pela vida religiosa, foi, com seu irmão Bento, apresentar-se ao convento dominicano de Fièsole onde foi recebido e onde se ordenou sacerdote. Dedicou-se à oração e à contemplação mas continuou a pintar. Era talvez uma outra forma de pregação porque, dizem os seus biógrafos, " pintava os divinos mistérios que contemplava na oração". São dele os frescos que enchem as paredes do convento de S. Marcos em Florença mas também há pinturas suas no palácio do Vaticano e em duas capelas da basílica de S. Pedro em Roma. Uma das mais conhecidas é a Anunciação do Anjo a Maria.
Frei João era um homem simples e recto, pobre e humilde. Nas suas pinturas apresentava-se devoto e angélico e daí o vir a ser chamado Beato Angélico.
                         Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

DIA DA RÁDIO

Lembro-me bem do entusiasmo com que eram seguidos os programas da rádio no tempo da minha infância e adolescência.
Ainda não havia televisão e depois, só tinha certas horas de emissão. Portanto, era a rádio que dava notícias, transmitia desafios, apresentava novelas, etc.
Quem , dessa época,  não se lembra das transmissões de hockey em patins que se prolongavam pela noite fora? Quem não recorda a rádio-novela " a Lelé e o Zequinha"? Quem se esqueceu dos inúmeros concursos em que era solicitada a nossa participação?
Uma coisa que sempre me fascinou era a empatia que os locutores tinham com os ouvintes. Eles convidavam...entusiasmavam... cativavam.
A rádio foi e continua a ser um óptimo veículo de transmissão de valores. Pode chamar a nossa atenção para problemas que quase nos passam despercebidos ; pode e deve falar-nos de moral, de costumes , de Vida. Mantem-nos actualizados e apela à nossa consciência de Homens e de Cidadãos.
Difunde música, dá entrevistas, anuncia eventos. 
Preenche o espírito enquanto nos ocupamos com mil outras actividades. E pode ir connosco para todo o lado.
Que a rádio continue a cumprir a sua missão e a estar presente no nosso dia-a-dia.

Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Ouvidos moucos

Esta manhã batiam incessantemente à nossa porta. Batiam e tornavam a bater e ninguém abria. Deviam estar todas demasiado ocupadas...
Quase sem querer lembrei-me  de Jesus.  Também Ele bateu às portas sem sucesso. E começou mesmo antes de nascer... " Não havia lugar para eles na hospedaria..." 
Arranjaram-lhe um espaço, sim. Simples, humilde, pobre embora  real . Ofereceram-lhe um lugar, mas não O acolheram.
Também o "jovem rico" conheceu este impacto do apelo de Jesus, que o olhou e lhe falou com amor. Mas o jovem não o quis seguir ... "porque tinha muitos bens..." Não havia lugar para Jesus no seu coração.
Na Sua vida pública, Jesus foi a Nazaré, bater à porta da família, dos amigos, daqueles com quem vivera... E eles não O receberam. Espantaram-se com o que Ele fazia... Não acreditavam... Achavam que estava louco...
No fim do Seu Tempo, bateu à porta e à compreensão de Pedro e ele negou-O : "Não O conheço..."
Jesus sofreu o desconforto de ser rejeitado, incompreendido, abandonado, mas continua a bater às nossas portas. E insiste! Mas não é dominador, exigente ou possessivo. Ele apenas sugere, aconselha, convida...
Mas nós andamos tão ocupados... temos a vida tão preenchida... estamos tão cheios de tudo...Não temos tempo para ouvir o apelo de Deus.
Quantas vezes Jesus, na pessoa dum amigo, dum conhecido, necessitado da nossa compreensão, do nosso apoio, do nosso tempo, nos bate à porta e nós... nem damos por isso ?
Não deixemos que o Senhor Jesus nos bata à porta e nós o deixemos cá fora.
Porque estamos ocupados...
Porque temos o coração fechado...
Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A espera

Quando esta manhã passava pelo pátio da magnólia, chamou-me a atenção a pergunta duma aluna: " Pai, e que recebo em troca?"
Não sei qual era o assunto nem qual a acção que, pelos vistos, merecia prémio, mas a pergunta fez-me lembrar uma questão semelhante posta pelos apóstolos a Jesus: " Senhor, qual é a nossa recompensa?"
E logo a seguir pensei que também nós, muitas vezes fazemos aos outros e a nós mesmos esta pergunta: Qual a nossa recompensa? 
E não admira porque nos acostumaram, desde crianças, que o fazer ou não fazer alguma coisa tinha um prémio.E agora que "somos grandes" continuamos a agir como crianças e a esperar recompensas pelas nossas obras.
Como os Apóstolos fazemos esta mesma pergunta e, como eles, esquecemo-nos que a recompensa prometida não é imediata. Ela vai surgir, sim! Mas está inscrita no céu. Às vezes a recompensa exige esforço, renúncia, sacrifício, dor. Às vezes não é visível aos olhos; está inscrita no coração e pressupõe fé, confiança.
Há todo um caminho a percorrer, uma caminhada a fazer, um esforço a despender. Há momentos de dúvida a solucionar, há incertezas a resolver, há frustrações a ultrapassar. 
Às  vezes duvidamos da recompensa prometida  e apetece-nos perguntar quando e como ela se vai concretizar. Momentos de falta de Fé?!...
É no céu que está a nossa recompensa, esse dom inexcedível que Jesus prometeu aos que O seguissem.
Ir. Meria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.