segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Um conto de Natal

Tinha acabado a Missa do Galo. Terminara já a Ceia do Natal. Os membros da família, a pouco e pouco, tinham-se retirado para as suas casas. Nós, os da "casa", arrumada minimamente a sala, recolhidos os presentes que tinham cabido a cada um, acauteladas as virtualhas para o almoço do dia seguinte, como recomendara a minha avó, íamo-nos recolhendo aos nossos quartos.
Deitei-me e dormi.
Acordei sobressaltada com uma luz intensa que parecia vir do presépio pequenino que estava em cima da mesa do canto.
Levantei-me num pulo, impressionada com aquela luz e aquele Menino que parecia saltar da mesa.
Fui à janela e sosseguei. A luz não era senão a do candeeiro da rua cuja luminosidade entrava pelas cortinas abertas.
Tudo normal... Tudo natural...
Mas o sorriso do Menino, esse ... estava lá. E estava lá também o Seu olhar, tão intenso que parecia fitar-me. E aquela voz, dentro do meu peito, igual à que um dia fora dirigida ao" jovem rico " : Queres?...
Sentei-me no chão a pensar. É Natal. Natal mais uma vez. Natal que se repete ao longo de mais de dois mil anos. Natal!... Sempre igual e sempre novo.
E o Menino que continuava a olhar-me e a perguntar : Queres?...
E eu quero, mas o quê?
Continuo a olhar o Menino do meu presépio pequenino e compreendo que o que Ele quer é que O amemos e nos amemos uns aos outros, fazendo de cada coisa pequenina, o nosso Sim como Maria.
É já manhã e eu mantenho-me a olhar esse Menino que é Deus feito Homem e que sorri, porque espera um mundo diferente, em que o amor vença o ódio e a generosidade a indiferença.
Fico olhando e acabo adormecendo. E sonho com um mundo em que "o lobo e o cordeiro habitam juntos, o menino brinca na toca da serpente e o leão e o boi comem ambos palha".
É isto o Natal: "Um Homem que olha outro Homem e o trata como irmão".
                                     Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Caminhando para o Natal...

É ante-véspera de Natal!
Ultimam-se os preparativos para a noite de àmanhã. Aqui no Ramalhão também.
E fazem-se as últimas compras. Nós não somos excepção. Também cá falta sempre alguma coisa da última hora.
Lá fora é a azáfama habitual destes dias e desta data. O próprio trânsito revela este movimento mais intenso e mesmo algo nervoso.
Podemos pensar que estão todos mais preocupados com o "acidental" do que com o "essencial" que é a vinda de Jesus e a nossa preparação interior para essa vinda.
Mas eu, que gosto de me interrogar,pergunto-me se toda essa azáfama, esse desejo de preparar uma boa refeição, de reunir a família em torna duma mesa de festa, não será também uma forma de cumprir a mensagem dos anjos: " Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade". A unidade nas famílias não será um anúncio de paz e uma atitude de glória? O esforço de montar o presépio e enfeitar a árvore, não será também uma forma de louvor, uma manifestação de Fé, ainda que disfarçada?
Às vezes fazemos uma análise demasiado simplista das atitudes e dos acontecimentos. Por detrás destas manifestações de consumismo e alegria exterior, não se esconderão desejos mais profundos de acreditar e de louvar? De esquecer amuos e perdoar ofensas? De buscar uma paz que ainda não se soube alcançar?
Tudo perguntas a que só o Menino pode responder... Ele que deitado na sua mangedoura, não condena aqueles que O não recebem mas nos estende os braços para nos acolher , a nós que O conhecemos mas nem sempre  "louvamos Deus nas alturas " nem trabalhamos para a "paz entre os Homens".
Ele que estende os braços para que O levemos a todos aqueles que O festejam, talvez sem O conhecerem, mas que no fundo O desejam.
Esqueçamos tudo o que ficou para trás e, na Alegria e na Esperança,preparemo-nos para ir até Belém, adorar o Menino que é Deus, o nosso Deus.
                                       Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Conversas amigas ... ou nem tanto

Outro dia , quando fui a casa dos meus pais, tratar de problemas vários, deparei-me com uma cena que não era habitual naquele prédio tão sossegado.
 No átrio de entrada, duas jovens trocavam impressões sobre aulas, exames, cursos, namorados, família, numa sucessão de temas, a uma velocidade e num tom que me impressionava.
Eu ouvia-as da minha casa e quando a conversa subiu de tom, apeteceu-me abrir a porta e meter-me na conversa. Mas sustive-me. Lembrei-me que elas não sabiam que eu tinha sido jovem estudante como elas, que tinha conhecido as alegrias e preocupações que eram as delas, que também para mim tinha havido bons e maus professores...
Desisti de intervir e continuei a minha tarefa.
Mas a discussão continuava, algo acesa, mesmo à minha porta.
Lembrei-me então que ainda tinha umas recordações de Natal, que a minha mãe costumava oferecer aos vizinhos. Então, abri a porta e, perante o seu espanto, convidei-as a entrar e ofereci-lhes as lembranças.
Aceitaram e foi ocasião de falar do Natal, do que ele representa, das disposições que nos devem encher neste tempo. Foi motivo para evocar lembranças, para trocar opiniões, para nos dispormos a acolher os outros com aquele sorriso que não custa nada mas dispõe bem.
As jovens foram-se embora novamente amigas e satisfeitas. Tinha acabado a discussão...
E eu fiquei a pensar que é de gestos simples que muitas vezes, se fazem as grandes acções. E no Natal, mais do que nunca, contam estes pequenos gestos que não são pensados com antecedência, que talvez não pertençam ao código das disposições estabelecidas mas que podem fazer a felicidade de quem as recebe. E Natal é dom...
                             Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Semelhanças e diferenças

Desde a Proclamação dos Direitos do Homem que sabemos, com precisão, que somos iguais em liberdades e em direitos. Isto, pelo menos em teoria, que a história conta-nos outra realidade.
Mas esta igualdade e esta diferença também as encontramos face aos planos de Deus. Perante Ele, todos somos iguais porque todos somos Seus filhos e todos Lhe podemos chamar Pai. Mas, cada um de nós é diferente do outro pelas suas capacidades, seus interesses, seus objectivos, seu empenhamento em seguir o caminho que nos conduz ao Pai.
Foi Jesus que disse que havia " muitas moradas na casa de Seu Pai".
Para mim, atendendo a quem foi dito e ao contexto, estas "muitas moradas" significam duas coisas distintas:
Por um lado, que todos temos lugar no Reino de Deus, desde que o procuremos e o desejemos alcançar; por outro lado, que cada um ocupa um lugar diferente, segundo o esforço dispendido, a caminhada feita, a tentativa maior ou menor, de alcançar esse lugar que lhe está reservado desde toda a eternidade, mas que tem que ser conquistado. 
Todos somos iguais porque Deus nos ama, nos procura, nos carrega aos ombros, como o pastor à ovelha perdida.
Todos somos diferentes porque a nossa capacidade de amar nem sempre tem Deus como prioridade e muitas vezes se ocupa em alcançar objectivos que nada têm a ver com Ele.
Mas a todos e por causa de todos Deus mandou o Seu Filho e Ele está lá "como uma criança, deitada numa manjedoura... que oferece os seus braços a todos os que o quiserem acolher".
Neste Natal, em particular, quando tudo parece mal, Ele é o nosso sinal de Esperança.
Recebamo-Lo e levemo-Lo aos que nos rodeiam, especialmente os que precisam duma palavra de Amor, Paz e Esperança.
                           Ir. Maria Teresa de Carvalho ribeiro,O.P.
 
 
 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Natal na poesia

Muitas vezes os poetas também sofrem de inquietações, angústias, incertezas.
Por isso, as suas buscas e dúvidas se reflectem nos seus versos. Mesmo quando eles mencionam verdades irrefutáveis, muitas vezes a sua poesia é o reflexo das suas inquietações e, porque não?, a sua procura de Deus.Ela traduz também, por vezes, desilusões que não conseguiram ultrapassar. Falta-lhes encontrar a réstea de luz que existe escondida no seu coração.
                                                       NATAL
Soa a palavra nos sinos
E que tropel nos sentidos,
Que vendaval de emoções!
Natal de quantos meninos
Em nudez foram paridos
Num presépio de ilusões.     

Natal de fraternidade
Solenemente jurada
Num contraponto em surdina,
A imagem da humanidade
Terrenamente nevada
Dum halo de luz divina.

Natal do que prometeu,
Só bonito na lembrança.
 Natal que aos poucos morreu
No coração da criança,
Porque a vida aconteceu
Sem nenhuma semelhança.              Miguel Torga
 
 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O Amanhã que é hoje

Hoje quando me levantei, abri o rádio, como de costume.
A canção que estavam a transmitir e da qual só fixei dois versos, porque me perdi a pensar no que eles podiam significar, encheu-me de entusiasmo e boa disposição:

"Amanhã, outro dia virá..."
"Amanha, acredita! alguém te sorrirá..."
 
Entusiasmei-me porque achei que esta era uma canção de esperança, para qualquer pessoa que estivesse a ouvir. E nesta época de quase Natal, adquire um significado ainda maior.
É que amanhã, é hoje, foi ontem, será depois de àmanhã, ...sempre.
                                                     Sempre... começará um novo dia diferente e, de certeza,   virá        cheio de   novos projectos, novas certezas, novas perspectivas.
Sempre...haverá alguém que nos acolhe, nos sorri, partilha connosco as suas alegrias e preocupações.
Sempre... estará alguém à espera da nossa palavra amiga, da nossa compreensão, do nosso sorriso.
Sempre... haverá alguém que precisa fazer uma confidência sabendo que é acolhida.
Sempre...haverá razões para acreditar que vale a pena investir na alegria e na esperança.
Sempre... que é Hoje, há um caminho de esperança a percorrer e a certeza, na Fé, duns braços que nos acolhem à chegada, os do Pai.
            Ir. M. teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

As outras histórias da História


Li outro dia um capítulo dum livro que me impressionou pela realidade que apresentava e em que eu nunca pensara. Nem quando em jovem estudava História...
Dizia o autor que a História nos fascina com feitos valorosos, grandes vitórias, conquistas levadas a cabo. Mas por detrás desta Historia, há outras histórias que são a realidade da vida dos homens. E esta, foi bem diferente. São histórias de sofrimento e de dor, que os feitos gloriosos da História parecem querer apagar.
O sofrimento foi, ao longo de séculos, apanágio da humanidade que nem sequer acreditava na possibilidade duma mudança. Em alguns casos o sofrimento era mesmo apresentado, entre os cristãos, como consequência do pecado.
Ainda hoje a dor nem sempre é muito bem aceite e menos ainda vivida pelas pessoas, mesmo por aquelas que se dizem crentes.
É que o lugar da Esperança fica ofuscado pelo desânimo, pela inquietação, pelo sofrimento.
Nem sempre é fácil olharmos para Jesus e associarmos as nossas pequenas ou grandes dores à Sua oferta por nós, com a certeza de que Ele não nos abandona; de que Ele está presente.
Pela Fé temos a certeza de que "Deus não nos pede nada para além das nossas forças " e nunca exige uma dor superior àquela que o nosso coração suporta.
Mas o sofrimento não pode ser um fim em si mesmo. É sim, um meio, meio de purificação, de nos aproximarmos do Jesus morto na cruz. E temos que aprender a sofrer, aceitando o sofrimento e oferecendo-o como meio para um bem maior.
Muitas vezes a aridez que acompanha a nossa oração é uma forma de sofrimento que nos ensina que é no silêncio e no abandono que encontramos a Alegria da Esperança. Aprendamos a acolher esse tempo de espera, sem desanimar.
                                     Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
                                            
                                        

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Ler nos acontecimentos


A comunicação social é pródiga em espalhar notícias boas e más ( habitualmente mais más que boas...) É o seu trabalho, embora às vezes o faça de uma maneira demasiado ligeira e pouco documentada.
A semana passada, uma notícia aterradora e alarmante: nos Estados Unidos, um homem armado entrou numa escola e matou à volta de vinte pessoas, entre adultos e crianças.
Não foi a forma como a notícia foi dada que me chocou, mas a notícia em si mesma.
E várias perguntas se formulam  no meu espírito. O que leva uma pessoa, por mais desvairada que esteja, a praticar um tal atentado contra a vida humana? O que leva um cidadão a esquecer a sua condição de Homem, de criatura com direitos e deveres, e praticar semelhante acto de carnificina? Onde estão os Valores que toda a cidadania deve imprimir nos cidadãos, por mais primitivos e ignorantes que sejam?
Não tenho respostas... Mas acho que é motivo para reflectirmos.
Não é a 1ª vez que coisas destas acontecem, lá como cá. Não é a 1ª vez que temos conhecimento de alguém que atenta contra a própria vida ou a vida dos outros... E devemos perguntar-nos: qual é, para eles, a noção de Deus e da paternidade divina? Onde estão os Valores de Respeito, de Família, de Solidariedade, de Dever, de Bem, de Verdade e de Paz? Que papel teve a sociedade no crescimento e formação humana dos seus cidadãos? Como aprenderam eles a confrontar-se consigo e com os outros?
Mais perguntas para as quais não encontro respostas mas que me inquietam como educadora e membro desta sociedade.

Estamos quase no Natal, a grande festa que o mundo celebra, qualquer que seja a forma ou a intenção. E mais uma pergunta se me levanta: Qual é, para a maioria, o centro desta festa cuja realidade é Jesus Cristo, o Deus de Amor e da Fraternidade?
Como encaramos os Valores que este Deus, feito Homem, nos quis transmitir?
Neste mundo, em que os Valores sociais andam muito esquecidos (e não falamos em Valores cristãos...) que nós, os que acreditamos
que o Natal vale a pena, não percamos de vista o grande Valor do dom que Jesus nos fez.
                                       Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
 
 

domingo, 16 de dezembro de 2012

FESTA DE NATAL

Ontem foi a Festa do Natal do pré-escolar e 1º ciclo cá do Colégio.
Encantadora na ingenuidade e empenhamento dos seus protagonistas. Bebés que ainda vão fazer 3 anos, subiram ao palco para homenagear o Jesus que se lhes apresenta como um menino como eles.
Crianças um pouco mais velhas - todas têm menos de 9 anos - encarnaram a sua personagem ou deram o melhor do seu talento na apresentação das violas, piano, flautas ou canto.
Pais, mães, família, ocuparam a sua tarde vindo até ao Colégio para contribuirem, ajudarem e verem as suas crianças a actuar nesta festa que é delas.
Irmãs, professores, funcionárias, tentaram, com entusiasmo, que tudo corresse bem. E correu!... à sua medida e à sua maneira.
O som, por vezes, pareceu não querer corresponder às nossas espectativas mas isso foi contingência de momento: acção da humidade, interferência de dois microfones demasiado próximo, etc....
Às vezes houve intervalos maiores entre duas cenas, eram crianças a actuar...
Paciência! No fim o saldo foi positivo e as famílias estavam contentes.
Também fiquei. E agradeci ao Pai por mais uma festa que nos uniu a todos em torno duma história , mil vezes repetida e sempre verdadeira e vivida: a do nascimento de Jesus.
Sempre me comovem e impressionam estas festas de Natal. Pela época, pelo que significam, pelo empenhamento de todos,  pela partilha, pela unidade que se manifesta... pelo esquecimento de pequenas e grandes querelas que ficaram para trás!...
Natal! Foi festa, mas também é Vida.
                    Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Festa e férias

Estamos no último dia de aulas deste período. Já tudo indica que as férias estão a chegar. Mas estas férias são anunciadoras de que uma grande festa nos aguarda: a festa do nascimento de Jesus.
É talvez altura de reflectir sobre este tempo e o modo como estamos a preparar esta vinda do Senhor , do Deus feito Menino.
Natal fala-se em toda a parte e festeja-se, duma maneira ou de outra, em qualquer lugar onde estejamos.
Para alguns, talvez seja simplesmente ocasião para uma festa; para outros, motivo para dar e receber presentes - afinal um testemunho de partilha... Para outros ainda, é ocasião de juntar familiares e amigos em torno de uma mesa bem cuidada, com tudo o que é alusivo ao tempo do Natal - outro testemunho de unidade, de reunião. Talvez seja ainda, ocasião de terminar com questões velhas, de oferecer e receber pedidos de perdão.
Há também para quem seja apenas motivo de agitação, de andar de loja em loja, fazendo compras... Talvez o desejo de esquecer problemas e angústias e conseguir uns momentos de paz e alegria.
Mas para nós, cristãos, o Natal pode ser tudo isso,tem talvez de ser tudo isso. Mas, não só, porque encerra em si uma razão maior para o vivermos: a certeza de que mais uma vez se torna presente a vinda de Jesus , o Filho de Deus. Ele que nos veio ensinar que a razão de viver é o Amor e que sem Amor não há paz, alegria ou fraternidade.
Natal é... um casal que vem de longe e uma criança que nasce num estábulo, longe de casa, da família, da sua terra, para obedecer ao decreto do imperador romano. Nasce despojado mas tem a adorá-lo os pobres e os grandes da terra; recebe presentes simples ou grandiosos; reune à Sua volta "todos os que sem verem acreditaram".
Natal é... um tempo em que cada um de nós "acolhe aquele que passa ao seu lado e o trata como irmão".
Natal é... quando, esquecidos de nós, vamos à procura dos outros para lhes darmos nem que seja o nosso sorriso. É quando partilhamos com todos e com cada um a Alegria que sentimos, o calor do nosso afecto.
Natal é... a altura em que Jesus espera por nós e, esquecidos de tudo, nos ajoelhamos a Seus pés e Lhe dizemos que queremos ser meninos como Ele e, como Ele, caminhar para o Pai, o Deus da Paz e do Amor.
Natal é... tempo de repetição e de novidade se tivermos sabido conservar o nosso coração de meninos, livre, puro, sem ambições.
Natal é... a alegria de saber que Jesus veio e está connosco para sempre!
                                                       Ir. M. teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 
 
 
 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Encontros e desencontros

Estive a reler o Evangelho de S. Lucas, cap. XV, em que se encontra a parábola da ovelha perdida. Lembrei-me, então duma homilia em que o sacerdote falou da preocupação do pastor com o desaparecimento da ovelha, não por ser menos uma, mas por ela se ter perdido. Salientou a ansiedade com que ele a procurou e a alegria demonstrada quando a encontrou..
Depois, o sacerdote referiu-se a nós, chamando a atenção para a nossa atitude que muitas vezes nos leva também a perdermo-nos. Na altura não pensei nada de especial mas agora, ao reler o Evangelho, o assunto não me passou tão ao lado, recordei casos concretos e reflecti que muitas vezes nos perdemos voluntariamente porque seguimos caminhos que, à partida, sabemos conduzirem-nos a metas indesejáveis. Outras vezes, perdemo-nos porque somos inconscientes e não olhamos para os sinais que nos indicam o percurso a fazer. Outras ainda, perdemo-nos porque escolhemos o caminho errado, julgando ser o melhor, o mais adequado.
Perdemo-nos!
Mas Deus não nos perde porque nos continua procurando, embora sem nos forçar. Chama-nos com carinho, com interesse, sem nunca se cansar. E espera... que O queiramos ouvir.
Se escutamos o Seu apelo, retrocedemos e vamos ao seu encontro, com que alegria nos acolhe!...
Tal e qual como o pastor que agarrou ao colo na ovelha perdida e se foi congratular com vizinhos e amigos por a ter encontrado; do mesmo modo que o pai do filho pródigo, quando o avistou ao longe, mandou fazer uma festa porque "ele estava morto e reviveu, estava perdido e encontrou-se".
Este Advento deve ser, para cada um, caminho de reencontro.
                                 Ir. Maria Teresa sde Carvalho Ribeiro, O.P.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Recordações

Dia 8 de Dezembro. Dia da Imaculada Conceição.
Foi no sábado!
Fazia anos que eu tinha chegado ao Ramalhão para iniciar o meu postulantado. Só que este ano estava em Lisboa e fui à Missa à minha paróquia de eleição - a Basílica da Estrela.
Por coincidência, havia lá a cerimónia da 1ª oblação de duas jovens aspirantes ao Instituto secular das Cooperadoras da Família.
Que mundo de recordações me vieram à lembrança!...
Aquela manhã em que a minha mãe e a minha tia Lupita me levaram à carrinha da Parede com os olhos cheios de lágrimas; aquele abraço sentido e aquele adeus em que não quis pensar. Depois, a chegada ao Ramalhão, o envergar daquele fato negro e seis meses de aprendizagem de regras e normas tão diferentes da minha vida anterior.
Seis meses em que não falei com o meu pai e quase não tive notícias da minha mãe. Voltei a estar com eles no dia da Profissão.
Recordei actividades, trabalhos, compromissos, alegrias e tristezas. Relembrei estudos, acções fora, apostolado no Colégio...
Lembrei estas cinco décadas que começaram assim num dia como aquele, de sol mas de frio também.
Recordei tudo enquanto aquelas jovens faziam a sua consagração. E pedi para elas aquilo que sempre recebi: a graça de nunca me ter arrependido daquele passo que dei, alegremente, apesar do desconforto em que senti os meus pais, apesar dos contratempos e dores, apesar das dificuldades e incompreensões...
Tudo se torna mais fácil se acreditarmos no Amor do Pai.
E hoje, cinquenta anos depois, continuo a não estar arrependida. Não me perguntem porquê... Simplesmente porque o Pai me escolheu e me chamou com o seu olhar de Amor.
 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Nós e o planeta

                                                      Ontem estava a chover.
Uma chuva intensa, incómoda, torrencial, mesmo um pouco aterradora.
O pátio ficou alagado. Até as pessoas que passavam estavam com os sapatos todos molhados.
Mas aqui não foi nada, se compararmos com o que aconteceu em Oeiras ou em certas zonas de Lisboa, em que os bombeiros não tiveram " mãos a medir" para atender a todas as chamada  que  lhes foram dirigidas.
 Mas este tipo de chuva não era habitual no nosso país. Tal e qual como não era habitual este sobe e desce das temperaturas, como tem acontecido este ano.
E se considerarmos o resto do mundo, quantos desastres ecológicos não têm ocorrido?
Dá que pensar...Permissão de Deus?
Certamente! Mas sem dúvida acção do Homem na sua sede de auto-afirmação e independência, no seu desejo de "Ter". E, em prol disso, destrói-se o ambiente, poluem-se rios e oceanos, abatem-se florestas, dá-se cabo de ecossistemas...
Desde a Revolução industrial que a acumulação de dióxido de carbono na atmosfera envolvente da terra, se tem vindo a fazer a um ritmo alucinante. E é isso que provoca o aquecimento global com todas as suas consequências.
Há anos que se fala disto  e que este problema inquieta cientistas e chefes de nações. Há décadas que se tenta que os países utilizem uma política comum que trave este flagelo. Mas, a preocupação e boa-vontade de uns esbarra com as aspirações de outros.
Até onde é que tudo isto nos vai levar?
Lemos no Evangelho uma previsão do fim do mundo. Não é certamente a realidade mas simplesmente um alerta para aquela destruição que o Homem está a provocar pelas suas próprias mãos. A próxima destruição do planeta não vai certamente resultar de causas externas mas antes do egoismo dos Homens e da inconsciência das suas acções.
Não será tempo de parar e, neste Advento, procurarmos mudar?
                                      Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Apelo do Advento

Se lermos o Evangelho de S. Lucas, no capítulo 10, em que se diz que Jesus envia os seus discípulos "como ovelhas no meio de lobos" deparamos com uma recomendação que nos pode fazer pensar: "Ide... não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias, nem dinheiro..."
Esta recomendação também nos é dirigida.
É um convite ao despojamento e à confiança, um pedido de partilha nestes tempos difíceis, um apelo à Fé no Amor de Deus que não abandona aqueles que confiam n´Ele.
Estamos no Advento, fazendo a caminhada que nos há-de conduzir até ao presépio. Devemos parar para reflectir. O que espera Deus de nós? O que nos envia a fazer? Como nos envia?
Não vale a pena pensar em situações complexas, em planos sofisticados que não chegaríamos a cumprir... Não adianta propormo-nos atitudes de desprendimento e de pobreza que não cabem na nossa capacidade de ser generosos.
Sonhar com o deserto e uma tenda, uma vida de ausência de tudo e o viver baseado na confiança...que maravilha! mas é apenas sonho para a maioria de nós. Quem dera tivéssemos essa capacidade!
É que levar o Evangelho "à letra" ... partir sem farnel, sem bagagem, sem dinheiro, é uma dimensão que não é pedida a todos. Mas o que nos é pedido, isso sim, é que neste Advento abdiquemos do supérfluo, renunciemos mesmo a um pouco do necessário, olhemos com Amor para os que nos rodeiam e partilhemos o que temos com os que não têm.
Vamos, " sem alforge e sem farnel" porque não estamos angustiados com o que será o "amanhã". Há demasiada ansiedade e preocupação e dor e mal-estar no mundo.
É preciso espalhar a alegria  ao nosso redor; é necessário pôr Fé e confiança nas nossas vidas e nas dos outros.
É necessário ensinar que na oração encontramos força para enfrentar as dificuldades e ultrapassar os males. É ela que alimenta a nossa Esperança e a nossa Alegria.
Diante do presépio, esperando a chegada do Menino, tenhamos uma atitude de Confiança e de Amor e vamos... ao encontro dos outros, partilhar estes dons que recebemos de Jesus.

                                      Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Acontece...

Este mês de Dezembro é pródigo em acontecimentos. Para além das férias, do dia de Natal e dos dias de festa entre o Natal e o Ano Novo, tivemos já um feriado e vamos ter outro.
No 1º caso, dia 1 de Dezembro, invocámos a Restauração da Independência de Portugal. Muitos de nós festejamos o dia de folga (que este ano, por acaso, calhou ao sábado) mas não interiorizamos o que isso significou para os Portugueses, de libertação do jugo castelhano.Mas entenderam-no aquele punhado de Portugueses que entraram no Paço da Ribeira, mataram Miguel de Vasconcelos, fizeram fugir a Duquesa de Mântua e proclamaram Rei D. João, duque de Bragança.
Entendeu-o também este Rei que, seis anos mais tarde, anunciou em Vila Viçosa que Nossa Senhora da Conceição passava a ser reconhecida como Padroeira e Rainha de Portugal. A ela ofereceu a sua coroa que nunca mais foi usada por qualquer outro Monarca.
E é a Nossa Senhora, nossa Mãe e nossa Rainha, a Imaculada Conceição, que a Igreja consagra o feriado do dia 8 de Dezembro.
Nesta festa, celebramos a concepção de Maria, isenta de pecado original, uma preparação remota para a sua escolha como Mãe do Filho de Deus. Ela a quem Jesus, do alto da cruz, indicou como nossa mãe.
Vivamos este dia de paragem em clima de reflexão, de oração, de acção de graças, pelas Suas virtudes e os Seus dons.
E tenhamos bem presente que Maria, como Mãe, está ao lado do seu Filho, intercedendo por nós, como o fez um dia nas Bodas de Caná.
Confiemos nela e entreguemo-nos ao seu amor e aos seus cuidados.
                                   Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
 
 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Advento... tempo de preparação e de espera


Teoricamente quatro semanas nos separam do Natal.Verdadeiramente são apenas três e um dia pois o dia 25 é uma terça-feira.
São quatro semanas de espera . Tal e qual como o povo judeu esperou a vinda do Messias, o Enviado de Deus.
Durante este tempo começa a agitação e a preocupação com as compras, os enfeites, o decoração da casa. as ementas para a ceia e o almoço de Natal. É normal querer tornar diferente este dia em que comemoramos a vinda de Deus feito Homem, para salvação dos Homens, em que festejamos Aquele que tornou diferente as nossas perspectivas de vida.
Também em Belém o dia foi diferente.
O Menino nasceu num estábulo "porque não havia lugar para Ele na hospedaria", dizem-nos os Evangelhos. As condições não são as melhores. No entanto, houve anjos cantando a Sua glória, pastores com presentes, a rodearem-no e a adorá-lo, e depois os Magos que vieram do Oriente para O venerarem, oferecendo-Lhe o que de melhor e mais significativo havia nas suas terras.
Mas para o dia ser realmente  diferente tem que ser preparado por uma caminhada de esforço, disponibilidade, partilha.
Tanto os pastores como os Magos experimentaram esta necessidade. Foram chamados e vieram...
Os pastores são acordados no meio da noite por cânticos de anjos que anunciam o Messias Salvador e a paz na terra aos Homens de boa vontade. Talvez não tenham entendido a mensagem até ao fim, mas levantam-se, pegam no que têm de melhor e vão... vão até Belém ao encontro duma criança recem-nascida que eles acreditam ser o Messias prometido. E esquecem o esforço, o sacrifío que tiveram de fazer...
Depois, chegam os Magos. Vêm de longe, guiados por uma estrela que lhes anunciou uma novidade: o nascimento do Rei dos Judeus. E eles deixam tudo, as suas terras, o seu trabalho e vêm, sem conhecer o caminho e sem saberem o que os espera. Desafiam Herodes e o poder de Roma mas seguem em frente. Apenas guiados pela inspiração e a confiança naquela estrela que os chamou.
Pastores e Magos tiveram um caminho a percorrer antes de encontrar Jesus. E fizeram-no! Mudaram a vida, confiaram, indiferentes a esforços, no desejo de corresponder ao convite.
Também a nós Jesus chama do presépio e espera que neste tempo do Advento deixemos a rotina e nos preparemos para ir ao Seu encontro, mudando a nossa vida, melhorando as nossas relações, aumentando a nossa disponibilidade, intensificando a nossa oração, multiplicando a nossa capacidade de partilha, fazendo crescer a nossa Fé.
O Natal é daqui a quatro semanas. E aí, qual o presente que preparámos para levar a Jesus?
                                Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.