sábado, 31 de dezembro de 2016

Uma história que é um apelo

                                                                     
Foi há uma semana. Era dia de Natal.
Tinha acabado a Missa do Galo. Terminara já a Ceia do Natal. Os membros da família, a pouco e pouco, haviam saído para regressar às suas casas.
Nós, "os da casa”, arrumada minimamente a sala, recolhidos os presentes que tinham cabido a cada um, acauteladas as virtualhas para o almoço do dia seguinte, como recomendara a minha avó, íamo-nos retirando para os nossos quartos.
E eu fui também. E… deitei-me e dormi.
Acordei sobressaltada com uma luz intensa que parecia vir do presépio pequenino que estava em cima da secretária.
Levantei-me num pulo, impressionada com aquela luz e aquele Menino que parecia saltar da mesa.
Fui à janela e sosseguei. A luz não era senão a do candeeiro da rua cuja luminosidade entrava pelas cortinas abertas.
Tudo normal… Tudo natural…
Mas o sorriso do Menino, esse… estava lá. E estava lá também o Seu olhar, tão intenso que parecia fitar-me. E aquela voz, dentro do meu peito, igual certamente à que um dia fora dirigida ao jovem rico: Queres?...
Sentei-me no chão a pensar. É Natal. Natal mais uma vez. Natal que se repete ao longo de dois mil anos. Natal!... Sempre igual e sempre novo.
E o Menino que continua a olhar-me e a perguntar: Queres?
E eu quero… mas o quê?
Continuo a olhar o Menino do meu presépio pequenino e compreendo que o que Ele quer é que O amemos e nos amemos uns aos outros, fazendo, de cada coisa pequenina, o nosso Sim, como Maria.
É já manhã e eu mantenho-me a olhar esse Menino que é Deus feito Homem e que sorri, porque espera um mundo diferente, em que o amor vença o ódio e a generosidade a indiferença.
Fico olhando e acabo adormecendo. E sonho com um mundo em que “o lobo e o cordeiro habitam juntos, o menino brinca na toca da serpente e o leão e o boi comem ambos palha”.
É isto o Natal: “Um homem que olha outro homem e o trata como irmão"

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O ontem e o hoje

Ontem festa dos Santos Inocentes.
Recordo os tempos da minha juventude em que este era "um dia diferente" para as noviças e postulantes.
Desde a meia-noite podíamos fazer quase tudo aquilo que nos estava vedado no resto do ano: preparar um repasto melhorado "assaltando" a dispensa, ensaiar representações para a comunidade, ir bater à porta das superioras a pedir um presente para festejar o dia...
Enfim!... dos Inocentes massacrados lembrávamo-nos pouco...Eles já estavam no céu, junto do Pai, gozando das alegrias eternas.
Hoje, a situação é outra. Para mim, que já não brinco aos "santos Inocentes" e para todos nós que lembramos, nestes dias de Alegria, que há outros mártires: crianças,também, mas jovens, adultos e idosos. Gente que morre simplesmente porque é cristã, porque é apanhada numa luta entre os que seguem Jesus Cristo e os que O odeiam.
E neste tempo de Natal, em que tudo devia ser Alegria, porque Jesus veio habitar entre nós, há esta sombra negra que torna mais escura e mais presente as preocupações e dores que nos apoquentam.
Mas, não nos podemos deixar abater. Há que aumentar a nossa Fé e a nossa Esperança e cantar como os anjos: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra" . Temos que saber que uma coisa e outra são possíveis,
porque Ele está connosco.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A coragem de João

Ontem foi a festa de S. João Evangelista. Ele, aquele apóstolo "que Jesus amava" o que estava junto à cruz e a quem o Senhor entregou a Sua Mãe.
Talvez por tudo isso me lembrei duma meditação de Monsenhor Francesco Follo em que ele comenta a coragem de João ao levar consigo Maria, a mãe dum criminoso.
Nunca tinha pensado nisso... Mas, realmente, naquele momento, aos olhos do povo e dos chefes que o haviam condenado, Jesus era simplesmente um homem que tinha sido acusado e merecido o suplício da cruz. Só depois é que veio a ressurreição , a descida do Espírito Santo, a capacidade dos apóstolos de superar o medo e se dirigirem a todos os que os ouviam e acusá-los de terem morto um inocente e que era Deus.
João, no momento em que acolheu Maria superou todas as dúvidas, arriscou todas as inventivas, desprezou todas as ameaças. Foi realmente um Homem de coragem !
E ele, convida-nos a sermos corajosos, a receber Maria em nossa casa, abrindo-lhe o nosso coração. Assim, podemos ter a certeza de que carimbamos a nossa felicidade, sobretudo neste tempo em que ainda estamos a viver o Natal de Jesus Cristo.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.



sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Últimos passos

É ante véspera do Natal.
Fazem-se os últimos preparativos para receber Jesus.
Ultimam-se os ornamentos do presépio e da capela, arranja-se o refeitório para a ceia de Natal, compram-se as últimas lembranças que quereríamos oferecer como recordação da vinda do Menino...
Âs vezes pensa-se que estamos mais ocupados com o "acidental" do que com o "principal" que é o Deus que vem,
o que pressupõe a nossa preparação interior.
Mas eu, que gosto de me interrogar, pergunto-me se não estamos a cumprir a mensagem que os Anjos nos trouxeram: " Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens". Toda esta actividade a que nos dedicámos não é um reflexo desse desejo de louvor e um propósito de paz?
Esqueçamos dúvidas e questões, inquietações e dores e, na Alegria e na Esperança, preparemos a nossa caminhada até Belém.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Dúvidas e certezas

Um amigo meu, outro dia em conversa, deu-me uma "dica" que me fez pensar: Na vida, há mais soluções que problemas. 
Engraçado! Nunca tinha visto assim as coisas. Habitualmente, preocupamo- nos com as nossas dificuldades, inquietamo-nos com questões que se nos apresentam, desiludimo-nos com as oportunidades que se nos escapam... E ficamos acabrunhados, doloridos, inquietos.
Mas, lembramo-nos da imensidade de soluções que se nos podem apresentar? Tentamos, alegremente, encontrar resposta para os problemas que nos incomodam? Se o fizermos, certamente  vemos uma solução mais perto do que imaginávamos. É que " Deus não se deixa vencer em generosidade"  e se Ele permite dificuldades e dores, vai proporcionar certamente, processos eficientes de resolução.
Onde está a nossa Fe?
Que fizemos da nossa Alegria de viver?
Onde deixámos a certeza de que " nada acontece por acaso" ?
Neste tempo de Advento é bom que alimentemos a certeza de que "há mais soluções que problemas".
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Apelos

" Ide.. não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias, nem dinheiro..."
Era uma recomendação feita por Jesus aos apóstolos antes de  os enviar.
Será que ela não se dirige também a nós, nesta caminhada  que somos chamados a percorrer até ao Natal? Talvez pararmos para reflectir: O que espera Deus de nós? 
Não vale a pena pensar em situações complexas, em planos sofisticados, em compromissos que ultrapassam as nossas capacidades de doação... 
Levar o Evangelho "à letra" não é pedido dirigido a todos. Mas o que Jesus solicita de cada um de nós, neste Advento, é que abdiquemos do supérfluo, renunciemos mesmo a um pouco do necessário, olhemos com Amor para os que nos rodeiam e partilhemos o que temos com os que não têm.
Não nos angustiemos com o "amanhã". É por isso que não devemos levar bagagem connosco. Basta-nos a confiança e a certeza de que na oração encontramos sempre força para enfrentar e ultrapassar dificuldades e inquietações. 
Olhemos o presépio, onde se espera a vinda do Menino e, entretanto, vamos ao encontro dos outros, em que Ele já está presente.
Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O caminho continua

                                                      Continuamos a nossa caminhada que nos vai levar até ao Natal.
Neste percurso podemos lembrar Maria. Também ela teve um caminho complicado a percorrer. Primeiro, foi a Anunciação, aquela visita inesperada do Anjo que traz surpresa, talvez dúvida, por ventura inquietação. Depois, a ida até à casa de Isabel e a revelação que esta lhe faz que ela vai ser a mãe de Deus.
Entretanto, o encontro e a vida com José, que não sabemos como foi.
Em seguida, a vinda até Belém para dar cumprimento à ordem do Imperador, a procura dum lugar para ficar, o nascimento naquela gruta ou cabana de que nos fala a tradição.
Maria percorreu o seu caminho. Correspondeu ao plano de Deus. Disse Sim e não olhou para trás.
Peçamos a Maria que nos ensine e nos ajude a percorrer, sem hesitações o nosso caminho, por mais complicado e difícil que ele seja.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.