terça-feira, 31 de março de 2015

Caminhando...

Estamos a viver uma semana em tudo igual e em tudo diferente das outras semanas do ano.
É um tempo cheio de Graças, de Mistério, de contradições.
É uma semana densa, pesada, em que mesmo sem querer temos uma sensação de desconforto, de tristeza, de perca. Parece que nos devemos sentar aos pés da cruz chorando todas as dores e todos os erros mas, ao mesmo tempo, sentimos que é preciso preparar a ressurreição que vai chegar, bem como a oferta eterna da presença de Cristo na Eucaristia.
É uma semana de contradições!
Jesus retirou-se discretamente porque "ainda não chegou a Sua hora"... Mas no seu coração certamente se sente já a angústia da hora que se aproxima :
"Pai que se faça a Tua vontade".
E a vontade do pai pressupõe humilhação, despojamento, dor, morte.
Durante estes dias de espera (digamos assim) os acontecimentos futuros vão passando pela mente de Jesus e a Sua humanidade  revolta-se, apesar do dom oferecido e aceite voluntàriamente.
"Pai, afasta de mim este cálice..." É a paixão e a morte mas também a traição de Judas, a negação de Pedro, o abandono dos Apóstolos, o sofrimento de Maria.
Nestes dias de espera, aguardando e preparando a Ressurreição, voltemos a dizer o nosso Sim, aquele que pronunciámos no dia da nossa escolha e, juntemo-nos a Jesus na Sua caminhada.
              Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.



domingo, 29 de março de 2015

Entrada em Jerusalém

                                                                                                       
                                                                                                       
                                                     Começamos a Semana Maior.


Maior, não porque tenha mais dias que as outras. mas porque é mais fértil em acontecimentos, factos que provocam a nossa reflexão, contradições...
Contradições que nos surpreendem e emocionam, dando-nos motivo para grandes interrogações.
Hoje, a multidão em festa aclama Jesus como o seu rei, acompanha-o triunfalmente até Jerusalém.
Daqui a três dias, a mesma multidão (ou outra, não importa) em fúria, pede a condenação do mesmo Jesus.
São as contradições dos homens!... 
Mas também a de Deus que oferece o Seu Filho, muito amado, para salvação dos homens, Seus filhos também.
Acompanhemos Jesus nesta procissão dos ramos. Cantemos Hossanas ao Filho de David; acompanhemos a multidão que saúda aquele que julgam os vai libertar da escravidão do povo estrangeiro. Nós sabemos que a libertação é outra, a que pressupõe dor, morte mas , depois, ressurreição.
É um Rei ressuscitado aquele em que acreditamos, um Rei que nos oferece um reino formado na dor e centrado na Verdade: um reino de desprendimento, de alegria, de dom e de partilha.
É para esse reino que Jesus nos convida neste domingo, um reino de glória e drama antecipados. Queremos desiludi-Lo?
                   Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Anunciação

                          Solenidade da Anunciação de Jesus



Maria... uma jovem simples , amando a Deus a quem prometera fidelidade, filha dum casal vulgar de Nazaré... Vivendo numa cidade como tantas outras... Prometida a José...
Um dia... Um anjo enviado por Deus, fala-lhe e modifica todos os seus projectos. Mas ela, embora expectante, diz sim. E com o seu sim colabora na História da salvação.
Somos como Maria, confiantes e disponíveis? Ou não deixamos que nos transtornem os planos?
Mas não nos esqueçamos que os planos de Deus não são os nossos planos.
                               Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Inseguranças

A vida muitas vezes surpreende-nos, alterando os nossos projectos, as nossas intenções e até as nossas  "margens de segurança". Deixa-nos "sem graça" como dizem os brasileiros; atordoados, dizemos nós.
Outro dia, em casa, desfolhando albuns de família antigos, deparei com as fotografias da formatura dos meus sobrinhos. As dos mais velhos já um pouco desvanecidas; a da mais nova brilhante, porque muito recente. No meio, também a minha, que não sonhava encontrar naquela "galeria de recordações".
E relembrei aquele dia da bênção das pastas com aquelas 8 fitas azuis penduradas : a do sr. Cardeal, dos pais, dos irmãos, da família, do noivo, dos professores, dos colegas , dos amigos...
Por acaso, até só tenho sete porque uma amiga ficou-me com a fita. Mas não faz mal. Os verdadeiros Amigos estão no coração, não é verdade?
E depois... sete não é um número bíblico? As sete pragas do Egipto... os sete pecados mortais... o perdão setenta vezes sete... os sete sacramentos...
Mas, não foi aqui que a Vida me surpreendeu. De alguma maneira era um fim previsível, uma vez que tinha um curso a meio e servia para dar aulas...
As surpresas, os confrontos, vieram depois, nos "sins" e nos "nãos" que foi preciso dar, nas propostas e alterações que me apresentou, nos sonhos que me acalentou e nas realidades em que me projectou. No "hoje" que já foi "ontem".
É de luz e trevas o nosso caminho, de sombras e sol, de alegrias e inquietações.
Mas... para que nos serve a Fé se não acreditamos que "não nos cai um cabelo da cabeça sem que Deus o permita"? Onde está a nossa Esperança se não acalentamos a certeza de que Deus "que alimenta as aves do céu" está presente em cada um dos nossos passos?
É com Fé e Esperança que temos que viver.
O mas... o apesar de... o mesmo que... o talvez... são dúvidas que não podem ter lugar numa vida em que Cristo é o centro.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

terça-feira, 17 de março de 2015

Problemas teológicos e /ou questões políticas?

" A glória é efémera" ! Verdade irrefutável e muitas vezes injusta.
Por vezes,o desejo de fazer mais e melhor, o lutar por uma verdade que nos parece uma certeza absoluta, o defender princípios que se nos apresentam como realidades inegáveis, conduzem-nos a finais que não são felizes. É talvez o caso de Girolamo Savonarola.
Ele era um intelectual cheio de talento que dedicou alguns anos da sua vida a estudar Filosofia e Medicina. Mas foi a vida religiosa Dominicana que o atraiu e pode mesmo ser considerado como um dos reformadores dominicanos.Nasceu em Itália em 1452 entrando para a Ordem dos Pregadores em 1474 no convento de Bolonha. 
No entanto, foi em Florença que a sua pregação alcançou maior sucesso. Todo o florentino ia a S. Marcos ouvir Savonarola. Na sua pregação opunha-se veementemente à influência pagã trazida pelo Renascimento e lutava, com grande ardor, pela salvação das almas. Exagerado, talvez!...
Porque considerava que a Lei de Cristo devia também ser a base da vida política, ao mesmo tempo que da social, contestava tanto a Corte como a Igreja, nas suas pregações.
Não foi compreendido no seu zelo apostólico nem aceite por alguns.
Assim, gerou um conflito com Alexandre VI  que o proibiu de pregar. Porque achava injusto e inoportuno, não obedeceu e acabou por ser excomungado, por desobediência às ordens papais. E, porque continuava a lutar contra os excessos da vida religiosa e civil, que considerava contra a Verdade que ele defendia, foi condenado pela lei civil, executado e queimado na fogueira.

Apesar de tudo, uns consideram-no uma vítima das suas ilusões mas outros falam dele como de um santo. E a maioria tem-no como um dos precursores da Reforma do sec. XVI.

Savonarola é mais uma figura polémica que mostra a diversidade de mentalidades e de vida que o próprio S. Domingos preconiza.

Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Choques e contestações

Há amigos meus diante dos quais fico impressionada pela humildade com que são capazes de apresentar a verdade do seu "eu" , num desnudar da sua realidade e do seu íntimo. Parecem livros abertos em que a verdade se apresenta.
Mas há outras pessoas que se dizem "chocadas" com tal abertura de alma porque consideram que isto as expõe à incompreensão e má interpretação de quem os ouve ou lê.
Eu também fico "chocada"  mas é no bom sentido. Esses amigos tocam-me profundamente com essa capacidade de abrir a alma , capacidade que eu não tenho. Sensibiliza-me que um amigo meu seja capaz duma atitude de humildade e simplicidade que o leva a apresentar as suas alegrias e tristezas, as suas aspirações e desânimos, os seus triunfos e derrotas. É um incentivo para todos nós e uma graça. No fundo, é a sua manifestação de humanidade. E, alguém pode pensar em "pessoa" sem descortinar sentimentos, sem reconhecer alegrias e dores, sem imaginar vitórias e pecado?
Até Jesus se nos revelou na Sua humanidade quando pede ao Pai para afastar dele aquele cálice, quando chora pela morte de Lázaro, quando olha com complacência o jovem rico que se afasta, quando acolhe Nicodemos que vem até Ele e Lhe revela a sua Fé...
Realmente era bom que todos fôssemos capazes de nos mostrarmos iguais a nós mesmos diante do Pai e dos irmãos. Era excelente que a humildade nos permitisse despir a carapaça de que nos revestimos e mostrar o Bem e o Mal que há em nós. 
Talvez ser essa a nossa intenção para o resto desta Quaresma...
Pelo menos, para os que não têm como arma a humildade, alicerçada na Fé e no Amor.
 Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Apelo indirecto

Ler a transfiguração no Evangelho de S. Mateus sempre me confunde e impressiona.
É um apelo velado, um recado por via indirecta.
Esta descrição contem, no seu realismo, uma série de verdades que são mensagens para nós descodificarmos, recados directos ou indirectos.
A primeira realidade: a revelação de que Jesus é o Filho de Deus feito Homem. Uma verdade conhecida mas sempre nova se a quisermos aceitar e viver na novidade de cada dia.
Depois, a atitude dos Apóstolos: espantados, emocionados mas felizes também. Dobram-se até ao chão mas não é o medo que os põe nesta atitude. É a certeza duma realidade que os transcende e não podem entender até ao fim. É uma atitude de submissão, de veneração, de abandono perante o "grande", o divino. Respondem com um acto de generosidade espontânea: "Façamos aqui três tendas..." Mas não são para eles, não. São para Jesus , para Moisés, para Elias...
É uma lição que nos dão. Mais uma : a generosidade face à revelação que acabaram de receber e que não os faz fechar em si mesmos. Para eles, apenas a felicidade de estarem ali.
Mas... surpresa! É preciso regressar e fazê-lo sem protestos nem lamentos. Outra lição, esta de submissão e disponibilidade, ao aceitarem guardar para eles tudo o que viram e ouviram.
Guardar... até quando? "... até que Eu tenha ressuscitado"
Não perguntam mais nada. Aceitam simplesmente guardar tudo no fundo dos seus corações. E por quê?
Simplesmente porque confiam, acreditam naquele a quem chamam Mestre.
É esta a atitude confiante que precisamos ter. É este o recado que o Evangelho nos transmite.
Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Reflexões sobre adultos e crianças

Parece que chegou a Primavera. Estava uma manhã luminosa e cheia de sol
Enquanto a carrinha em que vou se desloca para Lisboa, vou analisando as pessoas que passam, nos outros carros.
Duma maneira geral  vão com um ar fechado, soturno, aborrecido, nada condizente com a alegria do ambiente exterior. Talvez tenham dormido mal... ou pouco... penso eu.
Tento sorrir a cada um que passa  numa tentativa de lhes lembrar  que, mesmo no meio das maiores preocupações ou adversidades há sempre um lugar para a esperança, uma réstia de luz ao fundo do túnel.
Às tantas, num automóvel, uma criança que me diz adeus com a mão. Correspondo e, durante segundos, conversamos, numa conversa muda, feita de sorrisos e de gestos.
Uma criança! A única que parecia condizer com este dia de quase primavera.
Lembrei a advertência de Jesus : "Se não fordes como crianças, não entrareis no reino dos céus..."
Como crianças... com a sua alegria, a sua espontaneidade, a sua natural generosidade...
Por que será que à medida que  crescemos vamos perdendo naturalidade, simplicidade, alegria e... nem sei que mais. Tudo o que nos afasta das crianças?
Vamo-nos deixando envolver pelos problemas, o trabalho, o imediato; permitimos que as preocupações e dificuldades agridam o nosso "eu" ; vamos esquecendo o essencial e o transcendente; deixamos de ter tempo para descer dentro de nós e nos confrontarmos com a imagem do Pai.
E, se calhar, ficamos "velhos" e "azedos" sem querer...
Acho que tenho que pedir : Senhor, devolve-nos o nosso espírito de criança!"
Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

terça-feira, 10 de março de 2015

" O saber não ocupa lugar"

Por isso é bom que conheçamos nomes e pessoas de quem não se fala ou se fala  muito pouco. No entanto, tiveram às vezes, um papel importante ou realizaram trabalhos reconhecidos . É o caso de frei Juan Bautista Maíno. Sabeis quem é? Já ouvistes falar nele? No entanto, foi um pintor, um  frade dominicano que até foi mestre de pintura do filho de Filipe II.
É um Italiano que, por acaso, tem uma costela portuguesa por parte da sua mãe. E, há circunstâncias na vida bem originais... conheceu a terra da sua mãe precisamente quando Filipe II veio a Portugal e Frei Juan o acompanhou.
Nasceu em Itália em 1581 e por lá fez a sua formação artística, influenciado por autores e obras bem conhecidos.
Durante a juventude foi convidado a pintar em inúmeros locais como a catedral de Toledo  e o convento dominicano de S. Pedro Mártir.
E talvez, porque não há acasos, foi aqui que Deus o chamou à vida religiosa, por influência do ambiente em que estava a trabalhar.
"Deus tem razões que a razão não conhece..."
Tinha 32 anos quando se fez Dominicano mas mesmo depois de professar não deixou de expressar a sua Fé e pregação através da pintura.
É mais um nome, uma figura que nos torna presente S. Domingos e a sua Ordem que se prepara para comemorar os 8oo anos da sua fundação.