domingo, 30 de setembro de 2012

Se a Obra é de Deus...

" Se a obra é de Deus, Ele providenciará"

Era lema da Madre Fundadora, em que devemos acreditar e que devemos ter bem presente, em especial neste ano em que comemoramos os 175 anos do seu nascimento.
Nem sempre é fácil!...
Mesmo sem querer, vem-nos à mente uma pergunta: " Se é assim, porque parece tantas vezes que Ele não está interessado em providenciar?"
E a resposta não é tão óbvia, tão simples como a pergunta se nos apresenta.
É que, muitas vezes nos afadigamos, nos preocupamos, nos empenhamos nos trabalhos que temos em mãos e nem sempre os resultados são os supostos, os que esperávamos, os desejáveis.
Entregamo-nos, de alma e coração, por amor de Deus, (dizemos...) àquela ocupação em que estamos envolvidos. Esperávamos que Ele fizesse a Sua parte... E nem sempre as coisas correm como queríamos, como gostávamos. E, no entanto, julgamos estar a realizar a Missão que Deus nos confiou...
Acabamos, muitas vezes, por desanimar, ficar preocupados, entristecer. Porquê? Para quê?
Talvez perguntarmo-nos várias coisas. Entre elas: Onde está a nossa confiança? Onde se escondeu a nossa certeza de que se a obra é de Deus, Ele providenciará para que dê bom fruto?  Quando nos inquietamos, nos desgostamos, nos parece ter errado nos nossos objectivos, não será porque estamos a trabalhar pela obra e não por Deus, a quem a obra pertence? Ele apenas quer precisar das nossas mãos, dos nossos olhos, da nossa disponibilidade , para realizar o Seu plano...
E finalmente, interroguemo-nos: Será que o nosso trabalho não resulta porque afinal não é essa a vontade de Deus?
Confiemos, como Teresa de Saldanha, "quando a obra é de Deus, Ele providenciará".
                                                 Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

sábado, 29 de setembro de 2012

" My Way"

Como os meus amigos sabem que eu gosto de música, sobretudo música clássica mas não só, enviaram-me hoje uma gravação do " My Way " de Paul Anka, numa versão cantada por Frank Sinatra.
Ouvi-la, foi um gosto, mas também um motivo para reflexão.
De certeza o caminho dele não foi o meu caminho nem a maneira de ele fazer as coisas foi o meu modo de realizar a minha vida e os meus sonhos.
Mas a verdade é que todos nós temos um processo de alcançar o que idealizamos, " a nossa maneira", atrás da qual escondemos muitas vezes frustrações e desalentos, alegrias e aspirações.
É que todos temos um caminho a seguir, uma opção a fazer, uma escolha a realizar. E ela pode ser determinante para o nosso futuro...
Em todos os caminhos há "ganhos" e "percas":coisas que se agarram, valores que se ganham, batalhas que se vencem e outras que se perdem, que ficam pelo caminho, que se abandonam conscientemente.
Em todos os caminhos há alegrias e esperanças, tristezas e desilusões. Em todos eles encontramos veredas direitas e alegres e atalhos estreitos e sinuosos.
Mas são caminhos que escolhemos e temos que percorrer "à nossa maneira" , com o entusiasmo da nossa juventude, sempre renovado, com a força da nossa Fé, sempre alimentada, com a certeza da vocação que escolhemos.
Mudar de estratégia, de atitude, de maneira de ver e de proceder, pode ser uma necessidade das circunstâncias, do "hoje"e do "aqui".
Mas uma certeza temos que ter: o nosso caminho é o da Santidade e a " nossa maneira" a da correspondência ao Amor de Deus.
                                        Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
 
 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Palavras Mágicas

Neste tempos conturbados em que o Outono chegou e o tempo triste nos invade, há palavras que se repetem e cuja agressividade se torna mais evidente.
Neste momemto, somos bombardeados constantemente com um vocabulário que se torna repetitivo:
a crise, as manifestações, as greves, a austeridade...
Não há notícia de jornal nem noticiário de TV que não gire em torno destes termos sensacionais. A favor ou contra, todos têm uma palavra para dizer, um argumento a apresentar.
Quando se fala de "crise", pensa-se na crise económico-política, que invade Portugal e a Europa. Mas estamos a esquecer outras crises igualmente difíceis e perniciosas: a da família, da maternidade, da educação, da Fé...
Manifestações e greves, são necessidades do coração do Homem gritar bem alto as suas frustrações e os seus desejos. Nem sempre válidos, nem sempre lógicos, nem sempre objectivos.
Quando falamos em austeridade, sentimos logo uma cortina cinzenta a envolver-nos, e imaginamos uns fatos negros, uns rostos contraídos.
E, com tudo isto, é a tristeza e o desânimo a invadir-nos.
Com todos estes "sentires" e actuações não temos ocasião para parar, reflectir e lembrar a história de Job, aquele homem do Antigo Testamento que Deus permitiu fosse tentado até à exaustão:
Era rico,muito rico e ficou pobre, indigente;
Tinha uma família, certamente numerosa, como era hábito na altura, e ficou só;
Era saudável, bem constituído e acabou doente e coberto de chagas.
E, apesar de tudo isso, qual a sua reacção?
" Deus mo deu, Deus mo tirou. Louvado seja Deus".
É esta capacidade de aceitação, é esta vivência de Fé, é este sentido de Esperança e de Amor que nos falta.
Se vivêssemos verdadeiramente assim, na disponibilidade, e na confiança, não havia austeridade nem crise que  abalasse a nossa Fé, a nossa Esperança, o nosso Amor, a nossa Fraternidade.
                                    Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Conselhos de S.Paulo

 
Calhou-me outro dia ler a Leitura da Missa. Era um texto da 1ª carta de S. Paulo aos Coríntios.Aquele em que ele faz apelo aos cristãos para que não sejam apenas cumpridores da Lei, mas antes, vivam plenamente essa Lei, para poderem dar testemunho dela. Novamente o problema do testemunho...
Recordei-me hoje dessa leitura e relacionei com um texto que vi recentemente. Nele falava-se dos fariseus e da sua capacidade de querer parecer em vez de ser, do seu costume de fazerem as coisas, cumprir o que estava mandado, serem fiéis às normas estabelecidas, só para serem vistos e apreciados.
Também nós, muitas vezes, somos simples cristãos de fachada: limitamo-nos a cumprir em vez de viver. E, com que facilidade somos especialistas na arte de representar, de mostrar uma humildade que não sentimos, uma simplicidade que é apenas fantasia!...
E, para quê? Qual a razão de nos querermos mostrar simples e despretensiosos, quando o não somos?
Estamos somente a ser como os fariseus: parecer o que não se é. E o importante era realmente vivermos em simplicidade, em verdade, em humildade. Até porque a humildade é que nos une a Deus. É ela que faz que, se nos despojarmos, a graça de Deus nos venha preencher.
E as palavras de S. Paulo não me saem do pensamento. Bem aventurado S. Paulo tão simples e tão complexo!...
Ele não queria ser actor, não queria representar; queria viver uma Fé a que Jesus o tinha chamado; queria persuadir os seus ouvintes da necessidade de ser cristão o que significa ser de Cristo e como Cristo proceder.
Ele era o primeiro a sê-lo e a testemunhá-lo.
Ouçamos S.Paulo, meditemos nas suas palavras, entendamo-las até ao fim e viveremos a Lei de Deus , que não é, nem mais nem menos, do que a Lei do Amor.
                               Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P. 


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Sociedade de informação versus sociedade do conhecimento

Li há tempos um artigo do Eng. José Lagarto em que o autor falava da sociedade de informação versus a sociedade do conhecimento e citava o papel da escola nesta importante e oportuna evolução.
Na altura achei muito interessante o artigo e digno de reflexão, para mim, em particular, como professora que sou. Ali, punha-se em relevo o papel que a escola tinha na transformação da informação, no sentido de levar os alunos a fazerem dessa informação, material para a construção do seu conhecimento.
Era ao professor que competia desempenhar o papel transformador do somatório de informação que possuía,  transmitindo-o em conhecimentos, a serem utilizados pelos alunos.
A sala de aula, bem como as visitas de estudo e toda a actividade de complemento de conhecimento, eram o laboratório onde o aluno recolhia e "experimentava" conhecimentos de que fazia "cultura".
Depois, chegou a TV, o computador, a internet e o processo de "culturação" modificou-se.
Os alunos passaram a ir buscar os seus conhecimentos a estas novas fontes de cultura. Mas o papel da escola e dos professores não morreu. Apenas se modificou. Cabe-lhes orientar os alunos na busca e na aplicação dos conhecimentos que depois se vão transformar em cultura e preparação do futuro. E são eles, professores, que ajudam na ampliação do conhecimento, na aplicação correcta da informação recolhida, na elaboração da ideia e na realização de projectos futuros.
Estas "ferramentas" novas, invadem o nosso ambiente de trabalho e as nossas vidas. Nelas, com elas e por elas passa a transmissão da informação na escola.
É com elas que temos que conduzir o novo processo de ensino-aprendizagem porque são elas a grande e verdadeira aposta do futuro.
Mas temos que estar atentos porque não há só benefícios nestes métodos. Os alunos devem utilizá-los com critério e discernimento. Aproveitar o que têm de bom e estar atentos aos prejuízos, é um desafio que a vida actual nos coloca e que é preciso ultrapassar para conseguir alunos que sabem pertencer a uma autêntica sociedade de informação e tirar dela o melhor partido.
                                 Ir. M.Teresa de Carvalho Ribeiro,o.p. 
 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

La vie du petit Saint Placide

Dando uma vista de olhos pelas prateleiras da biblioteca da comunidade deparei-me com um livro pequenino, sem aparência,de capa de papel, mas que fez parte do meu stoc de leituras quando ainda jovem religiosa.
Era a vida de S. Plácido.
Não é bem um livro. É antes uma sequência de imagens com legendas que contam a vida do monge beneditino Irmão Plácido.
Voltei a lê-lo, com o mesmo entusiasmo de há anos.
É que a vida deste monge pode ser a minha, a sua, a de toda a gente: a freira, o padre, o casal, o jovem estudante, a mãe de família trabalhadora...
Em todas as vidas há as alegrias, os entusiasmos, as descobertas, as contradições, as dúvidas, as tentações... E também o valor da Fé e da Esperança e a presença constante e actuante de Jesus e Maria.
Plácido foi para o mosteiro com dois anos e apenas conseguia dizer a palavra Sim. Era a preocupação dos pais esta sua limitação linguística mas talvez fosse esse o sinal da sua disponibilidade para ir ao encontro do apelo de Deus.
O Ir. Plácido viveu as dificuldades de qualquer elemento duma vida comum. Em sociedade, todos temos que ultrapassar situações difíceis e mesmo insolúveis.
Ele conheceu as alegrias da dádiva e do testemunho, as dificuldades da tentação e a força da oração, sabendo que rezar era passar a sua vida para a vida de Jesus.
Viveu as agruras da doença com a alegria do Amor e reconheceu na morte a fecundidade da vida, a Missa plena que foi toda a sua vida.
 
Neste pequeno livro, onde o texto são apenas frases há inúmeras lições que podemos aprender e fazer nossas para, como ele, encontrarmos a Alegria do compromisso satisfeito.
 
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

" Vós sois minhas testemunhas..."

Estava quase recomposta daquela inquietação que me deixara a criança que queria que eu rezasse pelos tios, quando duas outras situações me voltaram a pôr o problema do testemunho.
Primeiro, foi uma senhora de meia-idade que me abordou na rua. Pediu-me que rezasse por ela, pelos seus problemas, pelas dificuldades que lhe amarguravam a alma. Certamente Deus me ouviria melhor do que a ningém, disse. 
Lá puxei do meu reportório de Esperança  e de Fé, coisa em que sou pródiga, e a senhora seguiu mais animada, espero!
Mas a minha inquietação voltou, mais intensa, se possível.
E fui apresentá-la ao Pai... Eis senão quando, uma jovem se abeira de mim e me diz, algo emocionada: " Fui vossa aluna, no Restelo; o meu pai morreu ontem e está aqui na igreja; ver a Irmã, aqui, agora, é para mim uma coisa muito especial."
Fiquei sem palavras mas não sem o problema.
É a questão do nosso testemunho de cristãos. Como é que os que o não são, os que não têm Fé, podem perceber que vale a pena acreditar, seguir Jesus, ser cristão? Como é que podem ter a certeza que Deus também conta com eles?
Temos que lhes mostrar que sabemos que a felicidade é o nosso modo de viver, felicidade em Deus, aproveitando o que de bom a Vida nos dá e ultrapassando os maus momentos, acreditando que eles são os contratempos que é preciso vencer, sorrindo.
Em tudo e em todos há um lado bom. Às vezes o difícil é fazer o esforço para encontrar esse lado bom . Mas aí entra a Fé!
Para Jesus também houve momentos de alegria e felicidade e maus momentos que terminaram com a morte. Mas a morte não foi o fim.
Depois dela veio a ressurreição, com a sua promessa de vida eterna.
E da cruz, Jesus deu-nos a todos como filhos, a Sua Mãe. E antes, deixara a Pedro a missão de espalhar a Boa Nova do Evangelho.
Maria sofreu junto à cruz mas sorriu porque tinha à sua guarda de mãe aqueles que pelos tempos fora seguiriam a mensagem do seu Filho.
Cada um de nós, também, mesmo nos momentos de dor, de dúvida, de inquietação,temos que aprender a sorrir porque o Senhor está lá  e espera que sejamos Suas testemunhas.
 
Acreditemos que há sempre um lado bom nas pessoas e nas coisas. Na Vida!
E Deus espera que, como Suas testemunhas, manifestemos essa nossa Fé.
                                                         Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
 
 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Originalidade e persistência

                                                      Os americanos são um povo original,interessante e persistente.
Têm uma história muito recente mas são uma das potências económicas mundiais mais poderosas.
São uma mistura de raças e de povos mas conseguem ser os mais famosos no cinema, nas artes e no desporto.
Têm um processo judicial dos mais eficientes mas está na América a maior concentração de gangues, de assassinos, de deliquentes, de matadores profissionais.
Defendem a liberdade e os direitos humanos mas ainda usam a pena de morte.
São algo ingénuos, mas possuem dos mais famosos cientistas (muitos importados) e dos mais importantes centros de investigação do mundo.
São uma democracia mas com um regimen de votação muito peculiar.
Com tudo isto, o povo americano tem também uma grande virtude: é persistente.
Veja-se o esforço e o dinheiro investidos para conseguirem chegar a Marte. Podemo-nos perguntar se é uma obsessão  e se se justifica o dinheiro dispendido em tantas tentativas falhadas. Mas o facto é que tinham um objectivo e finalmente o cumpriram.
Foi há poucas semanas que, finalmente, o Rover Curiosity chegou ao denominado "planeta vermelho".
O robô, durante mais ou menos dois anos, vai recolher amostras do solo e não só, numa tentativa de descobrir existência de vida microscópica no passado deste planeta.
Valerá a pena, perguntarão alguns.
O conhecimento é sempre importante, mesmo para os Homens de Fé  e que agradecem a Vida a Deus. E a chegada a Marte foi uma conquista para os cientistas americanos.
A mesma sorte não tiveram com o avião supersónico que devia poder transportar aviões e material bélico em poucos minutos.Esteve 5s no ar e despenhou-se no Pacífico.
Erro humano? Deficiência de estrutura? Altos desígnios de Deus?...
A resposta não temos!
A ciência vai continuar a evoluir e os Homens de Fé a acreditar.
                                    Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
 
 
 
 
 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Importância da Drosophila

Estava a tentar fazer um trabalho que exigia alguma concentração e uma mosca importuna tentava distrair-me, voando à minha volta.
Depois de várias tentativas infrutíferas, acabei por matá-la. Então, lembrei-me do esforço que fazíamos na Faculdade para obter, conservar e desenvolver as "moscas de estimação" utilizadas nos nossos trabalhos.
Claro que não eram estas moscas vulgares, mas a célebre Drosophila melanogaster que mereceu honra de monumento nos E.U. E, verdade seja dita, davam muito trabalho: era a papa para as pupas, era a atenção para separar dos pais, as novas moscas assim que nasciam; era a contagem dos machos e das fêmeas, para depois se aplicarem os dados estatísticos e se tirarem conclusões.
Mas a Drosophila tem todas as condições para ser um excelente material de estudo genético em laboratório:
. Morfologia muito simples que permite verificar qualquer alteração;
. Cultura em frascos com papa;
. Gerações que se sucedem muito rapidamente;
. Pequeno número de cromossomas no genoma.
É à Drosophila que Thomas Morgan deve as conclusões a que chegou de ligação de certas características com os cromossomas sexuais, conclusões essas que apoiaram a teoria cromossómica da hetreditariedade.
A primeira prova foi a relação directa entre a cor dos olhos e o cromossoma X.
Como nas fêmeas há 2 cromossomas X, a cor dos olhos é determinada por 2 genes; nos machos, em que há só um cromossoma X é determinada por um único gene.
Geralmenta a Drosophila apresenta-se com olhos vermelhos, cor que domina o branco, que pode contudo aparecer em alguns exemplares, desde que o gene para branco apareça nos dois cromossomas.Para os machos terem olhos brancos basta o gene se encontrar no único cromossoma X.
Se cruzarmos machos de olhos brancos com fêmeas de olhos vermelhos todos os descendentes terão olhos vermelhos. Mas se forem as fêmeas de olhos brancos que cruzem com machos de olhos vermelhos, todas as fêmeas terão olhos vermelhos mas todos os machos serão de olhos brancos.  Foi Morgan que indicou assim que o caracter cor dos olhos está localizado no cromossoma X sem que no Y haja um alelo. Daí,  a transmissão não seguir as Leis estabelecidas.
E este foi um dos contributos da Drosophila para o desenvolvimento da Genética.
                                      Ir. M. teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 
 
 
 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Jesus à porta

"Estou à porta e bato... se alguém me ouvir virá comigo e Eu com ele"
Jesus está à porta mas não força a entrada; não exige que lhe abram a porta, que O acolham.
Não é exigente.
Às vezes é... mas isso é com os amigos, com aqueles que O aceitaram e O seguiram. Santa Teresa de Ávila bem dizia que era por essa exigência que Ele tinha tão poucos amigos...
Mas voltando a pensar num Jesus que não força a entrada, às vezes parece-nos uma situação contraditória quando pensamos nos milagres que Ele fazia. Não seria para se manifestar àqueles que O ignoravam, para forçar aqueles que não O conheciam?
É a tentação que se tem, pensando à nossa maneira humana, quando gostamos de aparecer, de nos evidenciar, de fazer coisas que os outros vejam. Mas Jesus não é assim. Se lermos com atenção os Evangelhos, se repararmos bem, constatamos que Ele fez milagres àqueles que já O tinham acolhido, que O tinham convidado a entrar, que, directa ou indirectamente, tinham manifestado a sua Fé.
Jesus não está só à porta. Também nos fala e espera que O oiçamos e vamos com Ele para poder ir connosco. É a Sua promessa de Amor!
Mas, porque não insiste, não obriga, não exige? Porque apenas espera, persistentemente, que Lhe demos atenção? É tão fácil que O não vejamos nas pequenas como nas grandes coisas da vida...
Quantas vezes choramos, desesperamos, sem nos lembrarmos que o grande Consolador está ali ao nosso lado, esperando apenas que O convidemos a entrar?
E nas grandes alegrias, quando tudo corre bem, lembramo-nos que à porta está Jesus esperando o nosso obrigada, o nosso reconhecimento?
Ele também estava lá, esperando que o recebêssemos na nossa casa, na nossa alegria partilhada, na nossa dor entregue...
                               Ir.M.Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
                               
 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Festa de Nossa Senhora das Dores

No sábado foi a festa de Nossa Senhora das Dores.
Faz sentido esta festa a seguir à Exaltação da Santa Cruz. É que Maria estava lá e foi a ela que Jesus entregou a humanidade, como seus filhos, na pessoa de S. João.
Fazia parte do Sim de Maria ser nossa mãe, estar junto à cruz de Jesus, assistir à Sua dor e à Sua morte, à Sua dádiva ao Pai.
Fazia parte do seu Sim dado na Anunciação.
Não sei exactamente o que rodeou o primeiro Sim de Maria: admiração, dúvida, incredulidade... Mas de certeza que não tinha já toda a carga de incompreensão, de dor, que o preencheria depois.
No entanto, foi já um Sim ao Amor de Deus, um Sim de correspondência ao convite que lhe era feito, um Sim sem restrições nem condições.
Na homilia da Missa da festa de Nossa Senhora, o sacerdote chamou a atenção para o facto de na nossa vida também haver muitos Sins a dizer e os primeiros serem sempre fáceis, rodeados de um ambiente de alegria, de certezas, de amizade.
É assim o Sim da Primeira Comunhão, do Crisma, do Casamento como da Profissão Religiosa ou do Sacerdócio.
É assim o sim do primeiro emprego, do primeiro compromisso, da primeira responsabilidade. Sins incondicionais, confiantes, sem avaliação de consequências.
Só depois é que chegam as dúvidas, as dificuldades, as angústias, a tentação de trocar o Sim pelo Não.
Mas então, é que é o momento de parar e pensar a quem e porquê se deu o primeiro Sim.
É que o Sim que damos, mais ou menos conscientemente, tem que ser, antes de mais nada, um sim ao Amor, como foi o de Maria. E o Amor, presidindo à nossa vida, não se deixa ultrapassar, não permite que as dúvidas se sobreponham às certezas.
Claro que o Amor, que é alegria e dom, também nos pede sacrifícios. Mas estes sacrifícios, estas dúvidas, estas dores, não podem fazer-nos esquecer os Sins que um dia dissemos nem o Amor a quem eles foram dirigidos.
Como Maria, junto à cruz, temos que tornar tão grande o primeiro Sim que englobe todas as dificuldades, receios e dores.
O Pai conta connosco e com o nosso Sim!
                                Ir. M.Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Festa da Exaltação da Santa Cruz

Esta é uma festa que pode deixar um pouco perplexos crentes e não crentes. É que exaltar a cruz parece uma contradição entre a dor e a alegria, a humilhação e  a glória.
Exaltar, diz o dicionário, é sinónimo de elevar, enaltecer, glorificar. E cruz, numa primeira visão, não mística, é algo de triste, doloroso, sacrificante. E, no tempo de Jesus, era mesmo a condenação mais infame, a reservada àqueles que não tinham classificação na sociedade.
 
Ninguém gosta de sofrer. Ou melhor, os masoquistas parece que têm prazer nisso mas são excepções...
O sofrimento é algo que aceitamos por amor, com maior ou menor entrega, mas que, habitualmente, não é a nossa primeira opção.
Mas, se pararmos e olharmos a cruz de Cristo e voltarmos a ler a descrição dos acontecimentos, como os Evangelhos nos relatam, parece que nos sentimos presentes, participantes da situação e que foi a nós que Jesus disse: Eis aí a tua mãe!
Olhamos a Cruz e vemos para além dela a Ressurreição.
Esquecemos o sofrimento, a humilhação, a angústia, tudo aquilo que fazia parte do dom total de adesão à vontade do Pai.
Só nos salta aos olhos o Cristo ressuscitado, Aquele cujo sofrimento nos salvou e libertou e nos convida a segui-Lo na Alegria do Amor.
A Exaltação da Santa Cruz está aqui: na absoluta glorificação do Amor de Cristo por nós.
É a certeza da Sua entrega à vontade do Pai e do Seu dom total aos Homens, na humildade, na simplicidade, no silêncio.
                                          Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Recomeçar

Quando as folhas amarelas começam a cair anunciando a chegada do Outono e o céu mais cinzento fica mais triste, as crianças e jovens invadem ruas e jardins, com a sua alegria, parecendo dizer que  a Primavera vem a caminho.
Ironia do destino, da vida, do tempo.
Realmente o Outono está a chegar mas o que já teve início foi o ano lectivo. E as crianças e jovens são convidadas a esquecer as férias e, com a sua alegria natural e esfuziante, começam a encher ruas e praças, animar autocarros, alegrar escolas, e dão algum simulacro de entusiasmo aos tristes e desiludidos da vida.
As aulas começaram!
Retoma-se a rotina mas com novos projectos, intenções, promessas...Recomeça-se a vida escolar mas mudam os livros, os professores, as aulas...Talvez a escola.
Recomeça-se, às vezes com alguma desilusão. É que, quando se pensa em recomeço, encaram-se as mudanças na expectativa de que o "hoje"nos traga o que o "ontem" nos não facultou e fazia parte dos nossos anseios e ambições.
Criamos ilusões, alimentamos sonhos impossíveis, acreditamos na possibilidade do "tudo", mesmo daquele que não conhecemos minimamente.
O recomeçar, sobretudo para os jovens, é como o esquecer o que foi e imaginar o que será, alicerçado em ideias vagas e ilusões criadas. Mas para os adultos também...
Por isso, se sentem muitas vezes frustrados, desiludidos, algumas vezes desanimados.
Mas, é preciso reagir!  
Olhemos o futuro com optimismo porque cada ano é, em si mesmo, uma novidade, pelas aprendizagens que se fazem, pelas descobertas que se conseguem, pelas amizades alimentadas, pelas aventuras sonhadas e realizadas.
Saibamos agradecer a oportunidade de mais um ano para viver, tendo a certeza de que é um dom que recebemos e não podemos desperdiçar. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Honrar pai e mãe...

Todos os dias a TV e os jornais nos inundam com notícias mais ou menos impressionantes. Ora é a "crise" e suas consequências dramáticas, ora são os fogos e os milhares de quilómetros ardidos, ora são os assaltos e agressões.
Mas hoje li uma notícia, de há já algumas semanas, que me deixou angustiada: filho que agride pai idoso. Não é a primeira vez que são divulgadas notícias destas, mas sempre fico chocada e a perguntar-me quem são estes filhos que agridem os seus pais? Quem são estes homens e mulheres que atacam, mesmo que seja verbalmente, aqueles que lhes deram o ser e merecem o seu respeito, se não o seu amor?
Estão completamente esquecidos dum mandamento que já vem do Antigo Testamento: "Honrarás teu pai e tua mãe..." 
Será que estes pais têm a sua quota parte de culpa na atitude dos filhos? Talvez não lhes tenham dado a atenção que eles precisavam; talvez não lhes mostrassem o amor que eles necessitavam; talvez não lhes manifestassem o afecto que sentiam por eles, porque lhes custava exteriorizar os seus sentimentos. Talvez!
Ou quem sabe? na ânsia de os compensarem, de satisfazerem os seus caprichos, por maiores que fossem, deram-lhes coisas demais, presentearam-nos demasiado, tiveram em atenção as suas exigências e não souberam dizer "Não".
Não lhes ensinaram a partilhar, não lhes mostraram a alegria de dar, não lhes fizeram saber que na vida há dificuldades e contrariedades.
Assim, cresceram crianças, adolescentes, e jovens egoistas, insensíveis, egocêntricos.
Não amam os pais, não os respeitam, não dividem com eles os seus interesses e as suas aspirações. Ficam de tal maneira fechados em si mesmos que se tornam agressivos , violentos, insatisfeitos consigo e com a vida.
Mesmo sem falar em mandamentos, onde está a solidariedade e o carinho que nos devem merecer as pessoas idosas?
Elas são muitas vezes um testemunho de vida, a herança que nos fica de valores, de saberes, de atitude de humanidade.
 
Deus diz-nos para respeitarmos os nossos pais mas nem devia ser preciso. Ele dá-nos o Seu exemplo, o Seu testemunho de Amor.
                                              Ir. M. teresa de Carvalho Ribeiro,o.p.
 

domingo, 9 de setembro de 2012

Interioridade-ativismo

O estar desocupado é algo que influencia negativamente a nossa satisfação pessoal, a disposição com que acolhemos os outros, o modo como olhamos a Vida e as coisas.
Deixar correr as horas e os dias, sem lhes dar uma ocupação útil causa em nós angústias, neurastenias, desinteresses.
É que não se trata de fazer uma pausa, de criar um momento de descanso, de reflexão, indispensáveis depois duma tarefa árdua. Não! É simplesmente gastar o tempo, deixar que os dias passem, uns após outros.
Talvez para não chegarmos a esta situação ou por deformação própria, muitas vezes ocupamo-nos demasiado, num frenesim de actividades, de trabalhos, de ocupações, muitas sem razão e que causam stress e são incontroláveis.
Passamos a não ter tempo para nada, não conseguimos perfeição no que fazemos e não nos satisfaz aquilo com que preenchemos os dias.
Não há tempo para os Amigos, não arranjamos espaço para reflectir e nem Deus consegue um lugarzinho para nos falar...
Não nos lembramos que há mais Vida para além do trabalho e que existe mesmo uma parte muito importante da nossa vida a que temos que dar atenção, que contempla o trabalho mas que está acima dele. E essa porção da Vida que nos escapa somos nós mesmos, a nossa relação com o Pai, as nossas motivações para o trabalho, os valores porque lutamos e que colocamos nas nossas relações com os outros.
Temos sempre uma boa desculpa para não deixar o trabalho, não interromper as actividades: É preciso!... Tem que ser!...
Mas ainda é mais necessário parar para reflectir, para nos pormos diante de Deus e percebermos se trabalhamos por Ele  ou simplesmente para termos uma razão para O não ouvir.
É preciso parar, fazer silêncio e ouvir o nosso coração, analisar as nossas verdades e compará-las com a Verdade que é Deus.
É necessário sermos capazes de enfrentar os nossos "medos" do silêncio e da solidão porque neles está Aquele que nos procura e nos quer dar a resposta às nossas inquietações e às nossas dúvidas.
                                        Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, o.P. 
 
 

sábado, 8 de setembro de 2012

Natividade de Maria

Não tenho nada a pedir nada para dar.
Venho somente Mãe para te olhar.

Olhar-te, chorar de alegria, sabendo apenas isto:
Que eu sou teu filho e tu estás aqui, Mãe de Jesus Cristo!

Ao menos por um momento enquanto tudo pára
Estar contigo neste lugar em que estás, ó Maria.

Nada dizer, olhar-te simplesmente o rosto
E deixar o coração cantar a seu gosto.

Porque tu és bela, porque tu és imaculada
A mulher na graça reintegrada.

A criatura na sua honra primeira e na plenitude final,
Tal como saiu das mãos de Deus, no seu esplendor inicial.

Porque estás sempre aí, porque existes, simplesmente por isto,
Eu te agradeço, Mãe de Jesus Cristo.
                                                       Paul Claudel

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Acção e oração

Vi no blog dum amigo meu algo sobre a necessidade de fazer uma oração antes de empreender qualquer tarefa por ínfima que fosse. Era um excerto de Alexandre Eltchaminoff  em que ele dizia que, com a oração, pedíamos que a virtude divina descesse sobre a nossa acção e assim, ela não podia nunca ser má.
Que descanso, para os nossos corações, quando as nossas acções não nos nos satisfazem plenamente!
Precisamos é de começar pela oração...
Lembro-me de que, quando era criança, me ensinaram que o primeiro pensamento do dia devia ser para o Pai do Céu para que tudo corresse bem. E este "correr bem" compreendi-o depois, era nem mais nem menos do que cumprir a vontade de Deus. 
Com o tempo, o conhecimento e a experiência, fui-me habituando a entregar ao Pai cada um dos meus trabalhos, ao mesmo tempo que Lhe agradecia cada alegria que me era proporcionada e Lhe pedia perdão por cada desvio do cumprimento do dever.
Claro que quando digo que me fui habituando, estou a ser demasiado optimista, porque entre o projecto e a realidade há sempre um abismo a separá-los.
Mas o importante não é querer? não é ter a intenção de fazer, com entusiasmo e persistência? Calem-se os "velhos do Restelo" que não acreditam em boas intenções. Elas existem e realizam-se quando alicerçadas na Fé e têm por base a vontade.
Como educadora, como transmissora dos valores da Fé, eu gostava de ajudar os outros a entenderem o valor da Oração.
Mas o que é rezar?
Dizer orações consagradas, como o Rosário, frases feitas que nos ensinaram em pequenos, textos dos quais as palavras nem sempre traduzem os nossos sentimentos... Certamente! Mas rezar é muito mais do que isso. É estabelecer um diálogo silencioso com o Pai; é fazer silêncio e ouvir o que Ele tem para nos dizer; é contar-lhe as angústias e alegrias do nosso coração.
É ficar a olhar o sacrário e perguntar-nos porque razão o Amor levaria Deus a ficar ali presente para nos acolher, consolar, pedir...
Desejaria que todos os que se cruzam comigo compreendessem como é importante, antes de começar qualquer tarefa, ter um pensamento para Deus, com a certeza de que Ele estará presente e tornará dom a nossa simples acção.
Neste momento, em que só se fala de tristeza, falta de confiança, crise, é altura de elevar o coração ao Céu  e com um sorriso nos lábios e a confiança da criança, enfrentar o dia que começa.
                              Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

" Quem tem ouvidos para ouvir..."




As duas senhoras estavam sentadas ao meu lado a conversar sem qualquer preocupação que as ouvissem.
Conversaram de coisas muito variadas, como é natural, mas acabaram por centrar a conversa na família e preocupações de momento.
Mesmo que quisesse, não podia deixar de ouvir os seus lamentos e troca de impressões àcerca das sobrinhas, tão bem educadas pelos pais e tão desatentas aos seus conselhos.
Às tantas, a mais nova, levantou-se num ímpeto e disse: "Olha, sabes que mais? Quem tem ouvidos que oiça!"... e saiu sem mais comentários.
A outra ficou, bebendo o seu chá e eu fiquei também, com o meu livro aberto mas sem ler.
Aquela frase não era original. Já a ouvira e lera muitas vezes no Evangelho...Mas achei graça ao ouvi-la ali tão fora de contexto e tão a despropósito. Ou talvez não!...
Realmente não há maior surdo do que aquele que não quer ouvir. Surdo, quando não se aceita um conselho que nos dá um amigo, quando se ignora a advertência de alguem que nos quer bem, quando não ligamos a um pedido que nos é feito, quando não atendemos à experiência dos que viveram mais do que nós.
Porque seria que aquelas jovens não ouviam os conselhos que as tias consideravam tão oportunos e necessários?
Culpa das jovens, "surdas" aos conselhos e opiniões ou culpa das tias que não estavam atentas às inquietações actuais daquelas jovens bem como às suas necessidades e linguagem? 
No Evangelho, Jesus está a referir-se àqueles que não querem entender a mensagem que lhes dirige, mas esses somos nós. Tantas vezes temos o coração fechado, a mente incapaz de traduzir em sentimentos as palavras que ouvimos, os textos que lemos.
A mensagem de vida nova que Jesus nos dirige, não é directa, talvez!
É preciso então estar disponível, estar atento, para ver além do imediato, entender o sentido que se esconde por detrás de palavras que parecem simples e directas.
É que a mensagem de Jesus é-nos dirigida ao coração e não à mente; é orientada para o nosso ser  e não para o nosso fazer. É preciso olhar para além do que vemos e entender o que o Pai nos segreda, se estivermos vazios de intenções e apenas atentos à inspiração de momento.
Será que aquelas tias tinham o modo certo e a palavra adequada para abrir o coração das sobrinhas de maneira a que elas descobrissem a Verdade que as palavras encobriam?
                                            Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 
 
 
 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A vida e a morte e sua realidade

Foi notícia há umas duas semanas: mãe deita fogo ao quarto e mata--se e aos dois filhos.
Impressionante!
Claro que não é um caso inédito. Há gente que se mata, não se sabe porquê, e das mais diferentes maneiras. Há seitas pseudo-religiosas que se imolam pelo fogo. Há terroristas que se fazem explodir na defesa de uma causa...
Mas matar ou matar-se é sempre algo que levanta questões. Porquê?
Até porque temos que começar por nos interrogar. O que é  a Vida?
Para nós, cristãos, homens de Fé, a Vida é um dom de Deus. Mas mesmo para os que não têm Fé, a Vida é algo que, pelo menos, não conseguem produzir e que merece ser questionada e investigada.
Consegue-se fazer inseminação artificial, cultivar tecidos em laboratório, manter células estaminais do cordão umbilical... Todos o sabemos. Mas produzir Vida em laboratório, muitos o tentaram mas, até hoje, não o conseguiram.
Então, como surgiu a vida?
Segundo a hipótese evolucionista, hoje aceite,  a Vida surgiu há milhões de anos, uma única vez, numa "sopa quente primitiva" como lhe chamou Haldane. Esta "sopa" tinha-se formado numa atmosfera altamente redutora que conduzira à formação de monómeros por acção das radiações solares, das trovoadas e da radioactividade. Era então, um ambiente muito rico nessas moléculas orgânicas.
A partir daqui, segundo Oparin, estas moléculas agruparam-se, reagiram entre si e formaram moléculas maiores . Estas, separaram-se do meio envolvente pela criação duma espécie de membrana, aprenderam a assimilar material , a reproduzir-se e a regular-se. E surgiu a primeira célula.
Os crentes acreditam que, no processo de passagem de macromoléculas a células interveio Deus; os não crentes defendem que foi a energia produzida nas reacções que deu a capacidade de auto-formação da célula.
Com um ou outro conceito, a partir da primeira célula formaram-se outras, evoluíram, deram organismos unicelulares e depois os indivíduos pluricelulares.
Estes foram estudados, classificados, clonados. Mas Vida, ainda não foi possível obter.
E quer tenhamos Fé quer não, temos que ver a Vida como um dom. Como a podemos destruir? Como podemos destruir, com as nossas mãos, aquilo que não podemos construir?
Não devemos julgar nada nem ninguém mas podemos continuar a interrogar-nos sobre as causas destas atitudes. Desespero? Loucura? Fé em valores que não os nossos?
Acho que temos que aprender muitas lições de vida e continuar a agradecer a Deus o dom da Vida e a preservá-la tanto quanto pudermos.
                                             Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, o.P.
 
 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

As certezas das crianças

Há dias assim, em que se levantam dúvidas e se poêm interrogações.
Estava muito calor e nem pensar  me apetecia.
Eu, sentada ao fundo da igreja, tentava dizer a Jesus que O olhava e procurava fazer silêncio para O ouvir...
De repente, um garoto de 5, 6 anos, chegou ao pé de mim e pediu-me: Reza pelo meu tio Zé e pela tia Mia que se estão a separar e eu não quero porque gosto muito deles.
Fiquei um pouco atordoada, sem palavras, o que em mim não é muito habitual, mas sempre arranjei maneira de lhe responder : Rezo, sim, mas pede tu também porque Jesus gosta da oração dos meninos!...
Não tive tempo para mais nada, porque conforme chegara tambem desapareceu pela porta da igreja.
Mas eu fiquei impressionada e até me esqueci de que estava calor e não me apetecia pensar.
O que tinha visto aquela criança em mim para me fazer aquele pedido e daquela maneira tão elequente? Eu estava simplesmente sentada ao fundo da igreja, calada, tentando ouvir... Mas rezei! Rezei, lembrando-me do que Jesus prometera: "Pedi e recebereis... O pior é que Ele se " esqueceu " de nos dizer quando e como satisfaria o nosso pedido... E tantas vezes parece que não nos ouve!... É que é preciso acreditar, ter a certeza que Deus é Pai e quer o melhor para nós. E nem sempre pedimos o que é melhor...
Não seria o que Jeremias queria dizer quando punha na boca de Deus a pergunta: "como poderei chamar-te Meu filho?"
Filho é o que procura fazer a vontade do Pai, escutar a Sua voz, segui-Lo.
É a nossa manifestação de Fé e de Esperança, dizer com confiança " Senhor aqui estou. Quero fazer a TuaVontade, faz que a minha seja a Tua Vontade.
Pedir pelos tios daquela criança era rogar a Deus que fizesse que a vontade do manino fosse a Sua vontade de Pai.
Aquela criança sabia que rezar era importante para conseguir o que ele tanto desejava e pensou que eu tinha mais "poder" para fazer da vontade dele a vontade de Deus.
Impressionou-me esta confiança mas ao mesmo tempo também fiquei a pensar na necessidade de testemunho que se nos impõe.
Que viu aquela criança, numa freira silenciosa ao fundo duma igreja?
Que podem ver todos aqueles que se cruzam comigo cada dia que passa?
Que testemunho de Fé e de Amor damos aos que lidam connosco?
Como lhes transmitimos que Deus conta connosco  e estamos simplesmente a fazer a Sua vontade?
 
E o dia continuou mas eu já não tinha calor e havia muitas coisas em que pensar...
                                                      Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
 

domingo, 2 de setembro de 2012

Morte de astros


No dia 25 de Agosto, com 82 anos, morreu Neil Armstrong o primeiro homem a pisar o solo lunar.
Foi em 1969, depois de várias tentativas falhadas.
Lembro-me perfeitamente da excitação gerada e da expectativa com que se iam seguindo as notícias televisivas.
Foi um dia único!... Hoje já temos também para festejar a chegada a Marte, mas a lua foi o primeiro passo.
Por coincidência ou não o funeral de Armstrong realizou-se no dia da 2ª lua cheia  do mês de Agosto, a chamada "lua Azul". Não porque a lua seja azul ou esteja desta cor, mas por ser um fenómeno extraordinário que só se voltará a repetir daqui a alguns anos.
 
Neil Armstrong foi piloto de testes, aviador, um dos cientistas da Nasa que, como tantos outros, estava interessado na lua e naquilo que dela se imaginava mas não se sabia.
Teve sorte de fazer parte da expedição bem sucedida que chegou à lua e foi o primeiro homem a poder pisá-la.
Quando foi dada a notícia, muitos nem queriam acreditar que fosse verdade e julgavam ficção as imagens projectadas. Mas foi realidade e Armstrong considerou o feito como " um pequeno passo para o Homem e um grande salto para a Humanidade". São palavras suas que o mundo repete.
Não sei o que estava por detrás desta frase daquele homem que tinha realizado um feito que tantos outro stinham tentado sem conseguir.
Mas, podemos perguntar-nos: de facto que era o homem face ao infinito que o rodeava?
O que haveria para além daquela cratera onde aterrou e do percurso que fez?
O homem marcou pontos porque conseguiu chegar à lua, mas isso foi um passo, talvez nem o primeiro, porque pressupôs dons, persistência, trabalho de equipa.
Evidentemente que para a Humanidade em geral e para os E.U. em particular ,foi uma grande vitória, uma prova do avanço da ciência, a demonstração de capacidades desenvolvidas e de possibilidades a conquistar.
Mas, nem Armstrong nessa altura, nem a Nasa ou os E.U. agora, se podiam ou podem capacitar que tudo sabem e tudo podem.
Há que ser humildes,  há que saber agradecer e há que acreditar que quando " o Homem sonha e Deus quer a obra nasce" ( conf. Fernando Pessoa )
 
                                                                      Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
 

sábado, 1 de setembro de 2012

Joio versus trigo

O semeador saiu a semear a sua seara de trigo e julgou ter apenas lançado boa semente no seu campo. É pois com surpresa que vê surgir o joio no meio do trigo. E interroga-se: que fazer?
Também nós somos como a seara deste agricultor.
Deus colocou no nosso coração a boa semente da Verdade, do Bem, da Alegria... Mas a vida encarregou-se  de lhe associar o joio da intriga, da inveja, da mentira... 
Ao agricultor, Deus recomendou que deixasse crescer juntos trigo e joio, até à altura da ceifa. Então, seria o momento de separar a boa  da má semente.
E em nós, quando é o momento da ceifa?
Quando podemos e devemos arrancar de nós e ajudar os outros a arrancarem a semente do mal, do erro, do engano, da tristeza, da indiferença, da neurastenia?... é tão fácil instalarem-se subrepticiamente e impedirem o nosso crescimento na santidade!...
Quando devemos actuar?
Acho que nunca e sempre.
Nunca, porque há sempre outro joio a substituir o anterior, dando-nos, por vezes, a tentação de desistir.
E sempre... porque a todo o momento é hora de corrigir o que está mal, o que não nos deixa progredir, o que nos impede de testemunhar o Amor de Deus.
Sempre... sobretudo no momento em que, no silêncio, Deus nos fala ao coração e diz:Vem!
Vem... com o que tens e com o que és; vem... com o que desejas e com o que Eu pretendo de ti; vem... sem planos mas de alma aberta a deixar que aqueles que te rodeiam, os que solicitam o teu apoio, os que contam com a tua amizade e o teu carinho, os que esperam a partilha às vezes silenciosa, todos, simplesmente, vão limando as tuas arestas e arrancando as ervas daninhas , exigindo de ti mais e melhor.
Vem... mostrar que és capaz de deixar que os outros "ceifem", mesmo com dor, as lacunas que deixaste, os erros que cometeste, o bem que não realizaste.
Vem... acolher-te ao Meu celeiro, porque te escolhi desde toda a eternidade.
                                
                                                    Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.