sexta-feira, 24 de maio de 2013

Contradições

" Vem por aqui"  - dizem-me alguns com olhos doces
estendendo-me os braços, e seguros
de que seria bom que os ouvisse
quando me dizem " vem por aqui"
Eu olho-os com olhos lassos
(Há nos olhos meus ironias e cansaços)
E cruzo os braços
E nunca vou por ali...

Não sei porque me lembrei hoje deste Cântico Negro de José Régio. Talvez pelas contradições que ele suscita. Não conheço o estado de alma do autor ao escrever este poema: desânimo, revolta, liberdade, idealismo? Pode ser tudo e nada . Apenas sensibilidade e imaginação de poeta. Talvez uma chamada de atenção ... a procura dum sentimento de Fé e de confiança, a busca dum apoio em Deus e nos Homens...
A verdade é que na vida há ocasiões em que não adianta apontarem-nos um caminho porque a nossa intenção é bem diferente: seguir outro caminho, talvez o oposto. Por contradição? Porque estamos convencidos que o nosso é o melhor? Porque não gostamos de seguir, como carneiros, o percurso delineado por outros?... Talvez!...
Sobretudo quando jovens este desejo de experimentar o "novo" , de fugir à rotina, de contrariar a experiência dos outros, é muito frequente e notória.
E, se calhar, não é mau. Sobretudo se levamos connosco uma "bússola" , o apoio seguro dum Pai que fala ao nosso coração e nos aponta a Verdade de cada escolha.
São as nossas experiências pessoais , os nossos avanços e retrocessos, os nossos conhecimentos de "tentativa e erro"  que nos fazem crescer.
Mas, atenção! olhai que temos que levar na bagagem a humildade de reconhecer que errámos, a coragem de voltar atrás e recomeçar, a alegria de encontrar o caminho certo, a Fé e a Esperança que vão iluminar e fortalecer as nossas derrotas e vitórias, a confiança nos Amigos que contam connosco.
Não olhemos com indiferença aqueles que nos aconselham " seguros que seria bom que os ouvíssemos" ... Que não haja "ironia e cansaço" nos olhos que se erguem ou fogem daqueles que gostariam de nos mostrar o caminho... E, sobretudo, nunca " cruzemos os braços" , indiferentes ao apelo do nosso coração. É que Deus está lá e Ele, esse sim, tem a certeza que "seria bom que O ouvíssemos".
                              Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P. 

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