quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Adeus Bento XVI

O Papa Bento XVI fez ontem a sua despedida na Praça de S. Pedro em Roma.
Uma praça completamente cheia, bem como as artérias adjacentes!...
Não estive lá mas tive pena. Contudo, pude apreciar e viver esses momentos através da Televisão e fiquei emocionada. Com a serenidade do Papa no seu adeus; com o seu "giro" no papamobile, através da praça, dizendo adeus, saudando os que estavam e o aplaudiam, beijando os bebés que lhe apresentaram; com o seu discurso de despedida; com o silêncio que se fez depois do seu regresso aos seus aposentos.
Havia lágrimas em muitos rostos, até em Cardeais...
O Papa, serenamente, despediu-se e agradeceu ao Corpo Diplomático, a todos os que com ele trabalharam, à comunicação social e ao povo cristão em geral, ao "homem comum" que, como disse Bento XVI, o tratou como a um irmão...
No seu discurso, o Papa afirmou que deixava o poder mas não descia da cruz, não abandonava a Igreja, não esquecia os cristãos, não se retirava para uma vida social; antes, ia mergulhar na oração e na meditação.
Quando o Cardeal Ratzinger foi eleito, muita gente tinha dele a ideia do teólogo tradicional, algo rígido, inflexível. Temperamento germânico...
Depois, a pouco e pouco, fomos constatando a sua fragilidade, a sua bondade, a sua timidez e foi deixando marcas. A vinda a Portugal foi um testemunho de tudo isso.
Não fez esquecer João Paulo II. Tem uma personalidade muito diferente. Mas soube fazer-se amar e impôr-se aos cristãos precisamente por essa personalidade. A humildade da sua resignação é mais uma nota dessa mesma maneira de ser, admirada e admirável.
Hoje é o último acto do seu pontificado. Despede-se dos Cardeais e vai para Castel Gandolfo. Dificilmente o voltarems a a ver mas será sempre o Papa Emérito Bento XVI.
Que o Senhor lhe conceda a Paz e a Felicidade que lhe tem destinada.
                                    Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O querer de Deus e a nossa acção

" Deus quer... o homem sonha... a obra nasce "
É uma afirmação poética que põe em consonância a vontade de Deus, a Sua acção e o nosso querer, o nosso esforço.
Não há obra nenhuma, exterior ou de mudança interior, que não obrigue ao exercício da nossa vontade, do nosso esforço e depois ( ou antes ) da nossa confiança no Pai.
Por mais que rezemos, não conseguimos um bom resultado no exame se não tivermos feito o nosso papel de estudantes que é estudar.
Não basta pedir a Deus para conseguir um bom emprego, um excelente casamento, uma família feliz... é necessário dar o nosso melhor, é preciso fazer a nossa parte, pôr a nossa vontade, a nossa inteligência, a nossa consciência, ao serviço do Bem e da Verdade.
E... acreditar que Deus premeia o nosso esforço, que Deus está atento às nossas necessidades, que Deus está presente quando precisamos d´Ele.
E temos que sonhar Verdade... temos que nos pôr de acordo com a Vontade do Pai.
Precisamente hoje, o Evangelho fala-nos da pretensão da mãe dos filhos de Zebedeu. Jesus não condena as suas altas aspirações mas pergunta aos filhos se estão dispostos a beber o cálice que Ele vai beber. É a parte deles ( e a nossa). Depois, Deus fará a Sua parte.
A obra... e estou a pensar no trabalho da nossa santificação... só nasce quando, momento a momento, lutamos para ir conquistando valores, dando pequenos passos, arredando as pedras que nos tolhem, libertando o coração das amarras que não nos deixam sonhar .
Deus quer que todo o Homem confie n´Ele, que esteja atento e responda ao Seu apelo.
Deus quer... que, ajoelhados diante d´Ele, digamos o nosso Fiat, o nosso Sim à Sua Vontade e que, depois, sigamos o caminho dos nossos sonhos.
Então, a obra, a nossa santificação, a nossa Felicidade, nascerá.
            Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Os "mas " que não devemos ter...

Comecei hoje o dia com alguma falta de vontade.
Engraçado como o estado do Tempo ( e porque não as circunstâncias e acontecimentos) podem influenciar positiva ou negativamente o nosso estado de alma.
Hoje, até está sol. Um dia luminoso se perspectiva, embora o frio ameace enregelar os espíritos e os corpos.
Mas... Há sempre um "mas " no nosso caminho. Um "mas" que devíamos suprimir dos nossos pensamentos e das nossas vidas, sobretudo neste tempo de Quaresma.
É que devemos analisar, face a Deus, o que pensamos e, como consequência, o que fazemos e dizemos.
Precisamos ser coerentes, não dar ao mundo uma falsa imagem do que somos, porque isso é hipocrisia e Jesus não apreciava os hipócritas. Naturalmente, continua a afastá-los...
O que fazemos e dizemos tem sempre o seu reflexo naqueles que se aproximam de nós. Bem ou mal não passa sem deixar a sua marca nos que estimamos ou que connosco se cruzam duma maneira mais particular.
Não podemos esquecer que somos testemunhas d´Aquele que deu a Vida por nós e nos pede, em cada momento, para O seguirmos.
" Sede meus imitadores como eu sou de Cristo" diz-nos S. Paulo. E imitar Paulo e seguir Jesus nesta Quaresma, é esquecer que há dias maus e tempo sem sol; é não deixar que o medo, a angústia, a tristeza, invada as nossas almas; é lutar pela confiança, a Fé e a Esperança; é querer transformar cada derrota numa vitória futura.
Novamente é S. Paulo que na sua Epístola aos Coríntios nos fala de vitórias: " Muitos são os que correm num estádio mas só um chega à vitória"
E S. Paulo convida-nos a esquecer os outros e fazer como aquele que lutou e venceu.
É a nossa caminhada da Quaresma, sem hesitações nem dúvidas. Uma caminhada em que não há "mas" ... Apenas sins. Em que se pode voltar atrás mas é para emendar e recomeçar.
                            Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Presença

Há muita gente que se diz "chocada" quando ouve ou lê declarações pessoais de amigos. Não gostam de os ver assim expostos diante de estranhos que talvez não entendam até ao fim as suas razões. E gostam tanto menos quanto mais espirituais e íntimas são as afirmações feitas.
Eu também fico "chocada" mas no outro sentido. Toca-me a humildade e a simplicidade daqueles que são capazes de pôr em comum as alegrias e tristezas, as aspirações e as derrotas que lhes enchem a alma e a vida. É a sua manifestação de humanidade. E é ela que me impressiona e me encanta.É que não há Pessoa sem sentimentos, sem alegrias e dores, sem vitórias e pecado.
O próprio Jesus Cristo não nos revelou a Sua Humanidade pedindo ao Pai que afastasse dele aquele cálice? Não nos mostrou os Seus sentimentos ao chorar por Lázaro, ao olhar com complacência o jovem rico e sentir tristeza quando ele se afasta?
Quanto mais vou conhecendo uma pessoa e a vou admirando, quanto mais vejo nela a acção do Pai e a sua tentativa de Lhe corresponder, quanto mais "santa" eu a sinto, mais me emociona a sua capacidade de pôr a nu as suas fraquezas, as suas angústias, as suas aspirações, as suas vitórias.
E rezo, rezo para que a humildade seja a grande arma, alicerçada na oração, que faz grandes as grandes almas.
Não é por acaso que estou a falar nisto. É que li um comentário a uma situação de exposição, situação essa que me impressionou, tanto a mim como ao comentador. Só que foi em sentidos inversos... A ele incomodou-o; a mim sensibilizou-me.
Era bom que todos tivéssemos esta capacidade de ser igual a si mesmo diante do Pai e dos homens. Era excelente que a humildade nos levasse a não ter medo de mostrar o que há em nós de Verdade, de heroísmo e de fraqueza.
Agradeço aos meus Amigos serem o que são e peço para eles, todos os dias, a capacidade de Amar em alegria e humildade.
                                                       Ir. Maria Teresa de Carvalho ribeiro,O.P.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mensagem

                       O meu amigo chama-me.
                       Bate à porta.
                       Grita.Não ouço.
                       Não estou atenta.
                       Não me apetece escutar o seu convite.
                       Faço ouvidos surdos.
                       Fico no meu canto isolada,
como que fechada. Não quero ser incomodada
nas minhas ocupações, nos meus jogos,
nas minhas música.
                      Não respondo. Prefiro fazer o que me apetece...
                      A Quaresma é tempo do apelo.
                      Deus chama-me!
                     Chama-me a escutar a Sua Palavra. Chama-me a adorá-lo como único Senhor. Chama-me a reconhecer o Seu Filho, mesmo se é preciso escalar a montanha. Chama-me a produzir bons frutos!
Chama-me a deixar o mal e a viver no Seu amor. Chama-me a mudar de vida acreditando em Jesus, Seu Filho, que nos mostra o caminho da vida que nada pode destruir!
                  A Quaresma é o tempo do apelo. Deus chama-nos!
                  É, portanto, o tempo de abandonar tudo o que estorva o coração, o espírito, a vida; tudo o que nos impede de escutar Deus a apontar-nos para uma vida tão florescente como uma árvore em plena Primavera. Como será possível escutar Deus, se se está de tal maneira ocupado que nem sequer se encontra tempo para Lhe falar?
                  A Quaresma é o tempo do apelo. Deus chama-nos!
                 É o tempo de mexer e abanar os velhos hábitos que se instalaram na nossa vida. Como será possível escutar Deus, se não se sai do egoismo, da mentira, do rancor?... É tempo de se decidir  a receber a palavra de Jesus Cristo, que desperta e ilumina a nossa vida!
                 Ergamo-nos! Vamos! És chamada!
                 Que escolhes? Fechar os ouvidos ou responder: Eis-me!
Que decides? Permanecer no casulo da perguiça e do mal ou levantares-te e ressuscitar com Jesus?
                  Vamos, ergue-te! Deus chama-te a uma vida feliz!
                        
              M. Jeanne Cura (in "As crianças a caminho da Páscoa" )
        

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O tempo do apelo

 
 Estamos na 1ª semana da Quaresma; quase no fim deste primeiro período de reflexão, de intimismo, de oração, de penitência.
Lentamente se escoou esta semana como lentamente se vão passar os 40 dias que nos separam da Páscoa.
Para uns, são dias como os outros; para outros, dias pesados e tristes; para alguns, tempo de preparação para uma vida nova.
Quarenta dias entre o Carnaval e a Páscoa... quarenta dias que nos falam de sacrifício, de renúncia, de partilha, de conversão...
Quarenta dias que, para nós cristãos, são a caminhada que acompanha o percurso de Jesus do Pretório até ao Calvário...
Quarenta dias... tempo de parar, de "olhar para dentro", de descobrir o que nos afasta deste caminho de salvação e encontrar o que nos aproxima do Pai, na peugada do Filho...
Quarenta dias...que às vezes passam por nós sem que demos por isso e de que só temos consciência quando chegam os festejos e a alegria da Páscoa da Ressurreição.
Onde ficaram os nossos compromissos de Baptizados?Que fizemos dos propósitos de caminhar para a santidade? Como iremos viver a alegria dum domingo de Páscoa sem passarmos pela experiência duma Quaresma feita de esforço, de abnegação, de luta, de partilha?
Quarenta dias que se vão escoar lentamente e que fazem um apelo a serem vividos.
Paremos! Façamos uma pausa para reflectir e construir novos propósitos...
Detenhamo-nos a apanhar as pedras do caminho, as que não vimos, no meio das nossas distracções, aquelas pedras com as quais devemos construir o templo donde jesus nos vai chamar para com Ele cantarmos os alleluias da Páscoa.

Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Ainda a clonagem

Os indivíduos multicelulares, quer plantas quer animais, resultam dum  ovo que se obteve por fecundação entre um óvulo e um espermatozóide. É a primeira célula que depois se vai dividir em 2,4, 8... células e por aí fora até mais ou menos 100. Nessa altura está formada o blastocisto .
Até se ter 8 células, cada uma delas pode dar um novo indivíduo completo. São células totipotentes. De 8 a 16 células, temos já dois grupos diferentes - uma camada externa e outra interna - com funções diferentes. Às 72 horas o embrião implanta-se no útero e a camada interna vai originar os diferentes tecidos, diferenciando-se e perdendo a capacidade de formar qualquer outro tecido que não aquele para que se diferenciou .
Quando se trata da clonagem temos uma técnica específica que pretende "substituir " a fecundação.
Suponhamos o caso dum animal.
 Extrai-se o núcleo de uma célula de indivíduo adulto com o genoma completo e introduz-se num óvulo em que também se tenha extraído o núcleo. O embrião que se forma, é geneticamente idêntico ao do adulto original, visto não ter havido actuação de qualquer outro genoma.
Alguns dias depois desta acção, implanta-se no útero da fêmea que o vai gerar.
O núcleo que se transfere para o óvulo reprograma-se para adoptar o padrão típico dum embrião. Esta reprogramação é muito rápida e, por isso, conduz muitas vezes à morte do núcleo. E, também, pode provocar as más formações previsíveis.
A clonagem é defendida não apenas e sobretudo para fins reprodutivos mas também para a obtenção de tecidos e órgãos destinados a fins terapêuticos (G.B. 2001 ).
Em qualquer circunstância a dignidade humana e o seu valor têm que ser salvaguardados.
                             Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Clonagem: sim ou não

Ao folhear um livro de Biologia saltou-me à vista o termo clonagem  termo de que actualmente se tem falado menos. Resolvi relembrar tudo o que tinha aprendido sobre o assunto e fazer algumas pesquisas. 
Constatei que foi no início do sec. XX que surgiu, no vocabulário científico, e mesmo noutro mais generalista, a designação Clonagem.
Nessa altura o termo aplicava-se à produção de plantas a partir de porções delas e não através de sementes, como era o habitual.
Este processo de reprodução , comum em Bactérias, tornou-se natural em plantas mas também existia em animais como os Tatus.
Verificou-se, com alguma admiração, ser possível aplicar o conceito, num sentido mais amplo, aos gémeos univitelinos.
A clonagem é, de facto, um processo de reprodução assexuada em que se obtêm, dum mesmo ser vivo, cópias geneticamente idênticas. Assim, de uma célula, resulta uma população em que os indivíduos são idênticos à célula original.
Depois da clonagem em plantas, que já era utilizada há bastante tempo, experimentou-se em animais. A Dolly é o primeiro exemplar conhecido. Dado que foi o 1º Mamífero clonado, trouxe a esperança, para alguns, da clonagem humana.
Isto, preocupou  a comunidade científica atendendo até à pouca eficácia dos métodos disponíveis. Os cientistas que trabalharam  com animais são os primeiros a chamarem a atenção para os perigos não só da falta de sobrevivência  mas sobretudo das más-formações nos indivíduos clonados.
O problema da clonagem humana traz problemas técnicos mas sobretudo éticos visto que se levantam inúmeras questões de teor moral ligadas com a própria identidade do novo ser e da sua dignidade.
Estejamos atentos ao que são os progressos científicos...
                              Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 
 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Tempos antigos

Ao recordar tempos antigos falei do sr. P. Domingos que fez 91 anos e foi um professor e um amigo aqui no Colégio. Muitas alunas se lembram dele com ternura e saudade.
Mas houve muitos outros professores que marcaram a vida do Colégio. Uns ainda vivem; outros, junto do Pai, certamente nos lembrarão. Destes últimos, destacam-se a sr. D. Bela, a madame Estrela, a Miss Sabbo. Três exemplos e que engraçado... todas de Letras!
Além de professoras eram colaboradoras atentas que estavam presentes sempre que era preciso, quer fosse em festas, em viagens, em actividades dentro do Colégio...
Mas além delas, muitos outros passaram por aqui e não podemos esquecer, pelo que foram, pelo que fizeram, pelas saudades que deixaram: o Zé Carlos, a sr. D. Lúcia, a Jeanine, a Natália, a Cristina Soldin, o Hugo, a Maria Emília, a Maria do Rosário, o Henrique e tantos, tantos outros que constituiam a "grande família do Ramalhão". 
Os professores não eram "funcionários" eram Amigos com quem se podia contar nas boas como nas más horas. Mesmo aqueles que estavam "em acumulação" eram professores do Colégio e connosco colaboravam a 100%.
Recordemos a visita da ms. Reagen ou o Natal no Shopping de Cascais... a festa dos 150 anos da Madre Fundadora ou a SIARC...a expo 98 ou os 5 sec. de Evangelização e Encontro de Culturas... a feira Medieval em Sintra ou a participação em "Princesas que partem; princesas que chegam"...
Ocasiões difíceis de trabalho, de disponibilidade, em que todos "vestiam a camisola" e davam o seu melhor. Eram e são os melhores professores do mundo. Disse-o um dia ao 1º Ministro quando nos veio visitar e continuo a pensá-lo quando recordo tudo o que aqui vivemos.
Hoje, os tempos mudaram, muitos destes professores mais antigos já cá não estão mas outros os substituiram. E ainda há alguns da "velha guarda"... Com todos, quereria continuar a contar e a poder dizer: São os melhores professores do mundo.
                                 Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Falar ao vento

"Para falar ao vento bastam palavras. Para falar ao coração são precisas obras"
                                                                         (P.António Vieira, S.J.)
É com imensa sabedoria e perspicácia que o P. António Vieira chama a atenção para a importância das acções na nossa vida e sublinha o pouco valor que têm as palavras quando não apoiadas em actos.
É como ele diz "falar ao vento" , dizer coisas, encadear ideias que podem não traduzir pensamentos profundos e menos ainda sentimentos. Podem ser ôcas de sentido e não indicar como vivemos e qual a grandeza da nossa Fé.
É preciso actuar, fazer bem, haver coerência entre o que exprimimos e o que, de facto, fazemos. Só assim seremos um verdadeiro testemunho da Fé que professamos.
" A Fé sem obras é morta" é outra versão da mesma realidade, que é a necessidade da nossa palavra ser a tradução do nosso viver.
Falar é importante. Faz parte da missão dos Frades Pregadores... é pela palavra que podemos transmitir os nossos pensamentos e levar os outros a compreendê-los e a aceitá-los. Foi pela pregação que S. Domingos combateu e venceu a heresia. Mas não só... a palavra era acompanhada da oração, do estudo, da vida de penitência.
Não basta falar, dizer coisas lindas, fazer afirmações transcendentes. É preciso que a nossa vida seja o reflexo das nossas palavras. É que "palavras leva-as o vento". Uma maneira mais prosaica de apresentar a afirmação do P. António Vieira. Serão como folhas secas agitadas pelo vento.
Se queremos que os outros acolham a nossa palavra, a aceitem e a sigam, temos que lhes apresentar "obra feita", realidade vivida.
E é na oração e pela oração que conseguimos fazer frutificar a nossa palavra.
Aproveitemos a Quaresma para treinar !...
                     

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

As cinzas...

"Lembra-te ó Homem que és pó e em pó te hás-de tornar"
É mensagem de 4ª feira de cinzas. Um pouco tétrica, um pouco desconexada da finalidade do Homem e da sua missão como filho de Deus. Mas coerente com o tempo que se inicia, tempo de penitência, de reflexão, de interioridade, de conversão.
É quarta - feira de cinzas!
Estamos a iniciar a Quaresma, estas seis semanas que, ao contrário da alegria da Páscoa, que celebra o triunfo da Ressurreição, são dias sem brilho em que tudo lembra o caminho para o Calvário.
Estive lá, aqui há uns anos, e achei impressionante aquele percurso entre campos, casas, bancas de vendas variadas, turistas que compram e fiéis que rezam.
Uma misturada que choca pelo contrastes mas que torna mais viva e mais verdadeira a caminhada de Jesus até ao Calvário. Senti como foi dolorosa aquela subida difícil e desconfortante.Lembrei a Verónica e o Cireneu e a sua presença de carinho e apoio. Compreendi, como nunca, que estas seis semanas têm que traduzir, na nossa vida, essa caminhada, em termos de conversão, de mudança, de perdão. Entendi que aquelas cinzas, que hoje recebemos, significam o despir de tudo o que enche o coração , nos prende e faz de nós pó, poeira dum caminho que, a pouco e pouco, nos há-de ir transformando, se queremos viver em Deus e com Deus.
" Lembra-te ó Homem que és pó..." se não confiares, se não amares, se não viveres a tua Fé, se não deixares que te ajudem os mil "cireneus" que contigo se cruzam no caminho.
É para tentarmos viver melhor, para procurarmos amar mais, para acolhermos melhor os outros, que nos são dados estes dias de preparação e nos é feita esta chamada de atenção, em 4ª feira de cinzas. No fim deles, de alma nova, poderemos cantar o Alleluia da Ressurreição.
Também eu, no fim da viagem à Terra Santa, pude experimentar essa alegria!...

                                                                       Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O Papa resignou...


Quando chegaram as primeiras pessoas com a notícia ninguém queria acreditar... Parecia brincadeira de mau gosto, notícia carnavalesca. Mas não era! Na Renascença falara a jornalista Aura Miguel e na TV a notícia vinha do Vaticano com o próprio Papa a dá-la. O Papa Bento XVI tinha anunciado a sua resignação que se concretizará às 20 horas do dia 28 de Fevereiro.
Tudo pensado para que na Páscoa já haja um novo Papa a presidir às cerimónias...
Há quase 600 anos que nenhum Papa resignava e, anteriormente, muito poucos o tinham feito. O último tinha sido Gregório XII em 1415.
Depois das notícias que correram rapidamente o mundo,houve os comentários e as interpretações. Igualmente as comparações com o anterior Papa, João Paulo II, que mesmo muito debilitado, se manteve até ao fim.
São dois temperamentos, duas maneiras de ver a Vida, de a encarar, de a viver!... São duas perspectivas e duas posições face à responsabilidade dum sucessor de Pedro.
Para uma atitude e para outra foi preciso coragem, oração, confiança no Amor de Deus.
Admirei a coragem de João Paulo II de se manter débil, quase incapaz e mostrar ao mundo essa debilidade e essas incapacidades.
Admiro Bento XVI que enfrenta o mundo afirmando que renuncia ao seu papel de sucessor de Pedro porque não sente forças para continuar.Um e outro nos dão lições de humildade, de coragem, de confiança no Pai. Saibamos entendê-las e segui-las, sem crítica, sem avaliações, sem observações despropositadas. E, sobretudo, com confiança na acção do Espírito Santo que nos vai dar o Papa de que a Igreja hoje precisa. E rezemos, para que hoje, como há 2000 anos, o Senhor acompanhe a Sua Igreja que é constituída por Homens, também eles frágeis e pecadores e que Ele cura com o Seu imenso Amor.
                                   Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Fevereiro, mês dos contrastes


O mês de Fevereiro é um mês de dupla faceta:
Carnaval   versus  Quaresma.
É a alegria esfuziante e muitas vezes exagerada que se contrapõe a um tempo de mais tranquilidade, de reflexão, de preparação para acontecimentos que nos ultrapassam e dos quais dependeu a nossa salvação como cristãos.
No Carnaval, pretende-se viver, em três dias, todos os exageros que não se conseguiu perpetuar ao longo do ano. São dias frenéticos, eufóricos, de excessos que parece não incomodarem senão uma minoria. Este ano, por acaso, estão a ser perturbados pelo tempo, o frio, o vento, a chuva.
Depois, de repente, é quarta-feira de cinzas e a Igreja reveste-se duma certa solenidade, de pesar, e apela à penitência, à conversão, à espera, ao perdão.
Mas deve também ser tempo de esperança, esta caminhada que somos convidados a fazer pois estamos à espera da Páscoa, da Ressurreição.
A Quaresma é tempo de reflexão e de perdão e, por isso, tempo de mudança. É tempo de certezas, da grande certeza, a do infinito que Deus nos oferece pela paixão, morte e ressurreição do Seu filho.
É tempo de parar, porque Deus nos chama. Podemos fingir que não ouvimos; estar desatentos; não querer seguir o Seu convite... Mas Deus continua a chamar.
É tempo de deixar velhos hábitos, de abandonar tudo o que prende o nosso coração e nos impede de Amar.
É tempo de nos pormos a caminho, seguindo o exemplo do profeta  "Fala ,Senhor, que o teu servo escuta..."
Que escolhemos? Continuar deitados, de olhos e ouvidos fechados ou levantar e ir " onde nos chama o nosso coração"?
Na Quaresma há que fazer a escolha certa!...
                                 Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P. 
 
 
 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O frade, o professor, o testemunho

Conheci-o na Parede quando ainda era menina e moça e estudante universitária.
Era Dominicano, uns quinze anos mais velho do que eu mas nem parecia... Impressionava, pela positiva, pelo seu ar um pouco austero mas jovial, pela sua interioridade mas alegria e sentido de humor. Eram contagiantes!...
Simpatizei com ele e gostei da sua atitude simples e confiante.Talvez por tudo isso foi ele que me preparou para entrar no Noviciado. Com exigência mas também com sabedoria e paz. Nada me ocultou mas nada me revelou do que não era necessário.
A discrição é uma das suas características...
No Noviciado, orientou a minha vida e deu-me a segurança necessária para enfrentar alegrias e dificuldades, contratempos e satisfações.
Esteve no Clenardo, depois foi para o Porto e durante uns anos não nos encontrámos. Até que um dia... "saiu-lhe na rifa" ser nosso capelão. Estava no convento de Queluz e ia e vinha todos os dias.
Mas eis que... "nada acontece por acaso"... precisávamos dum professor de Matemática. Então, acumulou ensino com capelania e mudou a residência para o Ramalhão.
Era, e é, estimado por todos, Irmãs, professores, funcionários, alunos. Para ele não havia "rapazes maus", tal e qual como não existiam alunos insubordinados nem estudantes com dificuldades.
Dava aulas, fazia prelecções, ouvia confidências, passeava com os alunos pela quinta, celebrava as grandes festas e estava sempre presente. Onde alguém precisasse dum conselho, duma opinião, dum ouvinte atento, lá estava ele.
Um dia achou que estava doente demais para permanecer connosco e foi para Fátima, deixando saudades e um grande vazio. Agora está em Coimbra, mas não deixámos de nos falar. Os professores visitam-no com alguma regularidade.
Ontem fez anos... 91! e ninguém deixou de o lembrar.
Todos falamos dele com respeito e carinho porque foi um frade, um professor e um exemplo para todos nós.
Agradecemos-lhe, pelo que foi, pelo que é, pelo que nos deu...
Eu sei que, mesmo longe, recorda cada um e nos lembra nas suas orações.
                  Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 
 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Os Valores na sociedade e na escola

Li outro dia um artigo escrito por um antigo professor do Colégio que tratava precisamente deste tema. Nele se falava das mudanças operadas na sociedade em que vivemos e das saudades que muitos sentem do tempo que foi e não volta, em que o mundo era mais solidário e mais humano, os homens se olhavam com amizade e as crianças respeitavam os mais velhos. Focava-se ainda a falta de valores e de afectos desta sociedade que parece indiferente ao que se passa à sua volta e concentrada apenas nos seus interesses, nos seus negócios e nos seus proveitos.
Mas, tal como o autor do texto, eu não acredito nessa indiferença nem nessa aparente falta de afectos e de valores. Aparente, sim, mas real não creio. É que, por mais superficial e distante que a sociedade venha a ser, por mais indiferente e egoista que se vá tornando, a sociedade é constituída por Homens e esses permanecem iguais a si mesmos. Cada um tem em si um manancial de potencialidades e de valores que se vão desenvolvendo com a idade e com a educação. No íntimo de cada um há amizade, sentido de justiça, verdade, solidariedade, capacidade de perdão... valores que queremos que perdurem e se transmitam de geração em geração. Valores que temos que educar e adaptar, mas Viver. Para isso temos que lutar, aprendendo-os em casa, praticando-os na escola, vivendo-os em sociedade.  Só assim nos conheceremos e cresceremos como Homens  e como filhos de Deus. Só assim a sociedade continuará a ser um espaço de alegria e esperança.
                             Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 
 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Novamente o Ramalhão

Ramalhão...
Uma História,
Uma caminhada,
Um projecto, a pensar nos jovens.

Foi assim durante setenta anos! É assim  ainda hoje! Será assim, se Deus quiser, nos próximos anos...
O Colégio passou por dificuldades, atravessou tempos de guerra e viveu uma revolução. Conheceu tempos complicados, dolorosos, até algo inquietantes... Mas não perdeu os seus princípios orientadores nem se deixou vencer por "ventos adversos"ou vozes atroadoras dos sempre presentes "velhos do Restelo".
Continua assim hoje, como ontem: problemas, dificuldades,  decisões difíceis,  murmúrios  negativos,
boatos, contestações. Fazem parte da vida e da história do Colégio.
Os tempos e as circunstâncias mudam. Às vezes parece que há forças contrárias  que os querem empurrar. São os "velhos do Restelo" que tentam destruir sem compreender, que procuram condenar sem ouvir.
Tudo ao inverso de Jesus que não condenava ninguém; antes, só queria perdoar.
O Colégio continua com os seus valores definidos, o seu projecto educativo aprovado, a sua forma de educar à maneira de Teresa de Saldanha. Está a atravessar uma crise!... E quem disse que as crises não servem para reflectir, corrigir e melhorar? E quem pensa que a Esperança morre e que a certeza de querer ser "um projecto a pensar nos jovens" deixa de estimular e orientar o nosso trabalho?
Contamos com os Amigos e o apoio daqueles que fizeram com que o Colégio do Ramalhão se continue a orgulhar do que foi e tem sido ao longo dos tempos.
O Tempo passa, os ventos mudam, os sonham modificam-se, mas a Esperança, essa... nunca morre!
               Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro.O.P.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

"Nas acções e nos gestos devemos ser iguais a nós mesmos"

"Nas acções e nos gestos temos que ser iguais a nós mesmos"
Tinha acabado de escrever a minha reflexão sobre ser santo, a minha convicção de que é possível sê-lo e as vivências que é necessário ter, quando me lembrei desta frase que tinha ouvido não sei onde nem a quem e que parecia vir na sequência das minhas palavras: "Nas acções e nos gestos devemos ser iguais a nós mesmos".
É uma frase que lembra coerência, que sugere verdade, que parece fazer apelo àquela necessidade de que a nossa palavra seja sim-sim e não-não.
Se queremos enveredar pelo caminho da Santidade, corresponder ao apelo do Pai, temos que reflectir na nossa vida, nas nossas relações, no nosso falar, a Verdade da nossa Fé.
Cada um de nós é um "eu" , criado à semelhança de Deus, com o seu DNA, a sua personalidade, as suas qualidades e defeitos. Um "eu" que, como Jesus Cristo, tem que "crescer em idade e em graça".
E esse "eu", suportado pela graça de Deus e animado pelo Seu amor, realiza acções, traduz o seu ser e o seu querer em gestos. E essas acções e esses gestos têm que reflectir a nossa verdade, o que queremos e o que somos, têm que ser a tradução da integridade da nossa vida, da coerência do nosso sentir, da lealdade do nosso querer.
Quando falamos ou quando agimos temos que dar aos outros a certeza do que pensamos e do que sentimos. Que Deus nos ajude a ser sempre e em tudo mensageiros da Verdade.
          Ir.M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Ser Santos

"Sede santos como o vosso Pai celeste é santo" é uma recomendação de Nosso Senhor Jesus Cristo que nos é dirigida a nós, a cada um de nós que O conhecemos e nos dizemos Seus filhos. 
Então, pegamos nas vidas dos Santos mais conhecidos: S. Domingos, S. Francisco, Santa Catarina de Ricci, S. Tomás, Santa Teresa de Ávila, Santa Catarina de Sena... Lemos as suas vidas, reflectimos sobre as suas acções e modo de ser e confrontamo-nos com o que ficámos a saber. Perguntamo-nos, então, se somos capazes de ser santos como eles. Constatamos que não. Apresentam-nos um conjunto de virtudes e graças que somos incapazes de igualar.
Descemos a fasquia e buscamos santos cujas vidas possam parecer-se mais com a nossa. Mas mesmo assim...
Então, é altura de nos perguntarmos: "Mas afinal o que é ser Santo?" "Como podemos responder Sim ao projecto que o Senhor Jesus nos apresenta?"
Ser Santo... a definição teológica é capaz de ser demasiado complexa e talvez suscite mais dúvidas que certezas. Mais prosaicamente, digamos com o poeta: "Ser santo é ser eu mesmo". Ser simples, puro, verdadeiro, coerente; reconhecer as derrotas e querer recomeçar; procurar que cada dia seja um dia melhor que o anterior; estar atento aos que me rodeiam; perdoar aos que me ofendem, amigos e inimigos; partilhar o que se possui, desde os bens materiais ao sorriso e ao carinho que não custam nada; ser capaz de parar para ouvir Deus...
Ser Santo é muito simples e extraordinariamente difícil. Simples em si mesmo porque, como diz Santa Teresa, basta amar muito; difícil porque é despojarmo-nos de tudo o que é acessório e nos prende. É ficar livre e despido diante de Deus, para O escutar e O seguir.
Recordo a sensação estranha e óptima ao mesmo tempo, que me invadiu quando entrei pela primeira vez numa igreja dum convento e me senti simples, despida de tudo, vazia, mas cheia duma alegria interior que me reconfortava. Eu e Deus, apenas...
Seria isso um pequeno passo a caminho da santidade, a minha que não é igual à de outros?
É que eu acredito que ser santo é possível!...
                                             Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Templo de ontem, a Igreja de hoje

" A glória do Senhor encheu o Templo" é o início do Responsório duma das leituras do Ofício das Horas de ontem.
Aqui, Ezequiel refere-se certamente ao Templo, local de culto , e à manifestação gloriosa de Deus que virá e invadirá, com o seu esplendor, o lugar em que rezam aqueles que têm Fé. É o anúncio glorioso da vinda do Messias.
Nós hoje podemos repetir estas palavras mas estando a referir-nos ao templo que somos nós e em que resplandece a graça de Deus.
Também podemos e devemos alargar o conceito estendendo-o a todos os cristãos em que se reflecte a graça do Baptismo.
A Igreja, hoje, não fica circunscrita a umas paredes, fechada num espaço,  num lugar, por mais bonitos que sejam, por mais bem estruturados que se apresentem. A Igreja hoje somos todos nós, os cristãos, os que seguimos o Mestre e entendemos e transmitimos a Sua mensagem, aqueles a quem é pedida a vivência da Fé professada e o seu testemunho.
O cristão hoje, não pode ficar calmamente fechado na sua realidade, na sua interioridade, tentando cumprir os seus "deveres" e viver a sua verdade. Não pode alhear-se do que se passa à sua volta tentando ignorar os erros sem os combater nem corrigir.
Hoje, somos impelidos por uma sociedade de contra-valores, de indiferença, de absentismo, com a qual o cristão não pode confraternizar.
Aliás, Jesus Cristo não foi um conformista, não se acomodou à lei estabelecida embora a cumprisse. Logo na Apresentação no Templo, Simeão declara-o como sinal de contradição. E depois, na Sua vida pública, é Ele próprio que diz que "veio trazer o fogo à Terra e o que quer é que ele se acenda".
Fogo... que não é de lume, de guerra, de ódios, mas de luta pela certeza, pela verdade. Fogo que é de Amor, de Fraternidade, de colocar em lugar devido uma Mensagem com a qual não se pode brincar.
Jesus Cristo foi de ontem, é de hoje, será de amanhã e continua a pedir aos cristãos que acolham a realidade que lhes oferece e façam dela Vida.
                             Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Mensagem indirecta

Precisava reflectir e abri, ao acaso, o Evangelho de S. Mateus.
Calhou precisamente numa descrição que sempre me impressiona pelo seu realismo mas também pela mensagem que, indirectamente, os Apóstolos nos transmitem - a Transfiguração de Jesus.
Voltei a ler e, mais uma vez, me deixei fascinar. Pelo acontecimento em si: a revelação de Jesus como Filho de Deus, que já conhecemos mas é sempre uma verdade nova, se quisermos. Mas mais ainda, pela atitude dos Apóstolos. Eles estão espantados, emocionados, encantados ao mesmo tempo. Dobram-se até ao chão mas não é de medo; é de emoção. Do espanto que a revelação de Deus lhe causou.
E qual a sua reacção? Façamos aqui três tendas... Mas não são para eles , não! Como quase sempre, mostram-se desprendidos, generosos: "Façamos aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias". Não pensaram neles, não se fecharam na revelação que tinham acabado de receber; não pretenderam ficar ali, a gozar comodamente da alegria que lhes tinha sido concedida. Ofereceram-se para trabalhar; pensaram nos outros que se tinham revelado. Para eles, Sim! a comodidade, a segurança, uma tenda onde se abrigassem. Para os apóstolos, apenas a alegria de estarem ali.
Mas, rapidamente, é preciso regressar à realidade, esconder o que viram e ouviram, até depois... um momento ainda longínquo, que não sabiam quando seria nem entendiam como seria: " Não faleis até que eu tenha ressuscitado".
E regressaram sem lamentos nem protestos. Regressaram com a alegria no coração mas impedidos de manifestar livremente essa alegria. "Não faleis... até..."
E guardam para eles, mesmo sem entenderem, porque confiam n´ Aquele a quem chamam Mestre.
Quem me dera ter a confiança e a atitude aberta e disponível dos Apóstolos!...
                                               Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.