sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Celebração dos Santos Inocentes

Na 6ª feira passada foi a celebração dos Santos Inocentes.
Quando eu era nova e estava no início da minha vida religiosa, este era um dia de grande euforia sobretudo para as Irmãs mais novas. Tudo era permitido, desde que não se ultrapassassem os limites.
Suprimia-se o silêncio, alteravam-se as refeições, modificavam-se as estruturas hierárquicas.
E o contraste era tanto maior quanto nessa altura a vida religiosa tinha um cunho de rigor que não lhe conhecemos hoje. Era vida de trabalho, de silêncio, de estudo, de reflexão. E o Advento tornava este ambiente ainda mais sério e rígido que habitualmente .
Logo, um dia de quebra absoluta das convenções e das normas estabelecidas era coisa que não podia passar ao lado das nossas vidas. Era uma altura de descontração total que começava à meia-noite.
As noviças invadiam a despensa que tinha ficado bem fechada mas onde sempre havia uns miminhos deixados de propósito para as nossas patuscadas. Depois, íamos para a cozinha e preparávamos a ceia tentando, no fim, não deixar tudo muito desarrumado. Lembro-me que a minha especialidade era fazer mousse de chocolate com uma tablete que sobrara do Natal. Também era a minha única habilidade culinária...
No dia seguinte, era a noviça mais nova  que fazia de Prioresa, presidia aos ofícios e dava início às refeições. Por vezes, isto era motivo para gargalhada pois a prática era nenhuma e os erros frequentes.
Tudo era diferente nesse dia e bem divertido.
À tarde, habitualmente, havia uma representação improvisada e relacionada com Natal ou a celebração que estávamos a comemorar.
No dia seguinte, tudo voltava ao normal, sem lamentações, sem pena, sem saudades.
Mais tarde, quando a vida conventual começou a ser mais aberta, com mais liberdade e menos limites, estas festas perderam o seu interesse e a sua oportunidade e acabaram definitivamente sem se saber bem porquê.
Realmente é espantoso como a vida mudou e se alteraram hábitos e costumes. Para melhor?
Acho que temos que avaliar prós e contras e não perder o que é essencial.
                                                    Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,OP

2 comentários:

  1. Prometido é devido. Acabei de passar um bocadinho desta minha tarde com os seus textos que me deram algo mais para pensar. Bem haja. De facto demos início a um Ano Novo, mas que será novo, bom, resplandecente se assim o quisermos e fizermos por isso. Pessoalmente é um compromisso assumido.Quanto ao Natal é confrangedor ver como o Menino tem vindo a ser substituído pelo Pai Natal, como o convívio entre família e amigos é também substituído por uma falsa alegria proporcionada pelo natal/compras/presentes numerosos.A própria palavra Natal e a alegria que deveria trazer, deixou também ela de ter o mesmo significado para assumir um tempo de natal consumista. De facto como mudaram "os usos e costumes"! A vida exigente mas que reconhecia o valor de pequenas/grandes celebrações, como a que exemplifica no seu texto sobre a Celebração dos Santos Inocentes deu lugar ao desconhecimento desses pequenos momentos de fecicidade... Fico por aqui. Um grande, grande abraço. Maria Emília

    ResponderEliminar
  2. Obrigada.
    Cá ficamos a tentar viver com o Menino Jesus e como o Menino Jesus
    Um abraço bem amigo
    Ir. Teresa,Op

    ResponderEliminar