quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

"Quem tudo quer tudo perde"

É um ditado popular que é bem o retrato da sociedade actual. Nela notamos a ânsia do poder, o desejo de ser considerado, a ambição da riqueza, tudo a qualquer preço.
A seguir, mais cedo ou mais tarde, vêm as suspeitas, as denúncias, os processos em tribunal. E vemos "cair" grandes nomes, enormes fortunas, considerados representantes do poder.
É que a vaidade, a ambição, o domínio, são valores contrários à mensagem de Jesus Cristo que pregou o desprendimento, a humildade, o perdão, o amor. Foi o seu papel de profeta entre os homens, de anunciador duma verdade e dum caminho que não são aqueles que nos atraem habitualmente.
Aliás, como refere um escritor dominicano, os profetas nunca são os agentes do poder , os participantes nas estruturas eclesiais ou não, os convidados para as grandes organizações. Eles têm outro papel que é o da "contestação" , da defesa e difusão  da mensagem que receberam de Deus. Tal como Jesus Cristo se nos apresentou e apresenta, testemunha do amor do Pai, defensor dos valores da Vida e da eternidade.
Claro que podemos lutar pelo melhor, esforçarmo-nos por conseguir os projectos que delineámos, trabalhar para alcançar o sucesso. Mas... sempre tendo por base a Verdade, pondo em prática os valores essenciais da Vida, testemunhando a nossa Fé, sendo os mensageiros e as testemunhas  daquele Jesus Cristo que veio ao mundo para nos transmitir a Verdade, que é Ele próprio, para nos dar a Sua Vida, para nos ensinar a percorrer o Caminho que conduz ao Pai.
"Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" afirmou um dia e é para sempre.
Que o nosso Tudo seja Deus e a nossa maior ambição a Santidade.
                         Ir. Maria Teresa sde carvalho Ribeiro, O.P.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

S. Tomás de Aquino,O.P.

Ontem, foi a Festa do Professor cá no Colégio. E penso que em todos os colégios católicos, uma vez que S. Tomás de Aquino é o padroeiro da Escola Católica e ontem era o dia da sua festa.
É normal que S. Tomás seja o escolhido para patrono das escolas pelas suas qualidades, os seus conhecimentos, o testemunho das suas virtudes, o empenho que pôs no estudo da Sagrada Escritura e na reflexão das questões da Fé.
Foi um exemplo para os que com ele lidavam e procurou testemunhar a sua Fé, a sua alegria, os seus valores a quantos dele se aproximavam.
Era um grande professor, um teólogo de nomeada, um dominicano que se empenhava em ajudar os seus irmãos, os seus alunos e os cristãos em geral na busca e vivência da Verdade.
 Digno discípulo de S. Domingos procurou, como ele, tudo fazer não para si próprio mas para salvação das almas. Todos os seus conselhos, todos os  projectos que nos apresenta , todas as razões que nos dá, trazem a marca da Esperança e estão repletos de Alegria e do amor de Deus.
Que S. Tomás seja o grande protector do nosso Colégio e que as nossas vidas tragam a marca da sua Alegria e da sua Fé.
Que saibamos, todos nós, professores e alunos, empenharmo-nos no estudo da  Verdade, para a vivermos e fazermos dela a bandeira com que defendemos o nosso trabalho.
  
 Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 

domingo, 27 de janeiro de 2013

A Natureza como laboratório de transformação

 "Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" é uma afirmação científica de Lavoisier, o grande químico do século XVIII.
Se pensarmos na reciclagem  e na possibilidade de aproveitamento e transformação que hoje temos não nos é difícil entender esta máxima de Lavoisier. 
E não é apenas no campo da reciclagem que a máxima tem lugar. Se pensarmos numa semente... não é um facto que ela cai à terra, dá nova planta, desta surgem flores e frutos e estes produzem novas sementes? É o ciclo da vida vegetal. Mas não é apenas nos vegetais que isto acontece. Nos animais e no Homem podemos constatar a mesma estrutura circular: ovo, indivíduo, gâmetas, ovo.
E o que acontece com os detritos que eliminamos e deitamos fora? Não são utilizáveis como fertilizantes e adubos, por exemplo?
"...Nada se perde, tudo se transforma"
A informação que vamos acumulando com a aprendizagem não se transforma em cultura? O crescimento que se vai operando no nosso corpo e na nossa alma não nos vai tornar Homens e Santos? E a aproximação a Deus que se vai fazendo com o crescimento na Fé? Também não a perdemos mas antes vamos transformá-la em Sabedoria, em Esperança, em Amor.
Se na Natureza tudo se transforma, também nós temos que fazer um esforço para transformar o Bem em melhor, a solidariedade em Amor, a virtude em Santidade.
                  Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
 

sábado, 26 de janeiro de 2013

O que é a vocação

Estamos  a preparar uma semana em que  devemos rezar pelas vocações. E quais vocações?
Vocação para uma actividade, um trabalho, uma missão específica? Vocação para o matrimónio, para o celibato consagrado?
De que estamos verdadeiramente a falar?
Todas estas situações que enumerei são aspectos diferentes duma mesma realidade, o gosto, o jeito, a tendência. Mas nesta semana estamos preocupados com a vocação religiosa e sacerdotal, um apelo específico , o Chamamento de Deus.
Tal como a Zaqueu ou aos discípulos que pescavam, Jesus dirige-nos o seu apelo: Vem! Vem espalhar a minha mensagem... vem curar os que sofrem de dúvidas, angústias, solidão... vem, despojado de tudo o que é perecível e mostrar que a felicidade não está em ter mas em ser... Vem, ser "pescador de homens"... Vem!
Vem consagrar a tua vida ao meu serviço, mostrar que me amas e que, diferente do jovem rico do Evangelho, não viraste as costas "porque tinhas muitos bens".
Vem! Tu que, como o filho pródigo, desperdiçaste os dons que te confiei mas te arrependeste e voltaste à casa do Pai. Eu vi-te e fui ao teu encontro. Vi-te, antes que me visses, como vi Natanael, antes que ele me reconhecesse.
A todos vós estendo a minha mão e peço : Vem! Não queres acolher-me?
                                  Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
                                          

 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O valor do silêncio




Ouvi ontem um comentário sobre o silêncio, sua necessidade,oportunidade e vantagens.Fiquei a interrogar-me: a que chamamos silêncio? como consegui-lo?
É tão fácil deixarmo-nos envolver por um ambiente em que o silêncio está ausente... São gritos, são buzinas, campaínhas, música. Vivemos num mundo em que o que predomina é precisamente a ausência do silêncio.
O ruído invade-nos, entra nas nossas casas e enche o espaço em que vivemos. Parece , às vezes, que temos medo, que nos sentimos perdidos se não há barulho à nossa volta.
Mas pior que este barulho das pessoas e das coisas, da vida em geral, é a ausência do silêncio interior, a falta de calma e de paz que nos permita reflectir, sentir o que nos rodeia e, sobretudo, ouvir o nosso coração e... escutar Deus. É que silêncio não é sinónimo de estar calado, de não fazer barulho, de não ter agitação à nossa volta. É antes esvaziar a nossa mente , libertarmo-nos de toda a inquietação e angústia, fazer   parar a nossa imaginação e enchermo-nos de tranquilidade, para podermos escutar a Palavra que é balbuciada dentro do nosso coração.
Situamos, muitas vezes, Deus longe das nossas vidas. E isto, porque as enchemos de tudo menos dum ambiente de sossego em que possamos rezar, falar e ouvir Deus, Ele que está presente e gostava de ser escutado. Há alturas em que consideramos o silêncio como um peso, obsessivo, nostálgico, mas estamos enganados. O silêncio é o ambiente indispensável e propício para podermos reflectir, arrumar ideias e orar.
" Quando quiseres orar entra no teu quarto e fecha a porta"...
Cria o clima de recolhimento, de calma e tranquilidade. Depois, fica tu e Deus, apenas. E ouve-O! Fazer silêncio, abstrair das mil e uma preocupações, inquietações e distrações é uma necessidade e ter esta capacidade é um dom que se aprende e se conquista.
Procuremos fazer silêncio em nós, testemunhemo-lo e ajudemos os outros a vivê-lo.
                                              Ir. M. teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A separação do amor de Deus

Quem pode separar-nos do amor de Cristo? A tribulação , a fome, a perseguição...? Pergunta S. Paulo na sua carta aos romanos. E afirma de seguida:" Nada nos pode separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus" (Rom.8)
E esta afirmação aplica-se a nós também que tantas vezes nos afligimos porque na vida deparamos com contratempos, dificuldades, incompreensões, dúvidas.
É natural esta inquietação, esta angústia. Todos nós procuramos a felicidade e as dificuldades parecem obscurecer as nossas aspirações ao Bem que nos traz a alegria, o conforto, o bem-estar.
Gostaríamos que tudo "corresse sobre rodas", à medida dos nossos desejos, segundo os nossos planos e na maior compreensão e amizade. Mas há que testar a nossa capacidade de ultrapassar os "males", de recomeçar, acreditando que nada está perdido.
E, sobretudo, parando para reflectir que" nada nos pode separar do Amor de Deus". É um imperativo da nossa Fé.
Se Deus nos ama... ( e não podemos duvidar disso porque" Ele entregou o Seu próprio Filho por todos nós" ) Ele é por nós e ninguém é contra nós, porque Deus está connosco, nos acolhe e nos protege.
O desânimo pode invadir-nos, a dúvida e a inquietação instalarem-se no nosso coração, o sol não nos animar nem a chuva lavar as nossas incertezas, mas Deus está lá, atento às nossas neurastenias e estendendo os braços para nos acolher.
Ajoelhemo-nos e façamos o nosso acto de Fé na presença do Deus que é Pai, que nos dirige o Seu olhar e nos faz o seu apelo para apagar todo o sofrimento, toda a dor, toda a incerteza, todo o pecado.
Se temos Fé, nada nos pode afastar do amor de Deus, daquele Amor que Deus ofereceu aos homens desde o 1º momento da criação.
                                          Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 
 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Sucesso, fracasso e emoção

Hoje em dia, pais, professores e alunos são confrontados com o problema do sucesso versus o fracasso. Aliás, duma maneira geral, todos convivemos  mal  com o insucesso. Todos procuramos ter sucesso, realização na vida, motivações para o trabalho. E atribuímos isso às nossas grandes ou menores capacidades de raciocínio.
Por isso, se avaliam capacidades, se testam coeficientes de inteligência, se exercitam competências. É que todos lutam para conseguir o melhor. Ou, pelo menos, lutam os pais...
Mas esquecemo-nos que o melhor nem sempre é o que se apresenta ao nosso entendimento e à nossa razão. É Saint-Exupery que nos diz, referindo-se ao Principezinho e às suas experiências emotivas, que ele aprendeu que o "essencial é quase sempre invisível aos olhos".
Este essencial é a nossa capacidade emotiva, é a possibilidade que crianças e jovens devem ter de se aprenderem a conhecer  e a enfrentarem situações novas, a descobrirem o ambiente que as rodeia e a estruturarem e moldarem o seu carácter , desenvolvendo o que nelas há de criativo e de sensibilidade.
Muitas vezes centramos a nossa atenção no elevado coeficiente de inteligência que um jovem apresenta e esperamos que venha a ser um "sábio" ficando espantados quando ele se posiciona muito abaixo do esperado. Entusiasmamo-nos com um aluno "marrão" e ficamos chocados quando não o vemos pôr a render os conhecimentos que adquiriu.
Simplesmente, a inteligência não é tudo. Nós "vamos onde  nos leva o coração. " E, como o Principezinho, temos que aprender que " o essencial é quase sempre invisível aos olhos".
É a facilidade de lidar com as emoções que nos leva a evitar frustrações e encontrar a felicidade fazendo felizes os outros.
Num mundo em mutação como o nosso, não basta investir no conhecimento e no desenvolvimento da inteligência teórica. É necessário adquirir características emocionais e aprender a lidar e a compreender os outros e a si mesmo, à luz dos dons que Deus nos deu.
                            Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 

domingo, 20 de janeiro de 2013

Oração pela Unidade dos cristãos

Estamos na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Tem havido actividades várias para chamar a atenção para este facto importante para os cristãos. Mas eu interrogo-me se, num ano inteiro, com 52 semanas, apenas podemos dedicar uma a este particular interesse que se apelida de " Unidade dos Cristãos".
Claro que é optimo que haja sessões, conferências, acções de rua, para chamar a atenção para esta realidade que é sermos todos irmãos e todos nos devermos encontrar na mesma "equipa" para a qual Cristo nos chama e que Ele iniciou.
Quando Jesus andou pelo mundo não excluiu ninguém do seu convívio e da sua amizade: o leproso, o publicano, a pecadora... Expôs-se mesmo a ser excluído  por conviver com pecadores e tocar em doentes proscritos.
É a unidade, a fraternidade, o Amor que Ele preconizou, que Ele quiz testemunhar, que nos pede para testemunharmos.
É optimo uma semana de sensibilização mas melhor será que todos os dias  tenhamos presente  a fraternidade a que Jesus nos chama.
Esqueçamos diferenças, pequenos detalhes que nos afastam e nos segregam, convicções que de nada valem perante a infinita realidade do Amor de um Deus que a todos entregou o Seu Filho para fazer de nós filhos.
Como S. Paulo digamos: " Já não há Gregos nem Judeus..."e demo--nos as mãos, respondendo ao chamamento que Jesus faz em cada momento.
                              Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O Hoje e o Amanhã

"A vida inteira depende de dois ou três sins e de dois ou três nãos ditos antes dos 20 anos" - diz quem sabe e ensina-nos a experiência.
É enquanto adolescentes e jovens que se aprendem regras e princípios, se adquirem valores, se praticam normas de conduta. E tudo isso é que vai formar a nossa personalidade e construir as nossas características de adultos.  Enquanto novos, devemos ir aprendendo com os mais velhos que já viveram o que nós ainda nem dislumbrámos, esquecendo as ideias insidiosas e peregrinas das nossas aspirações de jovens.
Não desprezemos os que nos parecem menos inteligentes e cultos, porque neles se oculta, muitas vezes, uma sabedoria que nos escapa. A" Universidade da vida " é uma grande escola que não podemos nem devemos ignorar. 
Enquanto novos, cultivemos amizades verdadeiras, fugindo do cinismo e da mentira, amizades que vão colaborar connosco na construção do futuro. Que vão ser o barómetro para os nossos "quereres" e "fazeres".
Procuremos ser capazes de fortalecer o nosso espírito para que, tranquilamente, possamos enfrentar e ultrapassar os contratempos. Muitas vezes eles são apenas resultado de fraqueza, cansaço, solidão... Parar, analisar as situações, procurar o ombro amigo em que podemos chorar, rezar, olhar o futuro com optimismo e recomeçar, são orientações de sabedoria.
Não tenhamos medo. A coragem é a grande virtude que nos ajudará a ultrapassar as dificuldades sebendo nós que o caminho, com Deus, está marcado pela cruz. Mas Ele está lá!...
E, sobretudo, tenhamos objectivos e sejamos-lhes fiéis.
Ponhamos Deus como meta maior, conservando a paz como um bem a viver e lutando para a conseguir.
Assim, teremos encontrado o caminho para alcançar a felicidade que Deus quer para nós. Numa palavra, rejamos santos.

                                      Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.




 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

"O que custa a vida"

Ontem, na sala das colunas, não pude deixar de ouvir uma conversa entre uma avó e um neto. Este pedia, insistentemente mais um jogo para a sua consola. A avó tentava explicar que tal jogo era absolutamente inútil e desnecessário.
Entre pedido para cá, resposta para lá, e insistência renovada, a avó já sem argumentos mas muito calma exclamou: "Ó filho, ainda tens que crescer para aprender o que custa a vida..."
Sorri comigo mesma mas fiquei a pensar que muitas vezes utilizamos expressões cujo significado está longe de ser o directo e imediato.Por exemplo, utilizamos expressões como esta quando queremos chamar a atenção de crianças e jovens para o desperdício ou gastos desnecessários.
"Tens que aprender o que custa a vida".
Dizemos isto em sentido figurado, é verdade, visto que a Vida não se paga, não se compra nem se vende.
A Vida é um dom, um dom de Deus que colabora com os pais para que uma nova criança chegue ao mundo.
A Vida, temos que a viver em plenitude e ensinar os mais novos a vivê-la. E viver em plenitude é aproveitar as graças que recebemos e fazer com que elas nos ajudem a sermos cada dia melhores, mais perfeitos, mais íntegros, mais verdadeiros. Numa palavra, mais próximos de Deus que é a Santidade e a Perfeição absolutas.
Muitas vezes não sabemos apreciar este dom que nos foi dado e até chegamos a colaborar na destruição da nossa vida. É o caso do tabaco, do alcool, das drogas, leves ou pesadas. São elementos que ajudam a diminuir a nossa esperança de vida e pior! a tornar dolorosa uma parte da nossa existência. E isto, para não falar no aborto ou na eutanásia que são atentados ao dom maravilhoso que todos os seres vivos têm - a Vida.
E o Homem tem ainda mais um dom que o distingue dos outros seres vivos- a alma - com a capacidade de discernimento e de querer. Não temos o direito de utilizar mal estas possibilidades não investindo na reflexão sobre o que recebemos e o que se espera de nós.
A Vida não são dias que se sucedem para disfrutarmos tudo o que nos proporcionem. Não! A Vida é para ser vivida em concordância com o plano de Deus.
A Vida não "custa " nada. Recebemo-la de graça e de graça a vamos oferecer ao Pai. Defendamo-nos e defendamos os outros, defendendo a Vida, na plenitude do dom que ela é.
Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 
 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A certeza que nos anima

A angústia, a inquietação, a ansiedade, a neurastenia, são estados de espírito que não ajudam à nossa vida, ao nosso trabalho, à nossa felicidade.
Muitas vezes deixamo-nos perturbar com coisas mais ou menos insignificantes que nos impedem de ser racionais e de procurar as soluções mais adequadas.
Nessas alturas talvez precisássemos de voltar a lembrar as afirmações de
 Santa Teresa:
                       Nada te perturbe
                       Nada te espante
                       Tudo muda...
                       Só Deus basta
Realmente, se colocarmos em Deus a nossa esperança e a nossa confiança o que é que nos pode afligir ou perturbar? Simplesmente, é mais fácil depositar em Deus o nosso querer e o nosso louvor quando tudo nos corre bem... Mas, é nos momentos de inquietação que precisamos ter mais a certeza
que Deus não nos abandona. Confiemos que Ele está sempre presente e não nos deixa sós, como não deixou perecer os apóstolos, no meio da tempestade:
                  "Senhor, valei-nos porque perecemos... "
E Ele lá estava para acalmar a tempestade e animar os corações angustiados.
Não estamos nunca sozinhos!...
Aliás, não temos também os Amigos, com quem podemos contar?
Foram eles que o Pai pôs ao nosso lado para, juntos, encontrarmos mais facilmente o caminho...
"Ningém é uma ilha" disse (entre outros) John Donne. E porque não somos ilhas, vivemos em sociedade e, " onde dois ou três estiverem em Meu nome, Eu estarei no meio deles".
E esta é uma certeza que não nos pode deixar indiferentes.
                                   Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 

domingo, 13 de janeiro de 2013

A missão de Isaías e a nossa

A primeira Leitura da Missa de hoje foi do profeta Isaías, tirada do seu discurso sobre a missão do servo de Javé.
"Deus fez repousar sobre ele o seu espírito para que leve às nações a verdadeira justiça. Mas ele não grita, não levanta a voz, não apaga a mecha que ainda fumega nem quebra a cana apenas rachada".
E, sobretudo, o que me impressiona também e me faz pensar muito a sério, é que o profeta não desfalece nem desanima, porque sabe que o Senhor o chamou e "lhe pegou pela mão".
 
A nós, baptizados, Deus também deu a missão de levar a Verdade e o Bem às nações, de ensinar os ignorantes, de dar testemunho do Pai que está sempre connosco e também a nós "nos pegou pela mão".
 
A  nós, igualmente,  Deus dá garantias da Sua presença  e da Sua assistência em cada momento. Não podemos deixar de acreditar, não podemos desistir nem desanimar, lá porque nem tudo corre como queríamos, nem tudo acontece como pensávamos ser o melhor.
E também não devemos deixar que a irritação, a angústia, o ódio, nos invadam e nos levem a duvidar que, mesmo onde há apenas uma acha incandescente, pode acender-se uma fogueira; que onde apenas se dislumbra uma gota de água pode surgir uma fonte.
 
Há que acreditar na acção do Espírito Santo que, suavemente, estende a sua chama e difunde a sua luz.

                         Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 

sábado, 12 de janeiro de 2013

Ainda o tempo de estudante



Realmente a zona da Estrela está intimamente ligada à minha infância e juventude: A basílica da Estrela, o Jardim, o Liceu Pedro Nunes...
Foi naqueles lugares que se processou o meu crescimento, o meu desenvolvimento intelectual e religioso, a certeza da minha vocação.
Até à 4ª classe estudei em casa. Imagine-se que tive uma professora particular - a D. Ludovina - que, nas proximidades dos exames das 3ª e 4ª classes, me vinha fazer uma preparação mais específica. Sim, que havia esses exames no meu tempo... e passava-se com classificação de Bom ou com Distinção.
Depois, foi o Liceu Pedro Nunes que me acolheu, após o exame de admissão, em que eram escolhidos os melhores para serem admitidos.
Era um liceu masculino em que havia algumas turmas de raparigas não sei bem porquê. Parece que a razão era ser um "liceu normal" o que significava ser um estabelecimento de ensino em que os professores faziam estágios e terminavam a sua preparação para o ensino.
Por ser um liceu masculino e a mentalidade da época assim o exigir, as turmas eram separadas, os recreios independentes e havia lugares onde as alunas não podiam permanecer como os corredores, o campo de jogos ou o átrio de entrada.
Tínhamos bons professores como por exemplo o de Matemática com quem aprendi a dar aulas - o Dr. Leote - e outros menos bons ou mais condescendentes. Foi com um desses professores que fiz a primeira e única aposta em como era capaz de copiar. E fui! Mas claro que no fim disse ao professor o que tinha feito. Só que acho que ele nem acreditou. Eu era muito boa aluna e bem comportada...
Também porque era muito bem conceituada no Liceu é que o Reitor pregou uma descompostura ao contínuo que me levara ao gabinete dele por eu estar num lugar proibido.
Medida pouco pedagógica por parte do Reitor, mas que orgulho para a garota que eu era!...
Havia professoras e professores no Liceu mas essencialmente homens. Das senhoras lembro a Drª Arminda Zaluar Nunes e a Drª Constança Múrias. Qualquer delas me ensinou a gostar de ler e escrever.
Lembro-me também do professor de História que dava aulas para um aluno de cada vez, podendo os outros ocuparem-se no que gostassem... E o professor de Ciências por quem todas as alunas tinham uma paixão platónica... E o professor de Inglês... E o de Desenho...
Era uma equipa e uma estrutura que não só ensinava como ajudava a formar. Por isso e porque tinha valores mais altos que me dirigiam e direccionavam, não saí estragada com os elogios e os direitos que sempre me acompanharam, nos anos que passei no Liceu.
Foram uns tempos extraordinários que lançaram as bases do que sou hoje.
                                               
                                              Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

recordações da vida de estudante



A Basílica da Estrela em Lisboa, mandada construir por D. Maria I e a primeira dedicada ao Sagrado Coração de Jesus é digna de ser visitada e um local para encontros habituais ou inesperados. Já lá encontrei muita gente: velhos conhecidos, amigos, antigas alunas... Outro dia, sem contar, esbarrei com uma antiga colega da Faculdade, da minha "2ª encarnação" (como eu costumo designar o tempo que andei na Faculdade depois de religiosa).
Depois dos abraços, dos cumprimentos, dos beijos, dos "como estás?", "que tens feito?",etc., vieram as recordações mútuas,de há mais de 50 anos. É que eu voltei à Faculdade no ano de 1961/62. Sim, que a "1ª encarnação" tinha sido entre 1953 e 56.
Um tempo sem história ou com outras histórias... Agora, o tempo era outro e as circunstâncias também.
Cheguei muito à vontade, claro! num Outubro ainda a cheirar a Verão. Já conhecia a casa e certamente o ambiente. Era na velhinha Faculdade na R. da Escola Politécnica. Velhinha, sim! mas cheia de tradições com o seu Jardim Botânico, o Observatório Astronómico e o Museu- aula de Botânica.
A minha chegada fez algum sucesso. Não sei se por causa do meu Hábito branco, se por almoçar na cantina com os outros alunos e frequentar a Associação de Estudantes, se por ir às reuniões da JUCF e da Conferência de S. Vicente de Paulo.
Mas também havia quem tivesse algum receio de se aproximar. Uma das minhas grandes amigas de hoje, não gostava nada desta jovem de fatos brancos compridos que, anos atrás, tinha sido colega dos actuais Assistentes.
Mas... eu tinha dos melhores apontamentos das aulas de Anatomia e Ecologia... Isso, aproximou-nos.
Acabámos por estudar juntas e cimentar uma amizade que se mantem até hoje.
Foram anos inesquecíveis! Recordo-os com muita alegria, como os lembrei ao falar com aquela minha colega desses tempos.
O professores... bons e menos bons, como em toda a parte; os sonhos dos jovens que preparavam um futuro; as campanhas de Natal, com os peditórios Avenida da Liberdade abaixo e acima, entrando em quantos estabelecimentos havia; os cafés do meio da manhã, na "General" o nome "artístico" da pastelaria em frente da Faculdade; as matérias que se "empinavam" para "despejar" no exame e esquecer no dia seguinte...
Bons tempos, dizem alguns... Não! Tempos que nos trouxeram alegrias e tristezas mas nos ajudaram a "crescer" e a ser o que hoje somos e que pretendemos que corresponda ao que Deus quer de nós.
                                      Ir. Maria Teresa de Carvalho ribeiro, O.P. 
 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O eu e o nós

A semana passada ouvi falar num livro cujo título me chamou a atenção:
      "Do eu solitário
        ao nós solidários"
Não sei qual é o conteúdo do livro mas pelo título tem todo o aspecto de tratar de problemas económicos, de solidariedade, de contradição entre o ter e o ser.
Até porque hoje em dia cada vez mais vai ser importante a demonstração do que se é, das suas potencialidades, dos valores vividos, em detrimento do que se tem, do poder da riqueza, da acção do dinheiro.
Mas do título do livro fixei-me apenas na primeira parte... o eu solitário... Ela questiona-me em relação às nossas opções fundamentais.
Muitas vezes, quando o ambiente não nos é favorável temos a tentação de optar por um caminho que parece apresentar-se, simultaneamente, como uma necessidade e um dom: o de seguir sozinho o nosso caminho. E levantamos triunfantes a bandeira da nossa opção, justificando: nós e Deus. Eu pelo menos...
Mas, simultaneamente me pergunto  se esta opção é assim tão linear e tão ao encontro da vontade e dos desígnios do Pai. Nós solitários ... e Deus.
Mas afinal Deus não está "sozinho". Ele é Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo...
Quando deu o 1º passo para criar a humanidade, criou-a dupla, Homem e Mulher, porque "não era bom o Homem estar só..."
Quando veio ao mundo ,feito Menino, fê-lo numa família e teve a rodeá-Lo anjos e pastores...
Quando começou a Sua vida pública, escolheu 12 para o acompanharem e seguirem...
Será que a nossa opção de ficar sós, independentes, teoricamente livres para O servir, é a mais correcta?
Às vezes defendemo-nos com o ditado popular " mais vale só que mal acompanhado"... mas, teremos a certeza de que é má a companhia que se nos impõe? Ou seremos nós que ainda não abdicámos do nosso egoismo, da nossa falta de generosidade e não cultivámos a nossa capacidade de perdão?
Deus é Amor e quer-nos alegres e capazes de amar . Será escolhendo a via da solidão que vamos encontrar a capacidade de amar e a alegria de viver?
Ainda não encontrei a resposta plena, mas...
Talvez aqueles que são incómodos estejam à espera que lhes mostremos que vale a pena ... que é juntos que vamos encontar o caminho e o  devemos seguir.
Então... teremos descoberto o "nós solidário".
                                   Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

TUDO VALE A PENA...

Começou o ano. O ano civil porque aqui, em Portugal, não coincide nunca com o ano escolar. Mas começou o ano e com ele acabaram as tão ansiadas férias do Natal.
E com o início do ano recomeçaram as aulas, as actividades, os trabalhos.
Gostaríamos que o ano novo viesse cheio de novidades, de entusiasmo, de alegria e esperança... Mas, a toda a hora a TV e os jornais nos inundam das mesmas tristes notícias, dos mesmos desalentos e da mesma falta de perspectivas:
É a U E e a sua falta de entendimentos;
É o problema do Orçamento e da sua aprovação ou não pelo Tribunal Constitucional;
É a questão da Síria todos os dias mais efervescente;
É!... É!...milhões de pequenas, grandes coisas que ensombram o entusiasmo, a alegria e o amor com que se deve começar um novo ano.
Todos os dias há crianças que nascem e jovens a fazerem promessas de amor; todos os dias há pais que esperam algo dos seus filhos e estudantes que enseiam pelo bom resultado dos seus esforços...
É importante que os ajudemos a acreditar, que lhes demos o nosso testemunho de Fé, que lhes ensinemos a seguir em frente sem medo e sem desfalecer. É necessário que inventemos formas novas de encarar e viver os problemas, que os entusiasmemos a ler e entender os sinais do mundo. Numa palavra: "É preciso fazer novas todas as coisas".
O poeta diz-nos que "tudo vale a pena quando a alma não é pequena". É uma frase antiga que devemos tornar nova neste ano que começa.
E é neste novo ano e com esta "alma grande" que vamos encarar com um entusiasmo renovado e uma esperança nova, os desânimos, os males do século, as crises e as dificuldades.
Porque acreditamos que Deus, que acabou de nascer, está e continua connosco. Com Ele e a Sua Luz faremos "novas todas as coisas".
                         Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.
     
 

sábado, 5 de janeiro de 2013

História antiga

    
                       História  Antiga

                            
                Era uma vez, lá na Judeia, um rei
                Feio bicho, de resto:
                Uma cara de burro sem cabresto
                E duas grandes tranças.
                A gente olhava, reparava e via
                Que naquela figura não havia
                Olhos de quem gosta de crianças.

                                    E, na verdade, assim acontecia,
                                    Porque um dia
                                    O malvado,
                                    Só por ter o poder de quem é rei
                                    Ou não ter coração,
                                    Sem mais nem menos,
                                    Mandou matar quantos eram pequenos
                                    Nas cidades e aldeias da Nação.

        Mas,
        Por acaso ou milagre, aconteceu
        Que, num burrinho pela areia fora,
        Fugiu
        Daquelas mãos de sangue um pequenito
        Que o vivo sol da vida acarinhou;
        E bastou
        Esse palmo de sonho
        Para encher este mundo de alegria;
        Para crescer, ser Deus;
        E meter no inferno o tal das tranças,
        Só porque ele não gostava  de crianças.                   
                                                Miguel Torga

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Celebração dos Santos Inocentes

Na 6ª feira passada foi a celebração dos Santos Inocentes.
Quando eu era nova e estava no início da minha vida religiosa, este era um dia de grande euforia sobretudo para as Irmãs mais novas. Tudo era permitido, desde que não se ultrapassassem os limites.
Suprimia-se o silêncio, alteravam-se as refeições, modificavam-se as estruturas hierárquicas.
E o contraste era tanto maior quanto nessa altura a vida religiosa tinha um cunho de rigor que não lhe conhecemos hoje. Era vida de trabalho, de silêncio, de estudo, de reflexão. E o Advento tornava este ambiente ainda mais sério e rígido que habitualmente .
Logo, um dia de quebra absoluta das convenções e das normas estabelecidas era coisa que não podia passar ao lado das nossas vidas. Era uma altura de descontração total que começava à meia-noite.
As noviças invadiam a despensa que tinha ficado bem fechada mas onde sempre havia uns miminhos deixados de propósito para as nossas patuscadas. Depois, íamos para a cozinha e preparávamos a ceia tentando, no fim, não deixar tudo muito desarrumado. Lembro-me que a minha especialidade era fazer mousse de chocolate com uma tablete que sobrara do Natal. Também era a minha única habilidade culinária...
No dia seguinte, era a noviça mais nova  que fazia de Prioresa, presidia aos ofícios e dava início às refeições. Por vezes, isto era motivo para gargalhada pois a prática era nenhuma e os erros frequentes.
Tudo era diferente nesse dia e bem divertido.
À tarde, habitualmente, havia uma representação improvisada e relacionada com Natal ou a celebração que estávamos a comemorar.
No dia seguinte, tudo voltava ao normal, sem lamentações, sem pena, sem saudades.
Mais tarde, quando a vida conventual começou a ser mais aberta, com mais liberdade e menos limites, estas festas perderam o seu interesse e a sua oportunidade e acabaram definitivamente sem se saber bem porquê.
Realmente é espantoso como a vida mudou e se alteraram hábitos e costumes. Para melhor?
Acho que temos que avaliar prós e contras e não perder o que é essencial.
                                                    Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,OP

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Ontem, Hoje e Amanhã

"Ontem"  foi dia de Natal. Sentiu-se alegria no ar, movimento nas ruas, dirigiam-se, a conhecidos e desconhecidos, votos de Santo Natal. As pessoas estavam animadas, aparentemente felizes.
"Hoje" parece que tudo mudou. Não sei se foi o cansaço, se foi o apagar das luzes, o terminar da música de festa, o silêncio das conversas. O facto é que as pessoas parecem tristes, já não se desejam Boas Festas, já não se cumprimentam alegremente aqueles por quem passamos. Parece que o Natal acabou!...
Mas o Natal não acabou  nem acaba, porque Jesus veio para ficar e está sempre connosco.  Esta é a realidade que nos esquecemos de viver : Jesus veio ao mundo para ficar connosco para sempre. É o Seu Amor que temos que viver e testemunhar sempre.
Natal é Jesus no meio de nós.
E "amanhã" voltamos a ser felizes. É o dia de Ano Novo, a festividade de Maria Mãe de Deus, o dia mundial da Paz.
Novamente as pessoas se saúdam com entusiasmo, se desejam um bom novo ano, se cumprimentam com alegria.
E há entrevistas na rua , pergunta-se às pessoas o que desejam para o novo ano, lê-se o texto que o Papa escreveu para este dia. E há novamente festa, e passas e champanhe à meia noite, e almoço de família... E desejamos um  Bom Ano e esperamos que ele aconteça. Mas afinal o bom ano  não depende de ninguém , nem de leis, nem de estruturas novas, nem de mais ou menos austeridade, nem de discursos ou de greves.
O ano vai ser bom se nós o desejarmos. O Bom Ano depende de nós: da nossa confiança, da nossa alegria, da nossa Fé, do nosso trabalho.
Nada nem ninguém pode fazer o que depende de nós. Comecemos o ano com entusiasmo acreditando que "tudo vale a pena" e que o Menino do presépio está presente e nos sorri.
                                             Ir. Maria Teresa sde Carvalho Ribeiro,O.P.