Cada vez que vou a Lisboa há sempre qualquer coisa de novo para me surpreender. Outro dia, quando estive em casa dos meus pais não foi excepção.
Começara a arrumar umas " traquitanas " que precisava para a minha estadia em Fátima e encontrava-me na fase: Levo? Não Levo? Vou precisar? É melhor levar... quando me tocaram à campainha da porta.
Estranho! pensei. Quem sabia que eu estava em casa? Nem abrira os estores, pois não me ia demorar... Mas, sempre fui à porta. Deparei-me com uma jovem ( já nem muito jovem...) que morava com a família num dos andares do prédio. Lembrava-me vagamente dela...
Começou por fazer uma série de perguntas sem grande sentido ou oportunidade. Pareceu-me logo um pretexto.
Mandei-a entrar e, sem preâmbulos, depois de sentada na sala, começou a contar-me a sua história recente:
Tinha ido, um tanto contrariada, para fora, fazer um estágio de três meses. Mas, entusiasmara-se. Com o trabalho, o ambiente, os elogios, as atenções, um certo bajulamento... E os três meses transformaram-se em dois anos. Deixara tudo: família, amigos, responsabilidades.
Agora estava de férias e tinha tempo para pensar no que deixara, no que trocara. Não sabia que fazer e pensava que eu a podia ajudar.
Sorri! Não tinha solução para o problema. A solução tinha ela que a encontrar, dentro do seu coração e com toda a sua razão.
Eu conhecia demasiado bem essa situação: esta troca do essencial pelo acidental que parece fazer-nos felizes; este deixar o necessário para agarrar o efémero mas que nos dá alegria; o esquecer o importante para deixar que o que não é nos envolva e nos desvie do que seria desejável.
Não dei conselhos mas ouvi e acho que ela entendeu que a decisão estava nas suas mãos e era ela que a tinha que acolher.
Ninguém dá por nós a resposta aos nossos problemas...
Foi-se embora e eu fiquei a tentar resolver "o meu problema" : fazer uma mala com o essencial para quinze dias em Fátima.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, o.p.
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