Não há como as crianças para nos fazerem perguntas simples que se tornam embaraçosas.
Outro dia estava no pátio do recreio conversando com umas pessoas conhecidas, antigas alunas e família, quando uma pequenita aí do 1º ano se chega ao pé de mim e, entre denunciadora e curiosa, me diz:
- Os grandes estão a falar de amor . O que é isso?
Houve um momento de silêncio algo inquietante. Que responder a uma criança de 5 anos? Apeteceu-me dizer a frase de S. Paulo : O amor é Deus , mas seria demasiado transcendente. Então, falei do carinho dos pais para com ela, da estima que ela sentia pelos amigos, doutros "lugares comuns" sempre úteis quando não se sabe o que se há-de dizer.
Ela deve ter ficado satisfeita com a explicação porque se foi embora, a correr, continuar as brincadeiras.
Mas eu fiquei preocupada. Que responderia se fosse uma aluna mais velha a fazer a mesma pergunta? Muitas vezes elas não fazem perguntas destas porque julgam saber tudo a respeito dum assunto que, para elas, se identifica mais com paixão e sensualidade. Mas... e se me perguntassem?
Como a definição que vem no dicionário claro que não me satisfaz, nem a ninguém, procuro nos recônditos da memória algo do que aprendi no meu tempo de estudante de Filosofia.
Lembro-me dum professor que nos apresentou o conceito de amor como manifestação da alma, nas suas três vertentes: conjugal, materno-filial e de amizade. Tentei reler os apontamentos dessa época.Tudo verdade mas tudo muito árido e abstracto. Satisfazia por ventura uma adolescente?
Aliás, penso que mesmo para nós, nessa altura, era simplesmente matéria de exame...
Para os mais velhos é geralmente encarado também como compreensão, entendimento, partilha. Para os jovens é sobretudo visto como afectividade, sexualidade, presença. E para os amigos, é confiança, disponibilidade, diálogo.
Mas se quisermos uma fórmula mágica que engloba tudo isto, temos que abrir a Bíblia e vamos descobrir muito simplesmente que, Deus é amor.
E foi por amor que nos deu o Seu filho que nos fez filhos de Deus.
E este amor, à imagem e semelhança de Jesus, é aceitação das dificuldades, é disponibilidade para tudo e para todos, é perdão, é dádiva.
Fácil tudo isto? Claro que não. Exige esforço, oração, fidelidade.
Mas Jesus ao chamar os discípulos não lhes prometeu uma vida fácil. Simplesmente lhes disse que "grande seria a sua recompensa" .
E essa é também a nossa se amarmos como Ele amou.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
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