Como faço tantas vezes, atravessei o Jardim da Estrela.
À porta, como sempre nesta altura, sorridente, o homem das castanhas.
Mas no fundo, tudo como no tempo da minha juventude - castanhas assadas, com aquele aroma peculiar, vendidas às dúzias em pacotes de papel. Com as árvores do Jardim como fundo, o reflexo do fumo das castanhas que assavam e lançavam para o ar o perfume característico que nos convida a comprar. E o homem, chamando a hipotética clientela que passava, com o pregão tradicional:
" Quentes e boas!"
É o anúncio do Outono que chegou e torna ainda mais apetecível este manjar próprio do tempo. E quanto mais frio está mais somos convidados a comprar estas castanhas quentes que se sorriem para nós com a sua boca aberta num pedido de que as provemos.
São lembranças de sempre as que se evocam nesta porta do Jardim da Estrela. Recordações de quando pequena, pela mão dos meus pais, aguardava impaciente, a nossa vez de adquirir um pacote de castanhas.
Lembranças do tempo do Liceu, quando corríamos para ver quem conseguia chegar primeiro e ter as castanhas mais quentes. Lembro aquele grupo de crianças à nossa volta, olhar de súplica de quem não podia comprar castanhas. E havia sempre partilha, uma a uma íamos distribuindo as nossas castanhas. O sorriso agradecido das crianças era suficiente para nos compensar.
Depois, mais tarde, vida de Faculdade, mas sempre o mesmo apelo das castanhas que ia comendo, lentamente, enquanto me dirigia para casa.
Desta vez, não comprei castanhas.
Mas isso não me impediu de sorrir para o homem e de lhe desejar uma boa venda, enquanto ia recordando outros tempos, outras castanhas, outros vendedores.
Comovi-me ao ouvir o homem dirigir-se-me, respondendo aos meus votos de boa venda, com um triste :" Obrigada, menina!"
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, o.p.
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