Dado que o tempo" não convida a banhos", depois dum passeio à beira - mar vim para casa arrumar papelada que trouxe para me entreter.
Enquanto folheava apontamentos antigos, lembrei-me dum fado cujo refrão era mais ou menos assim:
"Não tenham pena de mim; não queiram mudar o meu norte..."
Em boa verdade, acho que "ter pena" não é sentimento adequado a ter por alguém. Podemos lamentar, achar penosa a situação, ter compaixão, sentir carinho... Mas pena!... cheira-me um bocadinho a caridade sem amor.As pessoas são dignas da nossa amizade, do nosso interesse, do nosso Amor. Pena... não me soa bem como sentimento a ter por alguém. Tem-se pena do gato doente ou do passarinho que não consegue voar. Mas dos amigos, dos conhecidos, mesmo dos que estimamos menos, não devemos sentir pena.
Concordo com o autor do fado que pede para que não tenham pena dele qualquer que fosse a sua situação.
E pensando na pena que o autor não quer e de que eu não gosto, lembrei-me do que ouvi há tempos sobre misericórdia, aquele dom que não é compaixão mas pressupõe antes uma partilha profunda que só Deus consegue mas que Jesus nos convida a tentar a viver como testemunhas de filhos de Deus.
Mas voltando à letra do fado, o segundo verso ainda me levanta mais interrogações : "não queiram mudar meu norte" .Claro que vem na sequência da primeira citação porque quando se tem pena é porque alguma coisa choca, incomoda, parece errada. Logo, a tendência é procurar mudar , julgando que fazemos bem.
E nem sempre o nosso parecer , a nossa opinião é coincidente com aquilo que é bem e bom para os outros. Às vezes o nosso desejo de colaboração e de ajuda excede os limites do que seria útil para o outro.
Não, não podemos ter pena dos que nos rodeiam.
Não devemos querer mudar os seus caminhos. Podemos e devemos ajudar a ver a luz, a seguir o plano que Deus traçou para cada uma
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P..
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