A semana passada li um comentário de Marie-Alain Couturier que teria sido uma observação do Arcebispo de Rouen em referência ao desejo do P. Hermel de ser dominicano. Teria ele afirmado:" Mais um vagabundo para essa Ordem de extravagantes".
Esta observação do Arcebispo pode, à primeira vista, parecer demasiado imprópria e depreciativa em relação à Ordem dos Pregadores. Mas, se pensarmos bem e a lermos no seu contexto histórico, talvez fiquemos com outra opinião.
A Ordem dos Pregadores é uma Ordem dita "mendicante", uma vez que São Domingos queria que os seus frades não tivessem bens próprios, o que não parecia lógico nem comum naqueles tempos. Depois, era uma Ordem fundada para a pregação, onde e quando fosse necessária. Logo, uma Ordem de itinerantes, que se deslocavam de local para local, onde era necessário levar a palavra de Deus.
Ainda, uma Ordem de estudiosos, de homens que tinham assumido que um dos pilares da sua vida era o estudo, ao mesmo tempo que a contemplação e a pregação. Homens que pregavam a Palavra que tinham contemplado e que conheciam através do estudo.
Tudo coisas que, certamente, contrastavam com os costumes e princípios pré-estabelecidos do Arcebispo.
Fácil de compreender, naqueles tempos, esta Ordem de homens que pregavam contra a heresia e o desconhecimento? Homens " sem eira nem beira" que deambulavam e falavam para um público que nem sempre os conseguia ouvir? Não!.. não era fácil. Daí o comentário um pouco agreste e incisivo do Arcebispo de Rouen.
Mas ainda hoje é um pouco assim que se avaliam os Dominicanos... Uma Ordem que se mantem muito livre, aberta aos sinais dos tempos, independente, ciente das suas convicções. Numa palavra, se entendermos "extravagante" sem o sentido depreciativo, talvez não lhe assente muito mal. Mas são extravagantes que estudam , que pretendem deixar uma doutrina sólida e que fizeram muitos santos. Quantos não passarão ao nosso lado tentando "tornar grandes todas as coisas"!...
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.
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