segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ser freira: porquê e para quê

Muitas vezes as minhas alunas me perguntam porque vim para freira e porque escolhi ser Dominicana.
Para ser sincera, à 1ª questão nem sei bem como responder. Acho que tenho sempre utilizado os "lugares comuns" que habitualmente servem nestas ocasiões: gostar de "servir", responder ao apelo, sentir-se realizada, etc.,etc..
 A 2ª pergunta é mais simples de responder. Sou Dominicana porque foram as únicas Irmãs que não me tentaram seduzir nem fizeram nada para que as escolhesse. Outras Instituições Religiosas que conheci, tentaram sempre mostrar-me que era por ali o meu caminho. Então, talvez como reação, à maneira de José Régio, "nunca fui por ali". E cá estou, Dominicana, há mais de cinco décadas.
Mas, voltemos ao princípio, ao momento em que pensei deixar uma família feliz, uma vida universitária, uma roda de amigos, uma série de actividades úteis e que me realizavam.
Tinha 18 anos!...
Conheci, por acaso, as Irmãs do Hospital da Parede. Eram enfermeiras, uma actividade que nada trinha de comum comigo, que estava a estudar Biologia para ser professora. Encantou-me a alegria das Irmãs, a felicidade que manifestavam, o carinho para com os doentes, a simpatia com que me acolhiam. Espantou-me a sua abertura, a capacidade de encarar situações , de tratar de todos os assuntos, de ultrapassar todos os problemas. Entusiasmei-me com o carisma da Ordem, com o interesse que as Irmãs mostravam pelo Ofício Divino, com a simplicidade com que encaravam as dificuldades inerentes à sua condição, com a colaboração que prestavam umas às outras.
Consciente ou inconscientemente, senti o apelo que Jesus fez ao jovem rico : Queres?
E respondi: Sim!...
Deixei tudo e vim, sem olhar para trás.
Ser freira (eis a resposta...) é isso tudo que as Irmãs da Parede me mostraram e é trocar uma família por outra família; uma vida por outra bem diferente. É fazer, livremente, sintonia com a vontade dos outros e aceitar "carregar o fardo dos Irmãos".
É , alegremente, partilhar o que se tem e receber o que se precisa; é dar-se com entusiasmo ao trabalho e aprender a rezar de alma e coração livres.
Ser freira é ser pobre de bens materiais mas rica em graça e em felicidade.
É começar cada dia com entusiasmo e chegar à noite e dar ao Pai o bem que se fez ou o mal que se praticou.
O silêncio, a oração, a partilha, a fraternidade,o estudo, são pilares em que assenta a Vida Religiosa Dominicana e que contribuem para a felicidade que dela emana.
Sou freira há 55 anos e continuo a não me arrepender daquele dia distante em que deixei tudo e vim.


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