quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Os vários tipos de riqueza

A parábola do jovem rico sempre me interpelou e levantou sérias interrogações. Aquele jovem que queria ser perfeito, que julgava que já fazia tudo o que a Lei de Deus lhe mandava e que, no momento de tomar a grande decisão, não tem coragem, questiona-me. Até porque não é caso único... Que lhe faltava? Que lhes falta? Porque hesitam?
" Vai e vende o que tens e depois segue-Me" - disse-lhe Jesus. E foi aí que residiu a questão : Vai e vende... E nós pensamos no despojamento, na renúncia total, no aniquilamento. E achamos que o que faltou ao jovem e a tantos outros foi a coragem de ficar assim pobre, desprotegido, sem apoio, sem recursos. Mas, lendo Albert Nolan, O.P. ficamos com uma impressão um pouco diferente. Ele chama a nossa atenção para o facto de que aquilo que Jesus diz ao jovem não é que fique sem conforto, na penúria, na miséria, ao desamparo. O que Jesus lhe propõe é que troque uma segurança por outra segurança, é que dê o que tem e confie na comunidade dos que seguem Jesus e o vão acolher a ele; que acredite na partilha entre os irmãos; que esteja disposto a receber aquilo que necessita dos que o vão integrar na sua fraternidade, no seu grupo.
Jesus propõe-lhe desprendimento que significa liberdade, de espírito, de coração, de acção.
E isto, não é uma proposta dirigida apenas ao jovem rico. Também serve para nós, que tantas vezes estamos libertos dos bens materiais mas presos a pequenas coisas que nos impedem de caminhar: as nossas ideias, os nossos costumes, os nossos gostos, os nossos projectos.
São cadeias , leves, invisíveis, que nos prendem, que não nos deixam ser livres para seguir o apelo do Pai.
Quando pensamos nesta liberdade não podemos ficar a pensar apenas nos bens materiais. Esses, muitas vezes, são os mais fáceis de eliminar da vida, sobretudo se sabemos o futuro assegurado...
Mais difícil é abdicar do que pensamos e queremos em favor de aceitar as opiniões e projectos dos outros; não querermos ser senhores dos nossos pareceres e planos mas sermos capazes de abdicar deles para integrar o plano de outrem.
É esse desprendimento que Deus nos pede, essa liberdade que Ele nos propõe.Queremos segui-Lo?
                        Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.


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