sábado, 29 de novembro de 2014

Curiosidades

A propósito do Hábito branco dos Dominicanos, lembrei-me da origem da veste branca do Papa que é uma consequência da eleição dum Papa que era frade da Ordem dos Pregadores- S. Pio V e vestia portanto de branco.
Mas talvez porque os frades da Ordem dos Pregadores existem desde o século XIII, e tiveram muitos conventos em Portugal ; talvez porque a Ordem engloba vários ramos : frades, monjas, religiosas de vida apostólica e leigos comprometidos com a Ordem, há em Portugal outras influências. 
Uma, acabei de a ouvir contar...
Conheceis a bandeira da Câmara municipal de Lisboa? 
Lembrai-vos das cores que a formam?
Pois nem mais nem menos do que branco e preto como o nosso hábito dominicano. E isto, por quê?
Talvez haja muitas razões; dão-se imensas explicações, certamente válidas...
Mas uma delas e a que diz quem parece saber, está relacionada com a Ordem Dominicana. Talvez seja invenção, talvez boa vontade de amigos e admiradores, mas não deixa de ter o seu quê de curioso.
Diz aquele conhecedor que se deve a cor da bandeira ao 1º Presidente da Câmara de Lisboa, que era Terceiro Dominicano, um dos tais leigos comprometidos com a Ordem.
Então, por admiração ou como testemunho duma presença,quis que a bandeira da sua câmara tivesse as cores da Ordem a que pertencia: o branco e o negro característicos.
Não tem representada a cruz que surge no emblema da Ordem. Era demasiado!... Mas a disposição das cores pode fazer lembrar essa mesma cruz.
Talvez não seja verdade; pode ser apenas desejo dum   entusiasta; mas, é um dado que sempre nos chama a atenção para uma Ordem que teve e tem a sua acção positiva e insubstituível na Igreja portuguesa.
                 Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Palavras que fazem pensar

" ... Quando deres do teu pão ao que tem fome e saciares a alma do indigente brilhará a tua luz  na escuridão e as trevas serão como o meio-dia " (Is. 58)
Estas palavras de Isaías que acabei de reler com mais atenção fazem-nos reflectir  na necessidade da partilha, na disponibilidade, no interesse pelos que nos rodeiam e nos mostram a sua fragilidade e falta de apoio: porque têm fome, porque necessitam de consolo, de companhia; porque a sua casa é na rua e as suas vestes são velhas e poucas; porque estão doentes e os remédios escasseiam...
São os pobres, aqueles para quem Jesus chama a atenção, afirmando que o que lhes fazemos é a Ele que estamos fazendo.
Aliás, S. Mateus no seu Evangelho, ao relatar o discurso de Jesus sobre o juízo final, torna bem patente a recompensa dos que tiveram no próximo a imagem de Jesus mesmo sem o saber.
Se olharmos à nossa volta quanta pobreza detectamos! Quantos a necessitarem da nossa ajuda!Quantos, mesmo silenciosamente, a implorarem a nossa misericórdia!
Mas não são só os que têm fome , que não têm que vestir, que estão doentes ou presos... Há outros "pobres" a solicitarem a nossa atenção: os que anseiam por cultura, que desejam descobrir o Bem, que gostariam que alguém lhes desse a conhecer a Verdade que é Deus.
Há muitos "pobres" de amizade que precisariam de ter um ombro amigo em que reclinassem a cabeça para chorar. Há outros que precisam dum conselho, duma chamada de atenção, duma observação oportuna mas cujos amigos se retraem com medo de serem importunos ou inoportunos...
Partilhar que é Amar não é só de bens materiais. É também de compreensão, de conhecimentos, de descoberta. E por que não um sorriso, uma palavra de carinho, uma advertência?
Amar... é caminhar ao lado de...
            é estar presente quando...
            é ouvir sempre que...
É dizer a palavra certa no momento certo.
E é ter a certeza  de que sempre que o fazemos ao mais pequenino é ao Senhor Jesus que o fazemos.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, OP

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Dominicanos e Papas

Enquanto procurava entre as minhas "relíquias" uns apontamentos que queria rever, novamente deparei com aquele poema que sempre me emociona :
                                                              "Tenho um hábito branco..."
É que este hábito branco é também o meu , o que enverguei há muitos anos quando assumi um compromisso com Deus e a Congregação.
Mas não foi nisso que hoje pensei. Antes, recordei a veste branca do Papa. Mas o Papa só se veste de branco desde que António Ghilslieri, frade Dominicano, Bispo de Nepi e Lutri e depois Cardeal, subiu à cadeira de Pedro com o nome de Pio V.
Porque pretendia continuar a mostrar ao mundo a Ordem a que pertencia, não quis deixar o seu hábito branco. Daí em diante foi este hábito que se tornou veste papal e hoje é envergada por todos os sucessores de Pedro.
Claro que pouca gente sabe a razão porque o Papa se veste de branco, como a maioria ignora que S. Pio V era frade da Ordem dos Pregadores. E desconhecem também que houve outros Papas Dominicanos - Inocêncio V e Bento XI.
Todos eles  entraram muito jovens na Ordem, muito embora em épocas diferentes: Inocêncio V e Bento XI no século XIII e Pio V no século. XVI. Também a sua nacionalidade era distinta: Bento XI e Pio V eram italianos; Inocêncio V francês.
Mas nada disso os impediu de testemunharem o seu valor e o seu amor à Verdade, apanágio da Ordem a que pertenciam. Tiveram percursos de vida e trabalhos diferentes:
Inocêncio V trabalhou com Sto Alberto Magno e S. Tomás de Aquino no sentido de promover o estudo dos frades dominicanos e não só.
Bento XI distinguiu-se na luta que travou pela restauração da paz em Inglaterra e na Alemanha bem como na reconciliação entre a França e a Sé Apostólica.
S. Pio V teve um papel importante no Concílio de Trento promulgando mesmo o catecismo emanado deste concílio. Igualmente procurou incentivar a formação teológica do clero com base na Suma Teológica de S.- Tomás de Aquino. Foi ele que declarou este santo Doutor da Igreja Latina com a designação de Beato Angélico. A S. Pio V se deve o Breviário e o Missal Romano.
Três homens, três frades Dominicanos, três percursos distintos, três actuações diferentes na vida, mas os três fiéis à mensagem de S. Domingos e à devoção do Rosário.
Inclusivamente foi S. Pio V que, após a vitória de Lepanto, dedicou essa vitória a Maria. Instituiu a festa de Nossa Senhora da Vitória que depois passou a ser a comemoração de Nossa Senhora do Rosário.
Grandes Papas, grandes Dominicanos. São um convite para nós Dominicanos, mas para todos os cristãos, a segui-los  no seu caminho da Santidade.
                       Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, OP

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Memórias

No domingo a Igreja celebrou a Festa de Cristo Rei.
Quando eu era jovem, este era um grande dia para a Acção Católica.
Reuniam-se na Sé todos os dirigentes dos vários ramos da A.C. para fazerem o seu juramento : 
"... Assim prometo e juro e assim Deus me ajude " 
Era pessoal, colectivo e impressionante:
Agrários, estudantes, independentes, operários, universitários,todos juntos num mesmo sentimento e em igual desejo: servir a Igreja e testemunhar o Evangelho.
Saias ou calças azul escuras e blusas azuis claras enchiam a Sé. Todos orgulhosos da missão a que se tinham dedicado e da causa que tinham prometido servir : Jesus Cristo, Senhor e Rei do Universo.
Não sei explicar o que todos e cada um sentia. Só sei que ser da A.C. era algo que modificava a vida e nos fazia ser diferentes. Não nos cansavam as reuniões em que participávamos; não nos enfastiavam as várias acções de que nos encarregavam; não nos sentíamos descriminados, antes orgulhosos por usar um emblema que testemunhava o zelo pelo apostolado que tínhamos jurado praticar.
E vivíamos o Hino que cantávamos: 
                                                      Abram alas, terra em fora
                                                      por entre frémitos de luz.
                                                      Deus nos chama é nossa a hora
                 Àlerta pela cruz....
Foi assim até vir para o convento. Primeiro na JECF e depois na JUCF. Sempre estive "ao serviço"
Ainda me lembro do entusiasmo com que me preparei para receber emblema. Sim! na altura não era brincadeira nenhuma... Havia que se trabalhar em três vertentes "ver, julgar e agir" no nosso meio.O que era necessário fazer e como fazer. Depois, a nossa acção, o nosso empenhamento, eram  apreciados e valorizados ou não.
Bons tempos? Outros tempos!...
Ao vir para o Ramalhão, deixei a Acção Católica. Mas não a esqueci e à influência que ela teve em mim. Até trouxe o emblema que mantenho guardado...
Mas, não alimentei saudades. Outros caminhos se me depararam; outras actividades me esperavam. E ser Dominicana não é um modo de servir a Igreja, espalhar a Verdade, testemunhar o Evangelho? E não tinha o mesmo entusiasmo e o mesmo empenhamento dos meus tempos de estudante?
Os tempos mudaram! A Acção Católica "morreu" ou quase. Outros movimentos surgiram .
Que sirvam a Igreja com o mesmo entusiasmo com que a A.C. a serviu.
                        Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.


sábado, 15 de novembro de 2014

A coragem do Sim

Falar sobre vocação em geral e vocação religiosa em particular não é fácil. Aliás, não é assunto de conversa habitual... Mas, anteontem , com um grupo de mães de alunos aqui do Colégio, não sei como nem porquê, a crise de vocações veio "à baila" . Talvez porque estamos na semana de oração pelos seminários... Enveredámos por aí : a falta de sacerdotes, a idade avançada das Irmãs, o número diminuto de seminaristas e vocações religiosas.
Eis senão quando uma das mães, que tinha sido nossa aluna, se sai com esta : " Eu, quando era jovem, pensei ser religiosa. As Irmãs encantavam-me com a sua atitude e modo de ser. Achava linda a vida das Irmãs. Depois, desisti porque considerei que era capaz de ser demasiado difícil. No entanto, nunca esqueci este meu desejo..."
Todas se riram . Ela é mãe de três crianças amorosas, por sinal... Eu ri-me também mas sem vontade. Para mudar de assunto, usei o velho lugar comum: E quem disse que era simples e fácil seguir Jesus? E entrei numa de falar em problemas de educação, estratégias de ensino, questões de disciplina, etc. Pareceu esquecido o problema da vocação. Mas para mim não estava.
Mais tarde, na capela, voltei a pensar naquela jovem e noutros ,que têm medo do que lhes é pedido. E recordei o "jovem rico" do Evangelho. Tal como a ele, Jesus teria sugerido àquela jovem que deixasse tudo e o seguisse. O jovem, diz o Evangelho, afastou-se triste " porque tinha muitos bens". Também àquela jovem, também a nós, noutras circunstâncias, Jesus diz o mesmo. A ela faltou-lhe a coragem... E a nós?
É que muitas vezes estamos presos a pequenas coisas a que nos acostumámos, que fazem parte do nosso dia-a-dia. Estamos presos, às nossas ideias, ao nosso trabalho, às nossas comodidades.
O que teria afastado aquele jovem de seguir o apelo de Deus? O que afasta tantos jovens a quem o Senhor diz "Vem!" ? O que nos afasta a nós de corresponder a um pedido, de aceitar uma escolha?
É sobretudo o medo do desconhecido, o deixar tudo e seguir sem planos "sem alforge, sem duas túnicas"...
É preciso coragem e essa é a condição.
                             Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A lei dos afectos

Acabei de ler a frase de um santo dirigida a Deus a qual me impressionou: "Não me tires, Senhor, os afectos mas acrisola-os".
E isto, deu-me que pensar. É que o afecto, a manifestação de amor, é uma necessidade da nossa alma. Sem afecto, ficamos secos, duros, estéreis, no sentido amplo do termo. Incapazes de amar e de nos deixarmos amar.
Todos nós procuramos nos outros , nalguns dos outros pelo menos, o campo em que possamos espalhar os nossos afectos, os nossos interesses, as nossas alegrias e angústias. Todos nós temos necessidade de Amigos em "casa" de quem nos refugiemos para partilhar, tal como Jesus com Lázaro, Marta e Maria.
Também o Mestre tinha um "discípulo que Ele amava" , que distinguia dos demais, muito embora não diminuísse em nada a estima que tinha pelos outros.Por isso, não é estranho este pedido dirigido ao Pai: Não me tires os afectos...
Também nós não queremos perder as amizades, ver afastar os que estimamos, "estragar" afectos que dilatam o coração e nos fazem melhores.
Mas claro que todas as Amizades têm que ser "limadas" porque sempre pomos nelas uma quota parte de egoísmo, sempre pensamos  um bocadinho mais em nós e nos nossos interesses que nas dificuldades ou necessidades dos Amigos. Sempre nos preocupamos mais com os nossos interesses imediatos do que com aquilo que era bom ou importante para os outros.
Quantas vezes não ocupamos o tempo dos Amigos com as nossas "coisas" esquecendo-nos que também eles têm coisas para fazer e quiçá para dizer ou mesmo para dar?!...
É por isso que concordo que os afectos têm que passar pelo crisol do respeito, da disponibilidade, da doação, da generosidade.
Mas, Senhor, mantem-nos esta capacidade de amar que é o dom que nos deixaste.
Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

sábado, 8 de novembro de 2014

Tristezas e alegrias da História

25 anos sobre a queda do muro de Berlim! A Alemanha está a comemorar o acontecimento e tem razão para isso. O mundo mudou e ela foi a primeira a testemunhá-lo,
A queda do muro de Berlim não foi só a possibilidade da unificação da Alemanha, a felicidade do reencontro de famílias separadas há 30 anos, o grito de liberdade para todos. Foi muito mais do que isso, porque afectou positivamente toda a Europa, dando-lhe a liberdade de expressão e de vida. E por que não dizer da mudança para todo o mundo? Claro que também houve excessos, erros, deficiências... É inevitável. Mas o saldo é positivo.
No meio de toda a euforia das comemorações, ouvi ontem na TV que alguém tinha retirado algumas das cruzes que, no lugar mítico do muro, assinalavam o sítio em que tinham morrido os que tentavam saltar.
E retirado, para quê? Disse o repórter, para as colocar noutro lugar em que fossem  uma chamada de atenção para o facto de que muitos ainda não têm as mesmas possibilidades do povo da Alemanha.
Realmente ainda muitos homens e mulheres ,no mundo,estão longe de ser livres, de poderem expressar as suas ideias, de viver ao seu gosto, a sua vida.
E é para testemunhar esta realidade que aquelas cruzes foram levadas. Serão colocadas algures num ponto onde indiquem que são a voz dos que não têm voz, são a expressão dos que não podem exprimir-se, são a vida dos que não têm vida própria.
Que não nos esqueçamos nunca de todos esses que o mundo às vezes parece esquecer e, se não podemos fazer mais nada,ao menos podemos rezar  Podemos ter presentes, junto do Pai, aqueles que sofrem , aqueles que não foram abrangidos pela felicidade da queda do muro de Berlim.
                      Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Ao encontro da paz

Paz!... é um desejo que parece nascer no coração de todos os homens. Surge em todas as discussões ou encontros como "pano de fundo" digamos assim.
Reza-se pela paz... os países dialogam em torno do processo de paz... assinam-se acordos de paz... Mas, em contrapartida, os noticiários, os jornais, a rádio, a televisão, bombardeiam-nos com notícias de guerra, de lutas, de mortes.
E tudo isso, estas ideias e acções contraditórias quase nos fazem esquecer aquela outra paz, a paz interior, aquela quietude serena que por vezes nos envolve e nos enche de Deus. Às vezes nos sítios e ambientes mais inesperados.
Recordo sempre com emoção a visita que fiz, uma vez, a uma igreja dum convento que me era desconhecido.
A primeira impressão foi desagradável. Quase me senti esmagada pelo peso do cimento envolvente; chocada com a luminosidade que emanava dos bancos de madeira; admirada com o jardim que se podia observar duma janela lateral.
Tudo estranho. Tudo perturbador. Tudo diferente daquilo a que estava habituada.
Sentei-me diante do sacrário, a única coisa que, desde o primeiro instante ,me deslumbrou, me seduziu. Não sei se me sentei para rezar, para apreciar e compreender o que me rodeava ou, ao contrário, abstrair dessa sensação de desconforto que me inquietava.
Mas a verdade é que, ao olhar aquele sacrário me senti bem, descontraída, envolvida por uma paz e serenidade como há muito não sentia. Esqueci tudo o resto e só agradeci aquela alegria interior que me invadiu.
Já lá vão dois anos mas lembro-me como se fosse hoje e gostava de me sentir como naquele dia, naquela igreja , naquele banco em que parecia ser apenas Deus e eu..
Não sei se rezei,  não me lembro se disse alguma coisa àquele Senhor que parecia olhar-me... Mas do que tenho a certeza é que a Paz, aquela que Jesus nos prometeu,me encheu o coração.
E também tenho a certeza que essa paz não fui eu que a pedi; foi Deus que ma ofereceu e eu a aceitei.
Procuremos abrir o coração a esta paz que é dom, é oferta.
                           Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.