quinta-feira, 30 de junho de 2016

"vem..."


Ao ler ou escrever este verbo lembro-me sempre do "Cântico negro" de José Régio.
São muitos os convites, muitas as solicitações, muitas as hipóteses apresentadas. E o maior convite é mesmo o que Deus nos faz.
O Evangelho dum destes domingos falava deste convite, do seguimento de Cristo: " Quem quer ser meu discípulo..."
E não se referia apenas a pegar na cruz de cada dia. Era talvez exigente em aspectos concretos : " deixa que os mortos enterrem os seus mortos..." " Quem põe a mão no arado e olha para trás..."  
Talvez não possamos atender a tudo isto de uma maneira absoluta. Há que contar com as nossas fragilidades, tentações e liberdade. E depois, há sempre uma interpretação mais abrangente...
Mas o que não podemos esquecer é que Deus tem que estar antes e acima de tudo o mais. Se O pomos como centro e cúpula das nossas vidas, então o "olhar para trás"  é um pormenor; o querer ir despedir-se da família ou enterrar os seus mortos" são as fraquezas a que nos prendemos, mesmo involuntariamente, as solicitações que deixamos que sejam mais fortes que o nosso querer.
Deus fez-nos um apelo, antes de tudo à santidade
Paremos para pensar o que , em cada dia, nos prende, nos solicita, nos leva a "olhar para trás", nos impede de seguir o Pai.
 Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Reencontro

Mais uma vez voltei àquela Igreja dominicana onde me senti tão estranha mas tão bem.
Realmente há demasiado cimento,demasiada madeira talhada abruptamente, um sacrário a meio do espaço, ao lado duma janela estreita que dá para um jardim.
Do outro lado, uma janela rasgada mostrando um fundo verde lindíssimo.
Tudo diferente do que estamos habituados e, ao princípio parece que nos vamos sentir abafados, esmagados, demasiado pressionados...
Mas depois... que bom! Que sossego, que ambiente intimista, que pequenez naquela grandiosidade... E ficamos nós e Deus.
Não importa se a Igreja está cheia, se se está a velar um Irmão defunto, se há uma Missa com um grupo de Dominicanos... Nada disso tira a certeza de que estamos ali, nós e Deus, presente naquele sacrário.
Mais uma vez, uma experiência que não esqueço e enche o coração, mesmo quando há inquietação e dor e
neurastenia...
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

Festa na Vila

Solenidade de S. Pedro e S. Paulo
Aqui em Sintra, é simplesmente a festa de S. Pedro com feriado e tudo. É o " santo popular " comemorado nesta zona, "com pompa e circunstância".
E, realmente, S. Pedro merece ser evocado por todos nós.Era um homem simples, pescador de profissão, um homem a quem Jesus mudou o nome de Saulo para Paulo, e percebemos porquê.
Não era grande a sua Fé mas era um indivíduo de entusiasmos: " Senhor que eu ande sobre as ondas..." E foi. Mas o medo fê-lo perder o pé e quase se afundar.
Era medroso e por isso negou o seu Mestre: "Não O conheço..." 
Mas a sua capacidade de arrependimento era igual à do seu entusiasmo.
Foi por reconhecer as suas virtudes que Jesus fez dele o primeiro chefe da Sua Igreja.
Modelo para nós, tentemos segui-lo e acompanhá-lo na sua confiança, mesmo quando errou.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Os convidados reticentes

Nos anos 80 do século passado havia uma canção muito frequente nos encontros religiosos cujo refrão dizia assim: 
         Muitos são os convidados
         Quase ninguém tem tempo
         Se ouvires a voz do vento
         Querendo-te enganar
         A decisão é tua
Estes versos remetem-nos, talvez, para a conversa de Jesus com o jovem rico: "vende o que tens... e segue-me"; faz-nos pensar nas palavras do Evangelho: "muitos são os chamados e poucos os escolhidos"; ou no convite do Mestre a Zaqueu: " desce da árvore que quero jantar em tua casa"...
A todos foi dirigido o convite. A resposta é que dependeu  da vontade, do discernimento, da luz de cada um deles. 
A todos nós, baptizados ou não, é dirigido o convite de seguir o Senhor: "muitos são os chamados..." Por quê "poucos os escolhidos"? Será que, "quase ninguém tem tempo" para pensar no convite que lhe é feito? Ou é o vento que nos engana?... Jesus a excluir alguns é que não é de certeza... 
Talvez, como o jovem rico, tenhamos demasiados bens a que estamos apegados... Bens, que podem não ser os económicos. Antes, egoísmo, orgulho, vaidade, que sei eu... E esses, não nos deixam ver a luz, aquela que levou Zaqueu a descer da árvore, ir preparar o jantar e mudar de vida.
Não "ouçamos a voz do vento querendo-nos enganar". Pensemos que a vida depende dos sins e dos nãos  que somos chamados a dizer.
Ir. M. Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Festas especiais

Hoje a Igreja celebra a Festa de Santo António de Lisboa.
Os italianos bem querem que ele seja de Pádua e lá o veneram com "grande pompa e circunstância". E realmente,Santo António dedicou grande parte da sua vida à pregação em França e Itália. 
Mas o facto é que foi em Lisboa que ele nasceu, entrou nos cónegos regrantes de Santo Agostinho e se fez depois franciscano.
Hoje, é o padroeiro secundário de Portugal e os portugueses têm-lhe imensa devoção. Claro que se misturam devoções religiosas com práticas de cariz popular... mas isso é próprio do nosso povo.
Santo António não é o santo casamenteiro e o advogado das causas perdidas?!...
A sua igreja, junto da Sé de Lisboa, é das mais visitadas pelos turistas, sobretudo neste mês dos "santos populares".
Que como ele saibamos pregar a Palavra entre os que dela necessitam.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.

domingo, 12 de junho de 2016

Mudar

" Os teus pecados são-te perdoados. Vai e não peques mais".
Foram as palavras de Jesus à mulher pecadora que O abordou no jantar em casa do fariseu.
São as palavras que o sacerdote nos dirige, em nome de Jesus, de cada vez que nos vamos confessar.
" Os teus pecados são-te perdoados".
Por maiores que eles sejam... por maior número de vezes que os repitamos... por mais difícil que seja enumerá-los...
Porque temos, então, tanta dificuldade em nos confessarmos? Porque é difícil entrar dentro de nós e dizer: pequei....
Mas, de cada vez que nos arrependemos e ajoelhamos aos pés do sacerdote, para lhe dizer o que de mal fizemos, ouvimos sempre as mesmas palavras: " Os teus pecados são-te perdoados"
Até porque Jesus não se cansa, não se aborrece, não se indigna, não vira as costas...
Ele está lá sempre, pronto para nos acolher, animar, perdoar.
Nós é que nem sempre estamos dispostos a ouvi-Lo e seguir o Seu apelo.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

sábado, 11 de junho de 2016

Anjos

Ontem foi o dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas.
Houve mesmo direito a uma celebração bi- partida entre França e Portugal, com o presidente francês a condecorar duas portuguesas que se distinguiram quando dos atentados em Paris.
Esta condecoração, por ser de portugueses por um presidente francês, foi um facto inédito de quebra de protocolo...
A Igreja, por sua vez, celebrou o Anjo de Portugal.
E não podemos deixar de ter presente que os anjos sempre tiveram um papel importante, quer no Antigo quer no Novo Testamento.
"Eis que um Anjo chega e diz a Maria que vai ser Mãe do Filho de Deus..." É um coro de anjos que desperta os pastores para que vão adorar o Menino recem-nascido... E são dois anjos que anunciam, aos que chegam ao túmulo,  que Jesus ressuscitou: " Não está aqui; ressuscitou!..."
.E, no século passado, foi  um anjo que preparou as três crianças para a visita de Maria...
Que o Anjo de Portugal esteja atento ao desenrolar dos acontecimentos no país que ele protege. E que nós, portugueses, saibamos pedir a sua intercessão e confiar nela.
 Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Sugestões

Frei Felicísimo Martínez,O.P. ao escrever sobre o projecto fundacional de S. Domingos, nomeia, embora de maneira diferente, os quatro conhecidos pilares:  

. A dimensão contemplativa e a experiência de Deus;
. A pobreza, fraternidade-irmandade e a radicalidade do             Evangelho;
. A vida apostólica e a urgência da Missão
                                                      . O anúncio da Palavra e a prioridade da Evangelização.

Mas depois, acrescenta algo de novo: a inserção 
E dá como exemplos de um tipo especial  de inserção, que devemos considerar, a cura do cego Bartimeu, a conversão do publicano Zaqueu e, mais do que tudo, o mandato aos apóstolos para que se dirijam à Galileia onde se encontrarão com o Ressuscitado. 
A Galileia, uma zona simples, longe da tradição dos judeus.
E a pergunta que nos põe é : qual será a nossa Galileia, aquela  onde nos encontraremos com o Senhor Ressuscitado? Será que já temos resposta?
Irmã Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.


terça-feira, 7 de junho de 2016

Espantos e esperanças

Esta manhã abri a Bíblia e mesmo sem saber a razão dei comigo a ler o Apocalipse. Este é um livro intrigante e algo assustador mesmo, se não o pudermos interpretar. São demasiadas tragédias para um livro só!...
Muita gente vê aquelas profecias como acontecimentos que ainda se vão dar num futuro mais ou menos próximo. Há mesmo quem arrisque pronunciar-se sobre uma data. Não é verdade que o "fim do mundo" esteve anunciado para o ano 2000? Já lá vão 16 anos...
Não é certo que alguns relacionam tsunamis, tremores de terra, atentados, etc. com profecias descritas no Apocalipse?
Mas, alguns exegetas, estudiosos conscientes, declaram que o livro profético de João  se destinava às gentes daquele tempo e que as profecias nele descritas eram o anúncio de acontecimentos que se verificaram, como a queda do Império romano ou o incêndio de Roma.
Podemos então perguntar  qual a razão de se assustarem aqueles povos, já com tanto medo e perseguidos, com histórias tão aterradoras.
Talvez porque, simultaneamente, elas dão uma lição de confiança e tentam espalhar a esperança de um "novo mundo" que vai surgir. Estas profecias são a promessa de que as dores vão acabar e são o prenúncio duma Igreja que vai nascer e dum povo - os cristãos - que vai florir.
O Apocalipse pode ser um livro de profecias aterradoras mas também deve ser um testemunho de esperança. Procuremos nele a Palavra de Jesus Cristo e a promessa da Sua vinda e presença.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.


segunda-feira, 6 de junho de 2016

Suspiros inúteis

Faltam ainda dois meses!
Dois meses para me poder estender ao sol; dois meses para poder apreciar a beleza da paisagem marítima; dois meses para mudar de ambiente, de rotina, de espaços. 
Faltam ainda dois meses!... e apetece-me suspirar desejando que estes 60 dias, não! 56... passem depressa.
Ainda por cima com um dia tristonho como o de hoje...
Mas, em boa verdade, não tenho o direito de me lamentar nem de suspirar pelas férias.
Claro que eu gosto da praia, do cheiro a maresia, da areia quente, dos passeios sem destino, das reflexões à beira mar ...
É evidente que a nesga de azul que descortino da minha janela é demasiado pequena para traduzir a imensidão do mar...
Mas... Não tenho uma paisagem verde a rodear-me? Não abro a janela e não me invade o aroma da erva fresca? Não possuo alamedas selvagens que convidam a passear?...
E não há tanta gente que não tem nada disto? E, pior, não tem férias?
Bem posso dar graças a Deus e aproveitar estes dois meses de espera, sem suspirar pelo outro que há-de chegar.
Ir. Maria Teresa de Carvalho Ribeiro,O.P.              

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

Neste dia,vivamos com Jesus bem presente no meio de nós.
Ele que deu a Sua vida por nós e permanece presente para nos acolher e apoiar.
Mas, neste dia, não posso também deixar de recordar a Madre Sagrado Coração de Jesus.
Foi minha Prioresa, aqui no Ramalhão, e depois Superiora geral.
Todas lhe conhecemos as capacidades, o carinho, a compreensão que tinha para com todas e cada uma.
Morreu inesperadamente num acidente de automóvel.
Não prometeu, como S. Domingos, ser-nos mais útil depois da sua morte, mas sempre contei com isso.


quinta-feira, 2 de junho de 2016

Beijo... símbolo de ternura?

É raro o dia em que a rádio ou os jornais não nos chamem a atenção para um dia especial ou para alguém que passou esquecido no tempo. Por isso, não é de estranhar que a rádio, o mês passado, tenha anunciado, com ênfase, o "dia internacional do beijo".
Comecei por achar estranho mas depois pensei: há tantos dias especiais, que é só mais um.
E fiquei a raciocinar sobre os inúmeros sentidos que podemos dar a um beijo. Habitualmente, dar um beijo significa um gesto de amizade, de carinho, de amor. Qualquer coisa que explicita o que se sente e se quer transmitir. Às vezes quer simplesmente marcar uma presença e dar força a quem dela precisa.
Mas, de repente, pensamos naquela passagem do Evangelho que narra o encontro de Judas com Jesus. E a nossa imaginação constrói a cena desse beijo que foi o sinal da traição que levou o Mestre até Pilatos e à Sua posterior condenação e morte.
Claro que o dia internacional não quer salientar estes beijos que traduzem fingimento e traição... só que não os podemos afastar e esquecer. Mas podemos lembrar outros beijos bem diferentes. Por exemplo os que  Teresa de Calcutá dava a cada enfermo, a cada moribundo que encontrava no seu caminho...
 Neste Ano da Misericórdia, que os nossos beijos traduzam a nossa ternura , a nossa amizade e a nossa compreensão para todos os que precisam delas.
Irmã Maria Teresa de Carvalho Ribeiro, O.P.